Ir para o conteúdo UFSM Ir para o menu UFSM Ir para a busca no portal Ir para o rodapé UFSM
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Coelhoterapeutas da UFSM visitam escolas e clínicas em projeto de extensão

Além do sucesso com as crianças nas escolas, os coelhos aumentam o foco dos pacientes durante os tratamentos



Os terapeutas mais fofos da UFSM realizam atividades educativas e de saúde com crianças e adultos

Eles já são conhecidos como uma opção para quem procura animais tranquilos, mas, como terapeutas, podem ser uma novidade. Tornar a terapia assistida por animais mais conhecida e difundir os benefícios da prática em crianças e adultos é o objetivo do projeto “Divulgação da Cunicultura Através da Coelhoterapia”. A iniciativa visita tanto escolas quanto clínicas que atendem crianças e adultos neuroatípicos ou em processo de reabilitação neurológica e também motora.

Coordenado pela professora do Departamento de Zootecnia da UFSM, Priscila Burdulis, o projeto é multidisciplinar e funciona em conjunto com profissionais da saúde – psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Além das visitas a escolas e clínicas, há mais duas áreas de atuação: capacitação de profissionais da saúde para o manejo de coelhos durante as sessões de atendimento e visitas ao Laboratório de Cunicultura (LabCuni), para divulgar o trabalho realizado pelos pesquisadores com os animais e seu manejo no dia a dia.

Os alunos da Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo da UFSM sempre aguardam ansiosamente a visita dos coelhos. Nesses momentos, até as crianças mais agitadas se acalmam. “A gente percebe o quanto faz bem para as crianças e o quanto eles também aprendem a ser mais empáticos, cuidadosos com os animais”, comenta a professora Joze Andrade. A docente do Ipê Amarelo afirma que a visita do projeto promove uma grande interação entre as turmas, o que vai ao encontro do projeto pedagógico da unidade de educação infantil.

Nas escolas, o público-alvo são alunos do ensino fundamental, da pré-escola até o quinto ano. Apesar da empolgação natural das crianças diante dos animais, o que foi notado pela equipe do projeto e pelas professoras foi um aumento da concentração dos alunos. “Eles adoram e ficam extremamente felizes, mas, para tocar e interagir com os coelhos, é preciso manter a calma e não fazer barulho. Então, os coelhos ajudam muito a acalmar a turma”, conta Priscila.

A visita dos coelhos movimenta todas as turmas do Ipê Amarelo

Animais de todos os tamanhos fazem sucesso com as crianças. Enquanto os pequenos, como Netherland e Mini Lion, encantam pela fofura, os grandes, como Nova Zelândia e Chinchila, lembram o Coelho da Páscoa. Qualquer raça de coelho pode participar das sessões de terapia. O que determina a escolha dos animais é o tipo de público com o qual as sessões serão realizadas.

Coelhoterapia funcional

As sessões de coelhoterapia são destinadas a pacientes com diagnóstico de TEA, TDAH e outros quadros neurodivergentes. Por serem animais calmos, os coelhos ajudam a trabalhar a questão da hipersensibilidade nos pacientes. “Atendemos uma criança com TEA e hipersensibilidade auditiva que não fazia carinho em cachorros por medo do latido. Ela conseguiu interagir com o coelho porque sabia que ele não iria fazer barulho”, lembra a coordenadora do projeto.

A iniciativa oferece amplas experiências para os alunos de Zootecnia e Medicina Veterinária que a integram. Além do aprendizado – já que eles precisam dominar o conteúdo para repassá-lo a outros profissionais –, o projeto possibilita que eles entrem em contato com novas realidades. “O projeto também incentiva os alunos a enxergarem a realidade do próximo e a contribuírem para a sociedade por meio das visitas às escolas e clínicas, onde conhecem a realidade de pessoas com necessidades especiais e, às vezes, em situação de vulnerabilidade”, destaca Priscila.

A Clínica Espaço Saúde, localizada em Santa Maria, que realiza atendimentos com crianças e adultos com diferentes quadros neurológicos, foi um dos estabelecimentos de saúde visitados pelo projeto. A coelhoterapia foi utilizada durante as atividades de estímulo proprioceptivo (que trabalham os músculos e articulações).

Uma paciente adulta com mielite transversa – doença neurológica que afeta o sistema nervoso central – realizou exercícios de levantar e alcançar com um coelho no lugar de uma bola de pilates. “Foi muito difícil para ela, principalmente a noção de força, mas ela relatou que precisava ter certeza de que o coelho estava seguro, não iria cair, mas também não estava sendo esmagado. Por isso, controlou mais os movimentos”, cita Cleonice Moreira, fisioterapeuta e proprietária da clínica.

