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UFSM em REDE: os desafios e as dificuldades em ensinar e aprender

De professores a alunos, cada um enfrentou suas próprias limitações para dar continuidade ao aprendizado durante a pandemia



Com ganhos e perdas, o modelo de Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE) foi o caminho encontrado para a continuidade das atividades durante a pandemia de Covid-19. O desafio seguinte a ser enfrentado era a execução. É normal que, após todo o período, o REDE tenha deixado resquícios, resta saber e analisar quais deles são bem quistos pelos professores e estudantes. É o que a segunda reportagem da série sobre o UFSM em REDE aborda.

A tecnologia bateu na porta

As aulas do 1º semestre de 2020 haviam começado há exatamente uma semana na UFSM quando tudo precisou ser suspenso. O planejamento que havia sido feito precisou ser alterado e novas lógicas acadêmicas precisaram entrar em vigor muito rapidamente. Francisco Cougo, docente do departamento de Arquivologia da UFSM, avalia que a experiência de ensinar e aprender durante a pandemia foi naturalmente difícil. O semestre já havia sido planejado levando em conta a presencialidade, e a necessidade de migrar para a plataforma digital repentinamente gerou problemas para os quais não havia se planejado. O professor elenca três desafios enfrentados pela nova dinâmica de ensino: o estresse gerado pelo próprio contexto de calamidade na saúde pública; a dificuldade de gerir um regime de ensino a distância sem nenhum planejamento prévio; e a própria ausência de infraestrutura para a realização das aulas.

Francisco relata que o primeiro semestre de 2020 foi o mais dificultoso. “Inicialmente, nem professores nem estudantes tinham equipamentos adequados, nem instrumentalização básica para a realização das aulas. O acesso à internet também era limitado. Como ficamos quatro semestres neste regime, evidentemente houve tempo para adequações e adaptações, ainda que sempre com muitos prejuízos”, avalia.

Além disso, outro problema elencado pelo professor está relacionado às rotinas de ensino-aprendizagem: “É como se estivéssemos diante de um ingresso triplo, pois temos turmas de 2020, 2021 e 2022 que recém agora estão conhecendo a Universidade, seus métodos e suas oportunidades”, afirma.

Luciane Sanchotene, professora do departamento de Desportos Coletivos da UFSM, avalia que este período trouxe dificuldades e também oportunidades: “Houve pontos negativos, principalmente para um curso de Educação Física, em que os alunos ficaram dois anos sem a prática da natação, do atletismo, do esporte coletivo, dentre outros, mas também houve muitos pontos positivos que eu penso que ficarão”, afirma. 

Os projetos desenvolvidos por ela conseguiram ter uma boa adaptação ao modelo virtual, como o Esporte Universitário, que originalmente oferecia aos acadêmicos a oportunidade de praticar diversas modalidades esportivas. Na pandemia, esse trabalho continuou, com as aulas via Google Meet. Além disso, pessoas sem vínculo com a UFSM puderam participar. “Muitos alunos pediram, foi muito importante essa prática naquele momento tão difícil do isolamento que estávamos vivendo”, conta. Luciane também promoveu cursos em diferentes temáticas e organizou eventos virtuais. Durante o período remoto produziu vídeos para os servidores em trabalho remoto sobre assuntos como a postura da coluna, como respirar corretamente e exercícios possíveis de se fazer em casa.

O impacto nos estudantes

Para os estudantes, o cenário não foi diferente. Houve aqueles que aprovaram e se adaptaram ao novo modelo com mais facilidade, mas, também, muita dificuldade foi encontrada.

Andréa Ortis, doutoranda em Comunicação, avalia que, dentro de sua realidade, o REDE foi bastante produtivo. “Quando iniciou o REDE, já estava na metade do doutorado e com disciplinas bem específicas, voltadas para a organização do projeto de tese, que é bastante teórico. As aulas foram pontuais, com foco total nas apresentações dos projetos e orientação dos professores, além da participação dos colegas que, mesmo que estivessem em uma tela de computador, conseguiam dar dicas valiosas para que os projetos conseguissem ser desenvolvidos da melhor forma possível”, relata.

