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Pesquisadora da UFSM lidera projeto de tecnologia que reconstrói campo de detenção da ditadura argentina



Esforço multidisciplinar e variadas fontes ajudam a reconstruir um dos principais pontos do aparato repressivo nos arredores de Buenos Aires (Imagem: Reprodução)

Um software de realidade virtual que reconstrói um dos principais centros clandestinos de detenção, tortura e extermínio no período da ditadura cívico-militar na Argentina pode ajudar a elucidar crimes contra a humanidade em julgamento ainda em andamento no país vizinho. A tecnologia foi desenvolvida pela professora Dra. Virginia Vecchioli, antropóloga e docente dos programas de pós-graduação em Ciências Sociais e em Patrimônio Cultural da UFSM. A professora participou como testemunha em audiência realizada no dia 21 de abril no Tribunal Oral Federal nº1 e o dispositivo foi usado como prova a pedido da acusação.  

Conhecido como “El Campito”, o centro de detenção reconstruído em detalhes pelo software ficava dentro da Guarnición de Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires. Aquele centro esteve em funcionamento do início de 1976 ao final de 1978, e foi um dos maiores da Argentina – estudos estimam que entre 2 mil a 3,5 mil pessoas passaram por ali; em outras fontes consta um cálculo de até 5 mil pessoas. O Campo de Mayo também abrigava uma maternidade clandestina e outros campos de confinamento, constituindo um amplo aparato repressivo do qual só sobreviveram 25 pessoas. 

Projeto multidisciplinar busca esclarecer a repressão e prezar pela memória das vítimas

O projeto de reconstrução do “El Campito” começou em 2015 e foi apresentado ao público em 24 de março de  2018, aniversário do golpe militar de 1976. Surgiu com o intuito de contribuir com a compreensão das características da repressão em Buenos Aires e para ajudar a manter viva a memória das violações aos direitos humanos, para que nunca mais se repita esta história. Desde 2018, o tour virtual, feito em escolas de ensino médio, faz parte das atividades em homenagem às vítimas. Além disso, em 2019, o dispositivo interativo recebeu menção honrosa do Fundo Nacional das Artes da Argentina na categoria patrimônio imaterial.

O projeto conta com uma equipe interdisciplinar de antropólogos, sociólogos e museólogos da Universidade Nacional de General Sarmiento e a Equipe Huella Digital, um grupo de especialistas em ciências da computação e desenho de imagens audiovisuais, com sede na Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo (FADU) da Universidade de Buenos Aires  (UBA).

Atualmente só restam ruínas dos prédios do “El Campito”, que foram propositalmente destruídos pelos militares. Para construir sua versão virtual em detalhes foram utilizados 90 depoimentos de testemunhas disponíveis nos processos judiciais, depoimentos de sobreviventes em arquivos audiovisuais, fotografias aéreas, documentos do arquivo da comissão da verdade (CONADEP), mapas aéreos, dados das fundações dos prédios obtidos pela equipe de antropologia forense, sentenças judiciais, livros de história, autobiográficos, e entrevistas realizadas com sobreviventes do centro clandestino. 

Metodologia pode esclarecer crimes políticos e tragédias como a da Boate Kiss

Mesmo com o processo criminal em andamento, a professora Vecchioli observa três contribuições do dispositivo. “Ele permite fazer aparecer no espaço virtual um lugar que foi destruído na realidade física; o centro clandestino ingressou na sala de audiências e foi conhecido por todas as partes, procuradores, advogados da defesa, da acusação e os magistrados; e, por último, os sobreviventes e outros testemunhos puderam fazer referência ao espaço construído do centro clandestino quando estão descrevendo para o tribunal as suas experiências”, explicou.

Conforme a diretora do projeto, a participação na audiência oral virtual coloca em evidência a robustez do trabalho realizado, assim como a importância de gerar conhecimentos e produtos de impacto direto na sociedade a partir de uma aliança inovadora entre metodologias de pesquisa próprias das ciências sociais com linguagens das ciências da computação e do desenho virtual.

Ainda, segundo a professora, o trabalho poderia ser utilizado para recriar outras experiências de violência ou tragédias coletivas. Um exemplo é o caso da tragédia da Boate Kiss, em que seria importante replicar a experiência, principalmente diante do júri. Se o tribunal pudesse contar com uma recriação digital da boate, as testemunhas teriam a possibilidade de localizar onde estavam no momento do incêndio e acompanhar todo o testemunho com o apoio do dispositivo virtual. 

No site do projeto é possível acessar o tour virtual, uma galeria de fotos do local e outras informações. A gravação do depoimento da professora Virginia Vecchioli na audiência e apresentação do projeto está disponível no YouTube.

Reportagem: Ana Laura Iwai, bolsista de Jornalismo da Agência de Notícias
Edição: Davi Pereira

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