Nos trabalhos com crianças, um paciente com seletividade para texturas aceitou tocar no coelho para sentir a sua pelagem. Outra, que não tem movimentos ativos, tentava mover as mãos para tocar o animal. A influência dos animais nos exercícios de motricidade surpreendeu tanto os profissionais da clínica quanto os integrantes do projeto, que descobriram essa possibilidade durante as visitas realizadas. “Enquanto o paciente infantil se empenhou para tocar o coelho, a paciente adulta focou no cuidado com o animal e realizou os movimentos de forma mais precisa. Não esperávamos tanto esforço”, destaca Cleonice.

Por que uma terapia com coelhos?

A receptividade e a calma são alguns dos benefícios do uso de coelhos nas terapias assistidas por animais

A coordenadora do projeto explica que a escolha do coelho para sessões de terapia se justifica pelo seu comportamento dócil, silencioso e por ser um animal que aceita muito bem as interações. Em comparação, um cachorro pode ser muito ativo e solicitar atenção a todo momento, e os gatos geralmente preferem decidir por conta própria se vão ou não socializar com os humanos. Já os coelhos aceitam bem a interação, mas não são dependentes dela.

Outras vantagens apresentadas pelos herbívoros estão na facilidade do manejo, pois são animais que não precisam de vigilância constante e se adaptam bem às gaiolas. Três vezes por semana, eles passam por momentos de enriquecimento ambiental, com passeios no gramado do laboratório e brinquedos nas gaiolas. “Eles são animais que vivem muito bem soltos, em gaiolas ou dentro de casa, diferente de outras espécies”, afirma Priscila.

A coelhoterapia é realizada durante o período normal de atendimento do paciente. Nas visitas a clínicas, o momento é conduzido pelo terapeuta responsável, que pode ser um fonoaudiólogo, psicólogo, psicomotricista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, entre outros. Em escolas, a equipe do laboratório conduz a sessão, que ocorre de forma mais livre, com as crianças decidindo se interagem com os coelhos ou não.

Cuidados com os coelhos

Os pequenos terapeutas também recebem cuidados durante as sessões. Os integrantes do LabCuni acompanham os animais e verificam suas frequências cardíacas e respiratórias para garantir que não estejam assustados ou estressados. Caso isso aconteça, eles são colocados na caixa de transporte, que é fechada para dar mais privacidade. Os animais também participam de sessões de enriquecimento ambiental com alimentos e brinquedos durante a terapia.

Atualmente, cinco dos quinze animais que estão no laboratório participam das sessões de coelhoterapia. Eles são selecionados pelo comportamento dócil, estimulado pelo manejo realizado no laboratório. Para as sessões de terapia, geralmente são levados dois coelhos por vez.

Todos os coelhos que participam das sessões estão com o atestado de saúde em dia e são acompanhados pela responsável técnica laboratório, professora Paula Montager, o que garante o bem-estar dos animais. Antes e depois do manuseio, os pacientes realizam higienização com álcool em gel. O mesmo ocorre em visitas às escolas e eventos abertos ao público, como o Viva o Campus. “Minimizamos ao máximo o risco de zoonoses e, além disso, não há muitas doenças que são transmitidas dos coelhos para as pessoas”, enfatiza Priscila.

Ter um coelho como animal de estimação também exige cuidados simples. Eles precisam de uma dieta balanceada, com feno (rico em fibras que auxiliam na cecotrofia, quando o coelho ingere fezes ricas em vitaminas e proteínas) e ração. É recomendável evitar variações na dieta – por exemplo, dar maçã em um dia e banana no outro. Uma alimentação padronizada ajuda a evitar doenças.

Em relação à higiene, os coelhos usam caixa de areia, como os gatos. Priscila alerta que não se deve dar banho nos coelhos. Seguir essas recomendações e cuidar bem do local onde o animal vive ajuda a prevenir doenças. Não existem vacinas para coelhos no Brasil, o que representa uma economia para os tutores. “É muito fácil criar coelhos. Se eles estiverem em um ambiente que proporcione bem-estar e uma alimentação adequada, dificilmente ficam doentes”, destaca Priscila.

Mesmo sendo um animal de fácil manejo, o coelho não é um brinquedo: exige cuidados, atenção e responsabilidade. Antes de adotá-lo, é importante refletir se o tutor terá condições de garantir bem-estar ao bichinho.

Os animais fazem sucesso no Viva o Campus (Foto: Jéssica Mocellin)
Ter um coelho como pet requer cuidados com alimentação saudável e higiene

Texto e fotos: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e Bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-1-69933

Publicações Recentes