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UFSM Inaugura Casa do Estudante Indígena



Inauguração do primeiro bloco teve celebração dos estudantes e lideranças indígenas.

A Universidade Federal de Santa Maria inaugurou nesta sexta-feira (14) a Casa do Estudante Indígena Augusto Ópẽ da Silva. Participaram do ato a representação estudantil indígena da UFSM, lideranças indígenas do Rio Grande do Sul, Funai, o vice-reitor Luciano Schuch e representantes de pró-reitorias e setores da universidade. A casa fica localizada  ao lado do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), no campus de Santa Maria.

O bloco inaugurado possui três andares, com uma área total de 1.244,16 m². A casa oferece 96 vagas de moradia, exclusiva para estudantes indígenas,  e capacidade para abrigar 96 estudantes. Finalizada no início de 2018,  Casa do Estudante Indígena já está sendo ocupada por 66 acadêmicos desde março, oriundos de sete povos originários: Guarani Mbya, Kayowa, Kaingang, Terena, Xakriabá eTupinikim.  Foram investidos na construção e no mobiliário da casa aproximadamente R$ 1,8 milhão. O projeto ainda prevê a construção futura de mais três blocos semelhantes no espaço.

A cerimônia foi marcada por apresentações culturais e celebração, que começou na quinta-feira (13), com recepção das lideranças indígenas e ritual kaingang. Já na cerimônia inaugural, lideranças indígenas e representantes da universidade afirmaram que a  casa é resultado direto das políticas afirmativas que, desde 2008, visam o acesso da população indígena à Universidade, a permanência e formação dos estudantes indígenas, que tem cumprido o papel de garantir e aprofundar a diversidade dentro das instituições públicas de ensino superior brasileiras.  

Bloco inaugurado tem capacidade para 96 pessoas. Atualmente, 66 estudantes indígenas vivem na casa.

 A Casa do Estudante Indígena foi colocada em pauta em 2014 pela Comissão de Implementação e Acompanhamento do Programa Permanente de Formação de Acadêmicos Indígenas (CIAPPFAI), e a aprovação do projeto aconteceu em 2015. De acordo com Rodrigo Mariano, estudante de Direito da UFSM e liderança estudantil indígena, a conquista do espaço é resultado de mais de 10 anos de reivindicações e articulações entre povos originários, universidades e poder público: “Esta casa não é um favor, é uma conquista dos indígenas, com várias etapas, desde a concepção das políticas, até a ocupação da Reitoria em 2014”, afirmou. Este processo de luta resultou na política de vagas para estudantes indígenas, o processo seletivo indígena e se consolida na inauguração da casa.

Augusto Ópẽ da Silva: um legado para os estudantes indígenas 

Uma liderança indígena decisiva neste processo na UFSM foi o líder kaingang Augusto Ópẽ da Silva, falecido em 2014. Oriundo da comunidade kaingang de Iraí, Antônio foi uma liderança destacada na luta indígena em diversos lugares do estado e do país, principalmente em Santa Maria. Em 2008, criou a CIAPPFAI , comissão que deste então coloca em pauta na universidade todas as reivindicações dos povos originários. A Casa do Estudante Índigena foi nomeada em homenagem à Antônio Ópẽ, como um sinal de reconhecimento à liderança decisiva nas conquistas dos estudantes indígenas. 

Cacique Natanael Claudino (esquerda), presidente da CIAPPFAI, e Rodrigo Mariano, liderança estudantil indígena

O atual presidente da Comissão, o cacique Natanael Claudino, destacou a liderança e a filosofia de Augusto Ópẽ: “As universidades estão em um processo de construção. Elas estarão prontas quando começarem a trabalhar as diferenças. Estamos começando a construir uma universidade aberta para todos”, afirmou. Natanael destacou  a necessidade da comunidade acadêmica conviver e conhecer os estudantes indígenas, para que compreenda as suas reivindicações. 

O cacique Natanael chamou a atenção para o crescimento da presença indígena na UFSM durante um processo que começou há apenas dez anos: Em 2008, o número de vagas para estudantes indígenas era de apenas três. Atualmente, 66 estudantes indígenas ocupam a Casa. De acordo com o pró-reitor substituto da Pró-reitoria de Graduação, Jerônimo Tybusch, há um total de 80 estudantes indígenas, entre moradores da Casa e estudantes que vivem nas aldeias da região.

Em 2018 foram abertas 23 vagas para o Processo Seletivo Indígena, com uma vaga para o campus de Frederico Westphalen e uma vaga para Palmeira das Missões.  “66 pode ser um número pequeno comparado com a amplitude da UFSM, mas antropologicamente é um número enorme por tudo que significa em representatividade”, lembrou o professor Ascísio Pereira, da Pró-Reitoria de Extensão. 

Atualmente, os estudantes indígenas estão em diferentes cursos de graduação, como Direito, Educação Física, Matemática e Pedagogia, chegando até na pós-graduação, com um estudante de mestrado no Centro de Ciências Rurais da UFSM. Segundo o cacique Natanael, as vagas para estudantes indígenas são debatidas numa articulação entre Universidade e os diferentes povos originários, que reivindicam vagas em cursos específicos, de acordo com as demandas das aldeias. O próximo passo é a articulação política para vagas nos cursos de pós-graduação. 

kujà Jorge Kagnãg Garcia, líder espiritual indígena

A cerimônia de inauguração ainda teve a presença de lideranças indígenas de diferentes povos. Os representantes foram unânimes em celebrar a conquista, mas também de que é apenas um primeiro passo: “é uma confraternização pelo primeiro passo dado como resultado  de luta para que os filhos da nossa terra tenham atendimento de qualidade e para que se sintam dentro de suas próprias aldeias”, afirmou o representante da Reserva da Guarita, Osmar Maurício Sales. 

Continuação do projeto da Casa Indígena aguarda recursos federais 

O vice-reitor da UFSM, Luciano Schuch, destacou que a Casa do Estudante Indígena da UFSM é um projeto audacioso, que marca a presença indígena na instituição. Reafirmou o compromisso da UFSM com a diversidade e a necessidade de lutar por políticas públicas de acesso ao Ensino Superior, pois é necessário que a sociedade reflita dentro da Universidade. O vice-reitor ainda destacou o trabalho das incubadoras Social e Tecnológica da UFSM e do PET Índigena. 

Já o pró-reitor de Assuntos Estudantis, professor Clayton Hillig afirmou que, para além do reconhecimento dos povos originários, a Universidade, com seus laboratórios e infraestrutura, tem muito conhecimento a ser adquirido em diálogo com os estudantes indígenas: “os laboratórios de Engenharia podem aprender muito sobre bio construção, a Agronomia sobre plantas medicinais, a Química, com os compostos das ervas usadas nos rituais”. 

Também participaram da cerimônia de inauguração, a chefe do Núcleo de Ações Ações Afirmativas Sociais, Étnico-Raciais e Indígenas da UFSM, Rosane Brum Melo e a representante da Funai, Maria Inês de Freitas. 

De acordo com Luciano Schuch, o futuro do projeto de ampliação da Casa do Estudante Indígena da UFSM ainda depende da liberação de recursos federais.  A proposta da Universidade é construir outros três prédios semelhantes, na mesma área, dispostos em forma de círculo, simulando uma aldeia indígena. A área central, entre as edificações, seria destinada à realização de rituais e usada como espaço de convivência. Apesar de projetadas, as obras dos demais blocos ainda não tem previsão de execução.

Reportagem: Davi dos Santos Pereira
Fotografias: Andressa Menezes


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