Desde abril a UFSM participa de um grupo de instituições federais gaúchas (UFPel, UFRGS, UFCSPA e Unipampa) em um esforço conjunto para a avaliação do percentual de contaminação pelo novo coronavírus na população do Rio Grande do Sul. Coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, o estudo Epidemiologia da Covid-19 (Epicovid19) teve resultados da sua quarta fase divulgados em coletiva online na última quarta-feira (27), nas redes sociais da UFPel. Os resultados sugerem um quadro de estabilidade da prevalência de pessoas com anticorpos nas últimas semanas no Rio Grande do Sul. Também foram apresentadas informações inéditas sobre a pesquisa Epicovid19-BR, que coletou dados em 133 cidades brasileiras em todo território nacional de 14 a 21 de maio.
No estado, a quarta fase da pesquisa apresentou resultados importantes: uma baixa prevalência do coronavírus, com um infectado para cada 562 habitantes (0,18% da população com anticorpos) e uma estimativa de 1.778 infectados reais para cada um milhão de habitantes, contra 580 casos notificados. O estudo indica que o aumento de testagem diminuiu a subnotificação para três casos não notificados para cada caso notificado. Em fases anterioress, as estimativas já foram de 12 para cada caso notificado.
A letalidade baseada no total de casos é de 0,97% (197 mortes para cada 20.226 casos). Considerando somente casos notificados, a letalidade é de 3,0% .O estudo é aplicado em nove cidades-sentinela e apontou nesta etapa oito testes positivos em Passo Fundo (quatro) Uruguaiana (dois), Pelotas (um) e Porto Alegre (um).
Recepção do estudo em Santa Maria
Em Santa Maria, o núcleo de apoio formado na UFSM realizou o recrutamento, a seleção dos entrevistadores, apoio com a infraestrutura necessária para o treinamento e para a condução da pesquisa na cidade, além de articulação com as autoridades locais e imprensa.
O núcleo de apoio docente da Epicovid19 na UFSM é formado pelas epidemiologistas Marinel Dall’agnol e Rosângela da Costa Lima, do Departamento de Saúde Coletiva, o pró-reitor de pós-graduação e pesquisa, Thiago Ardenghi, e o professor Alexandre Schwarzbold, infectologista do Departamento de Clínica Médica. A cada inquérito, 25 entrevistadores iam à campo com o apoio de cerca de 14 pesquisadores. Ao todo, 59 voluntários participaram de todas as etapas da pesquisa.
De acordo com Marinel Dall’agnol, a maioria dos voluntários em Santa Maria são profissionais da saúde: dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, veterinários, nutricionistas que cursam pós-graduação na UFSM. Também há estudantes de graduação dos cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem, além de estudantes de graduação de outras instituições de ensino superior de Santa Maria (menor número). Também participam da equipe de voluntários, professores do Departamento de Saúde Coletiva, Fisioterapia, Odontologia, enfermeiros e técnicos em enfermagem do Hospital Universitário.
Segundo a epidemiologista, há uma boa recepção das famílias santa-marienses à pesquisa de campo. Dall’agnol relata que a primeira etapa do estudo apresentou mais dificuldades de realização, pois havia mais receio da população em receber os voluntários em suas casas, seja por precaução de não receber desconhecidos ou medo do risco de contaminação. A pesquisa em Santa Maria também precisou enfrentar notícias falsas que circularam nas redes sociais a respeito do estudo. Entretanto, a partir da segunda etapa, intensificou-se a divulgação na imprensa local e ainda houve o apoio da sociedade, com um intenso engajamento nas redes sociais.
Como o teste é realizado?
A epidemiologista explica o funcionamento dos testes aplicados na pesquisa Epicovid19: “O teste rápido consiste na coleta de uma gota de sangue a ponta do dedo e este teste vai falar sobre a presença de anticorpos no organismo da pessoa para o coronavírus. Essa resposta do organismo ao coronavírus vai aparecer cerca de 8 a 15 dias depois do contato com o vírus. Se o teste fosse positivo, todas as outras pessoas da casa faziam o teste e essa informação era repassada para a vigilância epidemiológica do município, que assumia então a condução desses casos positivos. A pessoa era orientada sobre o isolamento necessário e era deixado um folder na casa dessas pessoas”.
Como o estudo é organizado?
Com a primeira etapa realizada nos dias 11 e 12 de abril, o estudo incluiu 9 cidades em 4 inquéritos consecutivos a cada 15 dias, nos finais de semana, send o primeiro em 11 e 12 de abril. Em cada cidade foram 50 entrevistas. De acordo com Dall’agnol, em Santa Maria o total foi de 1961 entrevistas.
A amostra foi aleatória, com sorteio de 50 setores censitários em cada cidade. Em cada setor eram
sorteados 10 domicílios e em cada domicílio era sorteado uma pessoa para aplicação do teste rápido, além de uma entrevista realizada através de um aplicativo que permite a gravação, fotografia do teste e envio em tempo real para análise na UFPel. De acordo com a coordenação da pesquisa no estado, haverá mais quatro fases do estudo até do dia 16 de agosto, com previsão para mais 18 mil testes.
Reportagem: Agência de Notícias da UFSM e TV Campus
Fotografia: Arquivo pessoal-Marinel Dall’agnol