No entanto, a acadêmica reconhece que tem essa visão pois está em uma área que possui um viés teórico acentuado, o que permite com que possa desenvolver suas atividades à distância. “Minha experiência só foi positiva porque o doutorado em Comunicação possui viés teórico, diferentemente de áreas das ciências agrárias ou exatas, por exemplo. Caso contrário, não teria a mesma opinião. Não consigo imaginar ser aluna de um curso com aulas práticas sendo feito remotamente, afinal seria dentro de um laboratório, com a instrução direta de um professor, que eu aprenderia a desenvolver um produto”, reflete. 

Essa mesma perspectiva é compartilhada pela Pró-Reitora de Pós-graduação e Pesquisa, Cristina Nogueira. Na sua visão, após as dificuldades iniciais de organização ao novo modelo remoto, as áreas teóricas tiveram ganhos mais expressivos com o uso das tecnologias, no entanto, o principal impacto negativo foi nos cursos de pós-graduação que possuíam muitas aulas práticas, atividades experimentais ou trabalhos de campo para realização das pesquisas. Algumas dessas atividades não tiveram como ser totalmente transportadas para o modelo em REDE, o que ocasionou atraso no tempo de conclusão dos cursos além de um déficit na formação presencial, diz Cristina. 

No entanto, Andréa argumenta que de modo geral, devido ao contexto emergencial em que foi implantado o REDE, considera que ele teve um saldo positivo, e possibilitou com que as atividades acadêmicas tivessem continuidade. Além disso, também pensa que foi uma forma importante de manter o vínculo dos estudantes com a universidade, mesmo que a distância. No entanto, ela ressalta a importância de se pensar o sistema de forma específica para cada área de ensino, levando em conta suas demandas e rotinas de trabalho e pesquisa.

Para a estudante de Engenharia Química Renata Gulart, o período em REDE foi desafiador no sentido humano, visto que ela gosta de ter pessoas por perto, inclusive isso a ajuda a se concentrar melhor nos conteúdos das aulas. Por outro lado, os anos de ensino remoto proporcionaram a ela estar mais ativa em diferentes projetos, como empresa júnior, grupo de pesquisa, dentre outros. “No presencial, isso é mais difícil, porque temos uma carga maior de atividades e aulas, enquanto no REDE havia uma flexibilidade sobre o que fazer e quando”, explica Renata. 

Outro ponto de vista é trazido pelo acadêmico de Direito Luiz Bonetti, que indica haver três esferas que foram perpassadas no período do REDE. A primeira é a mesma elencada por Renata: a saúde mental, afetada pelo isolamento que impedia o encontro com outras pessoas. “A falta de relação pessoal foi um ponto relevante para mim, pois sempre fui uma pessoa sociável”, explica. Por sua vez, o Whatsapp se tornou maior e mais influente na sua vida, mas não da melhor forma. Isto é, tornou-se difícil separar o profissional do pessoal. 

O segundo ponto para o estudante diz respeito ao ensino propriamente dito. Antes da pandemia havia uma forte defesa do ensino tecnológico em prol da presencialidade. Durante, porém, ficou visível que o ensino remoto não é suficiente e prejudicou a formação e capacidade de aprendizado para muitos. Para ele, esse movimento gerou evasão de estudantes, sobretudo pela questão da inclusão digital, acesso a tecnologias e equipamentos. Já a terceira esfera modificada pela pandemia, segundo Bonetti, foi a assistência estudantil, especialmente pelo fechamento do Restaurante Universitário.

Mesmo em perspectivas diferentes, tanto Andréa quanto Renata e Luiz concordam sobre a importância da presencialidade, da necessidade de repensar pontos do modelo REDE e do uso das tecnologias na educação. “Conseguimos ter uma prova da importância do ensino presencial, ao qual as tecnologias devem contribuir, mas não substituir”, pondera Luiz. Andréa ainda destaca que é preciso avançar no uso que se faz das ferramentas digitais: “Acredito que o modelo deve ser melhor pensado para o futuro, inclusive realizando mais capacitações para os professores, pois ministrar aulas de modo remoto é completamente diferente que se fossem feitas olho no olho”.

