O acervo artístico da UFSM recebeu nesta primeira semana de julho a exposição Salão Impossível, evento organizado pelo Centro de Artes e Letras (CAL). A abertura oficial ocorreu na quinta-feira (03). Durante a vernissage (do francês, abertura; evento cultural que antecede uma exposição), aconteceram performances de artistas participantes. A mostra segue aberta para visitação até dia 15 de agosto.
Exposição reúne obras “impossíveis” de eventos tradicionais

A exposição, que reúne 29 artistas, buscou trazer obras consideradas “impossíveis” de serem apresentadas ou divulgadas em eventos artísticos tradicionais. Para ressaltar esse objetivo, o processo de seleção das obras foi realizado por meio de edital com inscrições abertas a alunos de qualquer curso — a pessoa nem precisava se considerar artista para participar.
A professora de Artes Visuais e organizadora do evento, Thays Tonin, contou que a iniciativa surgiu como forma de questionar quais valores artísticos definem quem entra ou não em um museu. O nome da exposição, Salão Impossível, foi inspirado nos salões de belas artes, que, segundo Thays, ainda são amplamente debatidos nas disciplinas do curso de Artes Visuais, onde os alunos buscam compreender por que esses modelos continuam tão influentes atualmente.
“Com isso, nós decidimos propor um salão, para quem foi negado, por décadas, a possibilidade de participar. Basicamente a ideia era fazer certas perguntas, como: para quais corpos foi impossível participar de mostras, de bienais e de premiações? Como seria propor um salão que pode e deve ser ocupado por diferentes corpos e diferentes etnias? Quais seriam, nesse sentido, as obras que foram consideradas profanas demais, obscenas demais, provocativas demais para serem aceitas nos salões modernos de arte? O que configura o que pode e o que não pode?” complementa Thays.
Representatividade, questionamentos e rupturas
O estudante de Artes Visuais Guilherme Borges falou sobre a importância deste espaço ter sido disponibilizado para artistas como ele: “É muito significativo, porque a proposta do salão é justamente trazer tanto memórias quanto artistas e ideias de coisas que não poderiam estar nos séculos passados. Então, eu, como uma pessoa negra, fico muito contente de ver que agora a gente já está tendo esses espaços”.

Adriana Gotenks Antunes, estudante de Artes Visuais, expôs sua obra A que serve o corpo?, trabalhada com acrílica sobre chapas de raio-X e plástico. Ela trouxe para debate o corpo utópico e o corpo matérico. A obra ficou pendurada no centro da exposição, brincando com as luzes e com o efeito translúcido do plástico.
Ela comentou sobre a mensagem que queria transmitir: “Queria questionar justamente como as pessoas que trabalham com o próprio corpo ou com a noção de corpo na produção artística estão criando utopias dele. A gente vive com o nosso corpo de uma maneira muito alienante, e esse trabalho possibilita que a gente olhe para ele de uma maneira mais artística”. Para ela, a arte significa um espaço para pensar outras formas de viver e se relacionar com o mundo.
A mestranda em Artes da Cena Esther Avila Schmidt apresentou uma videoarte e uma videodança em que trouxe para debate a rotina exaustiva que é ser artista no meio acadêmico. Para a videodança, ela convidou amigas e colegas para gravarem cenas que retratassem essa realidade.
“Me perguntei muito: o que o artista vai dizer para o mundo se ele está cansado demais para produzir arte?”, complementa.
Temas contemporâneos e performance ao vivo
Todos os artistas da exposição trouxeram diversas perspectivas sobre o mundo, retratando o que consideram que deve ser mais questionado. As obras abordam temas como saúde mental, questões de gênero e raça, movimentos feministas e outros.
Durante a abertura, também aconteceu a performance Onde o tatuar está presente?, em que a artista Ana Magalhães tatuou uma pessoa no meio da exposição.
Eduarda Seniw Gonçalves, também estudante de Artes Visuais, veio prestigiar o evento. Ela contou que gostou muito da exposição pela variedade de temas, linguagens e obras, e destacou a importância da iniciativa:
“É muito bom, pois abre muitos horizontes para as pessoas verem como é o curso de Artes Visuais e como é uma exposição de tantos alunos diferentes, com meios tão diversos de fazer a sua arte.”
A mostra conta com o apoio do Centro de Artes e Letras (CAL), dos Laboratórios de Pesquisa do Curso de Artes Visuais — Laboratório de Estéticas e Epistemologias Descentradas das Artes (LEEDA), Laboratório de Arte e Subjetividades (LASUB) e Laboratório de Arte, Coletividade, Cartografias Contemporâneas e Ciência (LABACCC) —, da Casa Verônica e do Observatório de Direitos Humanos.
A exposição segue aberta ao público até o dia 15 de agosto no Acervo Artístico da UFSM, de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 17h.
Confira alguns registros da vernissage:
Texto: Ellen Schwade, estudante de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Paulo Barauna, estudante de desenho industrial e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista