Quinzenalmente, cerca de 30 crianças com altas habilidades têm a oportunidade de se reunirem no Centro de Educação (CE) da UFSM para aprimorarem seus talentos com profissionais especializados nas áreas de biologia, realidade aumentada, robótica e artes. A iniciativa busca pôr em evidência esse grupo de estudantes pouco observado pela sociedade e que precisa ser estimulado de formas diferentes do restante das crianças.
Segundo a responsável por coordenar o projeto de extensão desde 2016, Tatiane Negrini, pessoas com altas habilidades, também conhecidas como superdotadas, não devem receber somente os estímulos de ensino que o restante dos alunos ganha, porque sua capacidade de aprendizado é maior. Nesse sentido, elas precisam de uma educação que seja desafiadora, para que não percam o interesse, como explica Tatiane: “as atividades têm como intuito promover um espaço de enriquecimento do currículo, procurando estabelecer um ambiente desafiador a elas [crianças super habilidosas]”. Uma das formas de enriquecer o ensino dessas crianças é por meio da oferta de propostas suplementares, que vem para complementar o currículo regular dos jovens. Isso pode ser feito por meio de atividades intracurriculares, ou seja, em sala de aula com o aprofundamento dos conteúdos, ou extracurriculares, quando as ações são feitas fora da sala de aula, como em salas de recursos multifuncionais, ou em projetos externos.
Assim, ao ingressar no projeto, as crianças podem escolher um dos quatro campos de estudo trabalhados pela iniciativa da UFSM, conforme suas afinidades, já que “a superdotação pode se dar em áreas isoladas ou combinadas; o aluno não precisa ser bom em tudo’’, explica a Coordenadora. Além disso, as atividades do projeto se dividem em diferentes níveis: exploratório, em que os jovens tentam conhecer mais a respeito da temática; aprofundamento, quando o professor consegue trazer conhecimentos novos, junto a parte técnica do assunto; ou então, eles são incentivados a problematizar uma questão e, posteriormente, desenvolver um projeto de pesquisa, para estimular a criatividade.
Somado a isso, o GEIM também promove palestras e formações com educadores da área para pais e docentes dos jovens superdotados, com o objetivo de ensiná-los a como incentivar e qualificar o processo de inclusão educacional dos jovens adequadamente.
Tatiane reforça que, se as crianças não forem estimuladas, “elas podem se tornar alunos entediados, frustrados e desestimulados com o contexto da escola”, por isso o enriquecimento da aprendizagem é tão necessário, para que elas se mantenham satisfeitas com os estudos.
Como identificar uma criança com altas habilidades?
De acordo com a Coordenadora do projeto, “crianças com superdotação se destacam em relação a sua facilidade de aprendizado, comparado às outras da mesma idade, ou que desempenham as mesmas atividades”. Tatiane esclarece que há três traços da superdotação que devem ser levados em conta ao analisar se alguém possui ou não altas habilidades: a criatividade ao expor suas ideias; o envolvimento e interesse com tarefas preferidas; e o nível acima da média em certas habilidades, comparado com os colegas. Além disso, jovens superdotados, geralmente, desempenham papéis de liderança e possuem maior afinidade com pessoas mais velhas, em contraponto aos demais da mesma idade.
Professores e psicólogos são preparados para identificar superdotados, mas a família e até mesmo a própria criança podem realizar uma observação inicial. A exemplo disso, a mãe de dois jovens com altas habilidades, Giana Friedrich, relata como ocorreu a identificação da superdotação do primeiro filho: “meu filho mais velho, hoje com 21 anos, entrou no projeto anterior ao GEIM, o PIT (Programa de Incentivo ao Talento), com 7 anos, e depois migrou para o programa atual. Ele sempre foi muito inteligente, com um grande talento musical, mas na escola apresentava inúmeros problemas. Então, uma professora da UFSM questionou se ele não seria superdotado, e assim ingressamos no projeto e compreendemos sua superdotação. […] Quando meu filho menor nasceu, eu mesma identifiquei os indicadores, pois agora já estava instrumentalizada no assunto.”
Giana comenta também sobre os benefícios que participar do grupo causou na vida de seus filhos, como a oportunidade de conviver com outras crianças superdotadas e permitir que a família aprenda sobre as particularidades da criança, o que faz com que “ela cresça em um ambiente que a compreende e a auxilia a desenvolver suas potencialidades e resgatar suas carências.”
Como participar?
Devido ao êxito já alcançado com a iniciativa, no início do próximo semestre da UFSM, em março de 2023, o grupo dará continuidade aos encontros quinzenais e novas crianças (de 7 a 13 anos) poderão integrar o projeto. Para participar, basta entrar em contato com a equipe, através do e-mail: projetosahsd@gmail.com.
Texto: Laurent Keller, acadêmica de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Tatiane Negrini
Edição: Mariana Henriques, jornalista