O fantasma da evasão

O professor Francisco lembra que um dos grandes problemas do período foi a desistência de alunos, principalmente pela dificuldade em acompanhar as aulas virtuais. “Vimos muita gente desistir nesta etapa, porque só contavam com smartphone simples e conexão limitada, o que dificultava muito a realização de leituras e trabalhos”, relata. Além disso, o docente também pontua que em virtude da crise econômica e das incertezas da pandemia, muitos estudantes preferiram trancar suas matrículas e retornar somente quando o cenário estivesse mais seguro, o que gera um esvaziamento na universidade. Essa perspectiva também é compartilhada por Luiz Bonetti, que entende que as dificuldades apresentadas neste contexto impactam na capacidade dos estudantes em acompanharem as aulas e participarem de projetos. 

Jerônimo Tybusch, pró-reitor de graduação, concorda ao afirmar que é fato que com a crise atual muitos alunos precisaram ajudar suas economias domésticas e de sustento. Por essa razão, a Pró-Reitoria incentiva que as coordenações de curso façam acompanhamento àqueles alunos que param de frequentar as aulas. Além disso, as ferramentas para o acadêmico trancar o curso foram flexibilizadas, para que ele possa agir com maior mobilidade e, futuramente, retornar à Universidade. “Nós estamos fazendo um trabalho de recuperação desse aluno que não apareceu no REDE e nem no presencial agora. Estamos incentivando os cursos a entrarem em contato para recuperá-lo”, destaca.

Potencialidades a serem exploradas

Ainda que o período tenha sido de dificuldades, algumas possibilidades se mostraram pertinentes e devem ser exploradas. Francisco indica que um dos pontos positivos deste cenário foi uma aceleração na digitalização de rotinas. Além disso, também destaca que um ganho foi a possibilidade de integração maior entre cursos e outras universidades. “Antes, nos parecia meio exótico que uma banca de TCC fosse realizada remotamente, ou com participantes online. Agora isso nos parece absolutamente normal e esse é um avanço positivo”, pontua.

Na mesma perspectiva, Luciane avalia que um ganho foi a abertura das disciplinas que leciona para a participação de alunos de outras instituições. Ela conta que teve um número maior de alunos de outros cursos, como Medicina, Fisioterapia ou Terapia Ocupacional. “Tive o prazer de poder aumentar essa prática multiprofissional que eu já venho realizando também no meu grupo de estudos”, diz, referindo-se ao Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação dos Exercícios Físicos e Saúde, o Nemaefs.

As reuniões online proporcionaram a Luciane ir além de seu alcance, como quando pôde participar de eventos internacionais como palestrante. Aliado a isso, essa ausência de mobilidade permitiu a ela participar de bancas com professores de outros estados e nações. Nisso, ela ressalta como o ponto de vista econômico é beneficiado, com passagens de avião e diárias de hotéis poupadas. “Teve até alunos que começaram e concluíram uma pós-graduação na nossa Instituição sem precisar vir para Santa Maria, isso facilitou a vida de muita gente”, pontua.

Ponto convergente entre todos é que o uso da tecnologia no ambiente acadêmico é um caminho sem volta. No entanto, ainda há pontos que precisam ser aperfeiçoados para um melhor uso dos benefícios que ela pode trazer, já que, por um lado, pode ser limitante, e por outro, pode potencializar ações. Os gestores afirmam que a discussão sobre o tema é contínua na Universidade, e mesmo que o REDE não esteja mais em vigor, é necessário estar atento para as necessidades do contexto e oportunidades que podem surgir.

Na próxima matéria da série serão abordadas algumas potencialidades que o modelo virtual trouxe, fazendo com que a UFSM cruzasse fronteiras.

Texto: Gabrielle Pillon, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Foto de capa: Daniel Michelon de Carli
Edição: Mariana Henriques e Ricardo Bonfanti, jornalistas

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