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50|50: a diversidade que estimula a criatividade



Mulheres e espaços de
criação são duas questões dificilmente encontradas lado a lado. As áreas de
liderança na publicidade ainda são ocupadas majoritariamente por homens
brancos, que silenciam a opinião de mulheres talentosas, pois acreditam que o
lugar delas não é na criação. Esses relatos não são comuns apenas no mercado,
mas também nas próprias universidades, em que os alunos produzem comportamentos
autoritários muitas vezes sem ter a percepção.

Professora Juliana Petermann

A explanação da
professora Juliana Petermann, do departamento de Ciências da Comunicação,
durante o evento que reuniu estudantes, professores e profissionais da
publicidade para debater a diversidade nos espaços de criação, demonstra muito
do que as mulheres estão acostumadas a enfrentar no mercado de trabalho, não só
publicitário, mas em todas as áreas de atuação. A falta de equidade entre
mulheres e homens foi presenciada pela própria professora, durante um festival
ocorrido em Gramado neste ano.

Percebendo que apenas
quatro dos 29 palestrantes eram mulheres, Juliana logo percebeu a contradição
com a temática do evento, ancorada no slogan “Nunca a diferença fez tanta
diferença”. Não só a majoritária presença masculina intrigou a professora, como
também o fato das palestrantes terem sido convidadas a discursar sobre assuntos
relacionados a gênero, enquanto os homens estavam escalados para discorrer
sobre negócios e publicidade.

Inspirada por essas
questões, Juliana Petermann idealizou o projeto 50|50 – Abrindo portas para a
igualdade de gênero na publicidade
. “A ideia do projeto 50|50 surge da noção de
que a criatividade só vem da diversidade e eu não tenho como
resolver questões de criatividade sem ter um ambiente mais diverso”, declara a
professora, que também observa a necessidade de pensar não só o mercado de
trabalho, como também a própria sala de aula, como espaços que instiguem a busca
pela diversidade.

O projeto é formado apenas por alunas que,
durante todo o semestre, participaram de rodas de conversa e oficinas
ministradas apenas por mulheres, para que as estudantes pudessem potencializar
seus talentos na área da criação. Juntamente com a professora, elas
desenvolveram a marca do projeto, o slogan e outras atividades relacionadas a
ele.

O evento, realizado na quarta-feira, 13, foi
celebração da fase final do projeto. O público pode conferir dois painéis realizados
pela manhã: Pajubá diversidade e 65|10 – Novos papéis da mulher na publicidade.
A programação da tarde contou com workshops ministrados pelas duas redes de
consultoria,

Gustavo Bonfiglioli e Ariel Nobre

Pajubá,
Diversidade em Rede

Chamados para fazer uma campanha
publicitária para a Avon, Ariel Nobre, artista visual, e Gustavo Bonfiglioli,
jornalista, se viram cercados por um elenco que incluía negras, gordas lésbicas
e mulheres e homens transgêneros. Até então, a campanha que propagava a
diversidade através do produto anunciado, tinha cumprido com o prometido, pois
a marca demonstrou preparo em conduzir o projeto.

No entanto, ao longo do processo, Gustavo
e Ariel perceberam que a representatividade era, de fato, uma questão tratada
com importância, mas que não existia autonomia de representação. “Quem estava
por traz das câmeras? Homens, brancos, heterossexuais, cisgêneros. Quem era o
diretor, roteirista, a equipe do set? Majoritariamente homens, brancos,
heterossexuais, cisgêneros. Por mais que essas pessoas tenham sido de fato
preparadas para aquilo, por que que não é a nossa comunidade que também está
ali atrás das câmeras?” questiona Gustavo que afirma que a comunidade LGBT não
é a responsável por construir as suas próprias narrativas.

Esse trabalho foi o ponto de partida para
o surgimento da “Pajubá”, rede de consultoria com foco LGBT que não apenas
prepara as empresas para representar a comunidade, mas que também busca a
transformação estrutural desses profissionais, para que pessoas com
deficiência, LGBTs, mulheres, negros (as) e tantos outros ocupem, de fato,
esses espaços. “A publicidade pauta a opinião pública, a cultura, o que é norma
e o que não é. O nosso maior objetivo é estarmos lá pautando isso”, comenta
Gustavo.

