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Docente da UFSM é contemplado na primeira chamada do Instituto Serrapilheira



Felipe RicachenevskyO professor Felipe Ricachenevsky, do Departamento de Biologia do CCNE, foi um dos contemplados na primeira chamada do Instituto Serrapilheira, o primeiro instituto privado de apoio à ciência no Brasil, que tem foco na pesquisa de jovens inovadores.

Ricachenevsky foi um dos 65 contemplados no país todo, entre quase dois mil inscritos, de todas as áreas de conhecimentos. O valor final financiado pelo projeto é de R$ 92,5 mil. 

Único contemplado da UFSM na chamada do Instituto Serrapilheira, ele fala, na entrevista abaixo, sobre seu projeto e a importância deste reconhecimento.

Em que consiste o projeto contemplado pelo Instituto Serrapilheira?

Ricachenevsky – O projeto tem o título “Searching for better grains: genome and genus-wide ionomics profiling of rice diversity for fast delivery of iron and zinc enriched grains“. Nosso objetivo é resolver um problema grave da nutrição humana: a falta de ferro e zinco na alimentação. O arroz é um alimento consumido diariamente, e em alguns países é fonte quase exclusiva de calorias. Populações que têm pouco acesso a alimentos ricos em ferro e zinco sofrem mais, o que, infelizmente, é mais comum em países mais pobres, subdesenvolvidos, mas o problema também afeta os mais desenvolvidos. Portanto, se conseguíssemos identificar variedades de arroz mais ricas para estes nutrientes, o benefício para quem consome muito arroz seria enorme. Para se ter uma ideia, fornecer mais ferro e zinco por meio de plantas enriquecidas é considerada uma das melhores maneiras de investir dinheiro em pesquisa, segundo um grupo que reúne alguns dos maiores economistas do mundo.

Projeto prevê a análise de parentes selvagens, não cultivados, do arroz

A maneira como propusemos encontrar uma solução é relativamente simples, e envolve duas abordagens: na primeira, vamos analisar os parentes selvagens, não cultivados, do arroz. O arroz, ou Oryza sativa, foi domesticado há cerca de 10 mil anos, a partir de poucas plantas de uma espécie selvagem chamada Oryza rufipogon. Por isso, a variabilidade dentro da espécie Oryza sativa para qualquer característica é bastante restrita. Como o gênero Oryza tem outras 24 espécies que ocorrem em diversos ambientes diferentes, nossa ideia é avaliar se essas espécies não apresentam a característica de alto ferro ou zinco nos grãos. Serão avaliados mais de 15 ecotipos (derivados de locais diferentes ao redor do mundo) de cada espécie. Se identificarmos essa característica, podemos introduzi-la no arroz cultivado, ou até mesmo descobrir se não é possível cultivar a espécie selvagem. Ou seja, vamos olhar de volta para a natureza.

Na segunda abordagem, vamos utilizar uma coleção de plantas que tiveram seu DNA alterado aleatoriamente, produzidas pela Drª. Pamela C. Ronald. Antes que isso cause sustos, a técnica utilizada para essas alterações é a mesma que vem sendo utilizada na agricultura no mundo todo há muitos anos, sem nenhum problema. Não se trata de organismos geneticamente modificados, termo que costuma causar medo quando mencionado. Essas alterações são feitas como as que geraram as variedades modernas de arroz, milho e trigo, consumidas há mais de 50 anos por nós. E podem, por sorte, ter gerado uma planta que naturalmente acumule mais ferro ou mais zinco (ou os dois) nos grãos.

Para fazer isso, vamos fazer aquilo que chamamos de “ionômica”: quantificar, simultaneamente, 22 elementos químicos em cada amostra de sementes. Serão quase duas mil avaliações, que serão feitas em parceria com a Universidade da Califórnia, em Davis, com a Dr. Ronald, e da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, com o Dr. David Salt.

Como surgiu a ideia de participar da chamada?

Ricachenevsky – A ideia de participar da chamada surgiu assim que fiquei sabendo da mesma. O Instituto Serrapilheira divulgou a chamada e logo ficou claro que eles estavam focando em propostas mais audaciosas e inovadoras, diferentes dos financiamentos comuns que costumam financiar projetos um pouco mais “seguros” E com o foco em jovens pesquisadores, já que quem defendeu o doutorado há mais de 10 anos não poderia submeter. Além disso, eles queriam financiar poucos projetos com um montante relativamente alto, pois querem focar em excelência. Assim, entendi que seria um bom edital para propor uma ideia bastante diferente e abrangente.

Quais os próximos passos do trabalho desenvolvido pelo senhor após essa conquista?

Ricachenevsky – Na verdade, os próximos passos já estão acontecendo. O projeto envolve a ida de um aluno do nosso grupo para a Universidade da Califórnia, em Davis, para realizar o cultivo das plantas no laboratório da Drª. Pamela Ronald. Esse aluno deve estar lá em algumas semanas. Também estamos realizando parcerias com um instituto nas Filipinas e talvez com colegas na Austrália para analisar um número maior de espécies e ecotipos do gênero Oryza. Isso tudo está sendo feito em parceria entre a UFSM, UFRGS, Univates e o IRGA daqui do Rio Grande do Sul, mais os parceiros lá fora. Será um ano intenso.

Qual a importância desse reconhecimento para a UFSM? Quais benefícios serão trazidos para a Universidade?

Ricachenevsky – Acredito que é sempre importante ter o nome da UFSM entre os financiados em propostas de qualquer tipo, e esta, que apoiou apenas 65 entre quase duas mil propostas, sendo somente três do RS e uma da UFSM, mais ainda. É uma demonstração de que podemos fazer trabalhos de qualidade internacional aqui, e principalmente, que temos ideias e propostas que são competitivas em qualquer nível. Esperamos que o grupo possa continuar obtendo financiamentos desse tipo e dando sua contribuição para o crescimento da Instituição. Além disso, acho importante que iniciativas como a do Instituto Serrapilheira sejam cada vez mais comuns. Precisamos de mais apoio à ciência no país, e novos modelos de financiamento são muito bem-vindos.

Também gostaria de mencionar os colaboradores que serão essenciais na condução do projeto: a Prof. Márcia Margis, a Prof. Janette Fett e a Prof. Andreia Turchetto-Zolet, da UFRGS; o Prof. Raul Sperotto, da Univates; a Dr. Paloma Menguer, pesquisadora na UFRGS; os alunos que fazem parte dos nossos grupos; e os dois colaboradores estrangeiros, o Dr. Salt e a Dr. Ronald. Ciência se faz em parceria, e muitas pessoas estarão envolvidas nos experimentos. Já agradeço a todos de antemão. 

Fotos: Divulgação


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