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Pesquisadores da UFSM descobrem fóssil que muda paradigma da origem dos dinossauros e pterossauros

Estudo é capa da edição mais recente da Revista Nature, um dos principais periódicos científicos do mundo



O Venetoraptor gassenae viveu por volta de 230 milhões de anos atrás
(Ilustração: Caio Fantini)

A descoberta de um novo fóssil na região central do Rio Grande do Sul traz pistas inéditas sobre a origem de dinossauros e pterossauros ao revelar que essas criaturas evoluíram a partir de uma amplitude de formas muito maior do que se pensava. O achado foi feito por um grupo de pesquisadores de diferentes países, liderado por paleontólogo do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e está descrito na edição desta quarta (16) da revista “Nature”, um dos mais importantes periódicos científicos do mundo.

Dinossauros e pterossauros são alguns dos organismos fósseis mais populares. Eles dominaram a Terra durante a Era Mesozoica por aproximadamente 165 milhões de anos, sendo extintos 66 milhões de anos atrás, após o impacto de um enorme asteroide. Enquanto a extinção desses animais sempre foi tema de muitos estudos, as suas origens ainda são pouco compreendidas. Isso ocorre em virtude da escassez de fósseis de seus precursores, os quais são muitas vezes incompletos, fragmentários e mal preservados. Como resultado, até hoje não se sabia como era o plano corpóreo completo, a biologia e a ecologia desses precursores. Contudo, um fóssil escavado no território do Geoparque Quarta Colônia, na região central do Rio Grande do Sul, traz novas e importantes pistas sobre essas questões. 

Descoberta no município de São João do Polêsine, em 2022, pelo paleontólogo do Cappa/UFSM Rodrigo Temp Müller, a nova espécie recebeu o nome de Venetoraptor gassenae. “Venetoraptor significa o raptor de Vale Vêneto, em referência a uma localidade turística chamada de “Vale Vêneto” no município de São João do Polêsine. Já o nome “gassenae” faz homenagem a Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis pela criação do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia.

Como era o Venetoraptor

A nova espécie media aproximadamente 1 metro de comprimento, pesava entre 4 a 8 quilogramas, e locomovia-se adotando uma postura bípede, tendo as mãos livres para manusear presas ou escalar árvores. O animal carrega uma combinação de características incomuns, como um bico raptorial e mãos proporcionalmente grandes que são munidas de garras longas e afiadas.

O pequeno réptil viveu por volta de 230 milhões de anos atrás e pertence a um grupo extinto chamado de Lagerpetidae. Esses animais são considerados os parentes mais próximos dos pterossauros, os répteis voadores que dividiram a Terra com os dinossauros. Porém, diferente dos pterossauros, o Venetoraptor gassenae e os outros lagerpetídeos não foram animais voadores.

Esqueleto e reconstrução em escala do Venetoraptor gassenae
Detalhes da anatomia do Venetoraptor gassenae (Ilustração: Caio Fantini)

Estudo traz grande contribuição à paleontologia

Fóssil de Venetoraptor gassenae (Foto: Janaína Brand Dillmann)

Venetoraptor gassenae é um dos precursores dos pterossauros mais informativos já descobertos, permitindo, pela primeira vez, um olhar mais detalhado na face desses répteis enigmáticos. O bico raptorial incomum antecede àquele dos dinossauros em aproximadamente 80 milhões de anos. Em aves modernas, bicos semelhantes são atribuídos a diversas funções, como rasgar carne ou o consumo de frutas duras. Associado com as grandes garras em forma de foice, o bico pode ter sido usado para lidar com potenciais presas. Além disso, as garras podem ter ajudado o Venetoraptor gassenae a escalar árvores. 

Combinando as novas informações produzidas a partir da descoberta do Venetoraptor gassenae com outras descobertas recentes de precursores de dinossauros e pterossauros, os pesquisadores foram capazes de observar que a variedade de formas desses precursores foi muito maior do que se imaginava. Essa alta diversidade indica que a linhagem que originou os dinossauros e pterossauros passou por um primeiro grande pulso de diversificação antes do estabelecimento dos répteis mais famosos da Era Mesozoica. Desta maneira, o sucesso evolutivo dos dinossauros e pterossauros foi resultado da sobrevivência diferencial em meio a um conjunto mais amplo de variação ecológica e morfológica. 

A descoberta de um réptil com uma morfologia tão incomum não apenas lança luz sobre mais um componente dos ecossistemas triássicos que testemunharam a origem dos dinossauros e pterossauros, como também demonstra que uma extraordinária diversidade de organismos desconhecidos ainda está escondida nas rochas ao redor do mundo.

Descoberta dos fósseis

Os fósseis do Venetoraptor gassenae foram escavados em uma localidade fossilífera denominada “Sítio Buriol”, no município de São João do Polêsine, sul do Brasil. Além dele, no local também já foram encontrados fósseis de dinossauros primitivos, parentes de crocodilos com placas dérmicas, outros precursores de pterossauros e répteis herbívoros chamados rincossauros.

Os elementos ósseos do Venetoraptor gassenae estão perfeitamente preservados, representando um dos lagerpetídeos mais bem preservados já encontrados. Os fósseis ficarão em exibição no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia/UFSM, no município de São João do Polêsine, o mesmo município em que ele foi descoberto.

UFSM na Nature

Escultura de Venetoraptor gassenae em vida (Foto: Maurílio Oliveira)

A Nature é uma revista científica interdisciplinar britânica, publicada pela primeira vez em 1869. É um dos principais e mais citados periódicos científicos do mundo, com mais de 9 milhões de leitores por mês. Esta é a primeira vez que um estudo liderado por pesquisadores da UFSM é capa da edição semanal do “braço principal” da Nature. O paleontólogo Rodrigo Temp Müller, que encabeça o estudo, comemora: “Sinto muito orgulho de termos conseguido alcançar a capa de um dos maiores periódicos científicos do mundo. Isso mostra que a pesquisa paleontológica que produzimos no Brasil, na UFSM, está em um nível muito elevado”.

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFSM, Cristina Wayne Nogueira, também celebra a dimensão e o impacto desse espaço. “Esta publicação é um reconhecimento do trabalho de excelência dos nossos pesquisadores. Ela demonstra que a instituição produz ciência de altíssimo nível e também a consolidação do ecossistema de pós-graduação e pesquisa na UFSM, sua posição de referência em produção de conhecimento de excelência, conferindo visibilidade e reputação institucional em nível internacional”.

Equipe

Participaram do estudo Rodrigo Temp Müller (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil), Martín D. Ezcurra (Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia”, Argentina), Mauricio S. Garcia (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil), Federico L. Agnolín (Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia”, Argentina), Michelle R. Stocker (Virginia Tech, Virginia, EUA), Fernando E. Novas (Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia”, Argentina), Marina B. Soares (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil), Alexander W. A. Kellner (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) e Sterling J. Nesbitt (Virginia Tech, Virginia, EUA).

O estudo teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientıfico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ), da Agencia Nacional de Promoción Científica y Técnica e da Paleontological Society.

Com informações do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da UFSM
Ilustração de capa: Caio Fantini

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