A exposição de Ariel e Gustavo no painel
foi centrada na importância da diversidade que, segundo eles, é a principal
força motriz da criatividade. Ela amplia repertórios e faz com que, através do
contato com o outro, amplie o auto-conhecimento de ambas as partes envolvidas e
construa profissionais melhores. Além disso, Ariel é categórico em afirmar que
contratar poucas pessoas transgêneros não representa a diversidade. De igual
forma, a equidade entre homens e mulheres, brancos(as) e negros(as), mas em
baixos cargos de chefia, não significa a busca pela inclusão. Assim, a Pajubá
busca entender as vulnerabilidades de suas redes, como a diversidade negra, e
pensar em conjunto com as empresas formas de representar a diversidade.

Maria Guimarães e Thais Fabris

65|10 – Novos papéis da mulher na
publicidade

Duas mulheres, Maria Guimarães e Thais Fabris, acostumadas a
serem sempre as únicas femininas nas agências publicitárias, encontraram-se e
refletiram sobre a quase inexistência de outras mulheres nos espaços de
criação. A desigualdade entre os gêneros ficou evidente nos números encontrados
em uma pesquisa realizada por elas: 65% das mulheres não se identificam com os
modos como são representadas na publicidade; e apenas 10% dos cargos de criação
nas agências são ocupados pelas mulheres.

Os números não serviram apenas para provocar a reflexão, mas
para inspirá-las e dar nome à rede de consultoria “65|10”, especializada em
comunicação com e para mulheres. O objetivo da rede, criada por Maria e Thais,
é auxiliar agências de publicidade a se comunicarem com o público feminino e
reestruturar a representação das mulheres nas propagandas. Durante os dois anos
de criação da empresa, a rede já desenvolveu o projeto “Meninas Fortes” em
conjunto com a Nescau, lançou a Cerveja Feminista e produziu o trabalho
“Mulheres Invisíveis”, um banco de imagem que visa dar protagonismo a mulheres
negras, gordas, lésbicas e transexuais, que são muito pouco vistas nas
campanhas.

No evento, as painelistas mostraram o trabalho desenvolvido pela
65|10 e ainda trouxeram outros dados que comprovam o quanto a equidade entre os
gêneros deve ser sempre buscada. Além disso, elas ressaltaram o quanto é
importante existir mais mulheres ocupando cargos de criação. “Todos os espaços
criativos são os espaços onde são tomadas decisões sobre como vai ser o mundo.
Então a criação das agências, embora outras áreas também participem dessa
tomada de decisão, é onde é decidido o quê e como vai ser dito”, comentam.

Apesar de grande parte dos dados não serem positivos, existem
três vetores que, trazidos pela Thais e Maria, mudaram o cenário feminino nos
últimos 15 anos. O primeiro deles é que a renda das mulheres cresceu 70% em 12
anos, evidenciado no segundo vetor, que é o fato delas possuírem cada vez menos filhos e terem mais escolaridade do que os homens.“Isso faz com que a gente possa estar em outros ambientes
profissionais e que tenhamos mais conhecimentos para demandar direitos”,
concluem.

O terceiro vetor apontado pela painelistas está ancorado no uso
da Internet, que proporcionou, não só às mulheres, mas a outros grupos ditos
minoritários, possibilidades de se reunir e fortalecer os movimentos entre
várias pessoas. “Atrás da internet, qualquer pessoa é um veículo de
comunicação, qualquer pessoa pode escrever um post e isso se tornar viral, e
essa voz chegar a pessoas que nunca tiveram acesso a essas vozes”, comemoram
Thais e Maria, que já observam mudanças estruturais na sociedade.

Texto: Gabrielle Ineu Coradini, acadêmica de Jornalismo e
bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Victória Lopes, acadêmica de Jornalismo e bolsista da
Agência de Notícias

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