
Em 19 de maio, o Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), celebrou os 20 anos do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD). O evento reuniu profissionais que fizeram parte da história do serviço e aqueles que continuam esse trabalho, em um momento marcado por reconhecimento, trocas e afeto.
A programação contou com palestra da médica Andressa Seehaber, homenagens e confraternização. A celebração reforçou o papel do SAD no cuidado humanizado, oferecendo atendimento médico e multiprofissional no próprio lar do paciente, sempre dentro do que prevê o Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a chefe da Unidade de Atenção Domiciliar e dos Cuidados Paliativos, Anna Aracy Barcelos Ourique, “O SAD oferece um cuidado individualizado e humanizado no domicílio, com benefícios para o paciente e para a família, além de auxiliar a reduzir a sobrecarga hospitalar. Redução de complicações clínicas e reinternações desnecessárias bem como otimização do tempo de recuperação do paciente”.
Criado em 23 de maio de 2005, o Serviço era composto por uma médica, uma enfermeira, uma assistente social, uma nutricionista e uma fisioterapeuta. Ao longo dos anos, o Serviço se consolidou e ampliou sua atuação, oferecendo uma assistência multiprofissional voltada à promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos no ambiente domiciliar. Atualmente, a equipe conta com duas médicas geriatras, uma residente médica, duas enfermeiras, duas técnicas de Enfermagem, profissionais de diferentes áreas da saúde e suporte administrativo. Com esse perfil, o foco da assistência está direcionado, especialmente, à população idosa.
Como funciona o atendimento
O fluxo de encaminhamento começa com a solicitação de consultoria da equipe assistente ao SAD, no caso de pacientes internados. Para os pacientes ambulatoriais, a solicitação também é feita pela equipe assistente, por meio da regulação interna do HUSM. Os critérios para admissão são: estabilidade clínica, necessidade de acompanhamento contínuo (que ainda não pode ser feito em ambulatório), presença de cuidador principal e residência dentro do perímetro urbano de Santa Maria.
Os atendimentos são realizados de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. A equipe do SAD se reúne semanalmente para discutir os casos e ajustar os planos de cuidado de acordo com as necessidades de cada paciente. Em média, de 8 a 10 pacientes são acompanhados ao mesmo tempo, conforme a complexidade de cada caso.
Uma história de cuidado que continua a florescer
“Lembro como se fosse hoje quando fui convidada a fazer parte da implantação do Serviço de Atenção Domiciliar”, para a médica geriatra Melissa Lampert, que atua no HUSM desde 2002, esse convite mudou tudo. “Como geriatra, sempre fez parte da minha rotina fazer visitas domiciliares, o que tornou esse convite um divisor de águas no rumo que tomou tanto a minha atividade como médica, quanto o foco da atuação prestada aos idosos no HUSM, desde então”, relembrou.
A ideia inicial era simples: permitir que os pacientes voltassem para casa assim que estivessem estáveis, sem abrir mão do cuidado profissional. Com o tempo, o serviço se expandiu, deu origem ao atendimento ambulatorial em Geriatria e ajudou a construir uma nova cultura de cuidado, incluindo o planejamento das altas hospitalares e a introdução dos cuidados paliativos.
“Esses 20 anos, com certeza, dão muito o que falar…”, compartilhou Melissa, lembrando que o Serviço não parou de evoluir. “Em 2021 e 2022, veio a expansão com a Unidade de Atenção Domiciliar e Cuidados Paliativos, o Serviço de Geriatria (GERIHUSM) e o início do Programa de Residência Médica em Geriatria do HUSM”.
Hoje, a Unidade reúne uma equipe de profissionais dedicados ao cuidado: assistentes sociais, educadores físicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, geriatras, médicos paliativistas, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais. “Temos como foco, e temos conseguido, manter a equipe com profissionais de diversas áreas”, explicou Melissa.
Essa evolução permitiu que o Programa de Residência Médica em Geriatria oferecesse um aprendizado completo. O médico residente acompanha o paciente desde a internação, passando pelo tratamento no hospital, até o cuidado em casa ou no ambulatório. Assim, ele vivencia a realidade da profissão em todas as suas etapas, assim como toda a equipe multidisciplinar.
Para Melissa, “Essa trajetória mostra algumas, entre tantas nuances, dessas duas décadas, demonstrando o papel desempenhado por esse Serviço e o percurso percorrido por toda a equipe — que nos enche de orgulho”. E finaliza com um agradecimento e uma mensagem: “Aos profissionais que já passaram, estão agora, ou estão por vir para esse Serviço, saibam que sempre foi, e espero que sempre seja, esse berço de grandes histórias. Histórias que fazem a diferença, tanto pela assistência qualificada prestada, quanto pela formação e encantamento dos estudantes e profissionais que por aqui passam”.
Um legado de inovação e cuidado humanizado
A criação do Serviço de Atenção Domiciliar do HUSM foi resultado de uma construção coletiva iniciada no início dos anos 2000. Soeli Guerra, hoje aposentada, foi uma das protagonistas dessa trajetória. Além de gerente de Atenção à Saúde por vários anos, ela representou a Universidade em um Convênio Tripartite formado por União, Estado e Município, para a reabertura da Casa de Saúde. Nesse contexto, participou da criação e acompanhou de perto os primeiros passos da internação domiciliar em Santa Maria.
“A experiência mostrou que muitas pessoas seguiam internadas apenas para concluir tratamentos que poderiam ser finalizados em casa”, relembrou Soeli. A partir dessa constatação e da experiência com o Serviço de Pós-Alta criado na Casa de Saúde em 2001, foi possível pensar em uma proposta mais estruturada de atenção domiciliar.
Com base em um diagnóstico realizado no HUSM entre 2004 e 2005, que evidenciou o uso prolongado dos leitos por pacientes com doenças crônicas e em cuidados paliativos, surgiu a proposta de criação do Serviço de Internação Domiciliar. Em 2005, a primeira equipe foi formada por Soeli e pela médica Melissa, com o apoio da gestão do Hospital. A iniciativa surgiu em um momento estratégico: o HUSM iniciava a contratualização com o SUS, e a desospitalização precoce passou a ser essencial para a qualificação do atendimento e redução da média de permanência hospitalar.
O serviço cresceu, incorporando ações de reabilitação e cuidados paliativos, e priorizou o foco na capacitação para cuidadores e equipes de saúde. “A atenção domiciliar melhorou a resolutividade do Hospital e levou o cuidado até a casa das pessoas, com segurança e dignidade”, destacou Soeli. Para ela, o SAD é também um espaço privilegiado de formação. “Por ser um hospital-escola, ele conecta teoria e prática no território onde a vida acontece”, afirmou.
Soeli também deixou uma mensagem: “Perseverem. Inovem. Ampliem. Novas necessidades surgirão. A população está envelhecendo e exigirá respostas cada vez mais qualificadas. Acredito que o Serviço deve ser sempre renovado, com novas tecnologias e saberes. Manter o Serviço forte é manter o SUS vivo dentro das casas das pessoas. Vida longa ao SAD do HUSM. Que continue sendo um serviço necessário, reconhecido, e que forme profissionais conscientes, humanos e preparados para cuidar de gente com dignidade”.
Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh