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Projeto irá estudar opiniões de agricultores sobre o herbicida 2,4-D

Resultados vão ajudar a compreender os impactos do herbicida em fruticulturas gaúchas



Um projeto de pesquisa está estudando como agricultores familiares avaliam o uso do herbicida 2,4-D. A iniciativa, intitulada “Deriva de Herbicidas Hormonais e seus Impactos na Fruticultura do Rio Grande do Sul na percepção dos atingidos”, é coordenada pelo docente do Colégio Politécnico e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da UFSM, Gustavo Pinto da Silva.

O estudo conta com a parceria do Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (Larp), vinculado ao Departamento de Química do Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), e da Aliança pela Fruticultura Gaúcha. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e está em fase de coleta de dados.

O que é o herbicida 2,4-D?

Os herbicidas são pesticidas químicos usados na agricultura para o controle de ervas daninhas. O 2,4-D pertence ao grupo dos chamados “herbicidas hormonais”, que imitam os hormônios de crescimento das plantas. Ele afeta culturas sensíveis, como videiras, oliveiras e nogueiras, podendo causar deformações, redução da produção, atrofiamento de ramos e até a morte das plantas.

Muito utilizado em lavouras de soja, o 2,4-D é considerado mais nocivo por apresentar alta volatilidade. Ou seja, após a aplicação, pode evaporar e se deslocar pelo ar para outras áreas. Esse processo também é chamado de deriva. 

Esses herbicidas representam uma ameaça à fruticultura. Segundo a coordenadora da Aliança pela Fruticultura Gaúcha, Aline Fogaça, os impactos são cumulativos, já que a fruticultura é formada por “plantas perenes”, que permanecem no mesmo local por anos. “Quando um pomar é atingido pela deriva de herbicidas, o efeito não se limita a uma safra. Estudos mostram que, após um episódio de deriva, um pomar pode levar de 2 a 3 anos para se recuperar. Agora imagine o que ocorre com 10 ou 12 anos seguidos de exposição, os danos vão se somando e se tornam cada vez mais graves.”

Essa problemática é amplificada pelo fato desses impactos serem irreversíveis, já que uma vez que essa “desregulação hormonal” é causada nas plantas, não existem medidas de proteção ou recuperação eficazes. “Por isso, já observamos o que chamamos de “lento declínio dos vinhedos”: áreas muito atingidas entram em queda progressiva de produção até chegar ao declínio total, com morte de plantas e perda da viabilidade econômica do pomar. O mais preocupante é que esse processo é silencioso, o produtor percebe a redução de vigor e de colheita, mas nem sempre consegue identificar que a causa está na deriva de herbicidas.”, conta Aline.

Pesquisa desenvolve questionário para agricultores familiares

Para levantar as percepções dos agricultores, foi desenvolvido um questionário na plataforma Google Forms. Ele ficará disponível até fevereiro de 2026. Segundo Gustavo, o período é estratégico para observar culturas temperadas (plantas adaptadas a um clima de uma estação específica), como parreiras, melancia, macieiras, nogueiras e noz-pecã.

“O projeto nasce para isso, para primeiro caracterizarmos a frequência, a ocorrência, distribuição geográfica. Vamos ter perguntas que vão avaliar também o quanto esses agricultores estão sendo prejudicados, se eles puderem estimar, e a que associam o dano sobre as plantas, seja produtivo, econômico, e o quanto isso também está impactando nas decisões de investimento das pessoas.”

As perguntas são objetivas, e os resultados serão analisados de forma quantitativa, por meio de estatísticas. A previsão é que o projeto tenha duração de um ano a um ano e meio. “Nós esperamos gerar informação para divulgar para a comunidade científica, e também, a partir dessas respostas, buscar promover a divulgação desse conhecimento para as autoridades. Os próprios agricultores também podem sugerir prioridades ou ações que possam ser desenvolvidas”, complementa.

Contribuições esperadas da pesquisa

Apesar da existência de relatos e de normativas do governo estadual, ainda faltam informações científicas sobre a percepção dos agricultores. Para Gustavo, os resultados da pesquisa vão ajudar a mapear a situação no Rio Grande do Sul e a pensar em estratégias de enfrentamento. “Tem havido uma redução muito grande da produção na região. Tem uma série de herbicidas hormonais que estão sendo liberados para uso no Brasil, e eles vão causar problemas para a produção de frutos, e principalmente para a diversidade produtiva da agricultura. Uma atividade não pode ser prejudicada por outras.”

O docente reforça que a pesquisa busca contribuir para um desenvolvimento rural mais sustentável. Aline destaca ainda a importância de dar voz aos agricultores:  “São os agricultores que vivenciam esse problema todos os anos em seus pomares. Eles sabem na prática como a deriva de herbicidas afeta a produção, a qualidade das frutas e até a sobrevivência das plantas. A percepção deles ajuda a construir diagnósticos mais completos, embasar pesquisas e orientar políticas públicas que protejam a fruticultura e a agricultura como um todo.”

Histórico da UFSM na temática

A atuação da UFSM no acompanhamento do 2,4-D não é recente. Em 2014, a Universidade iniciou, junto com a Cooperativa Agrária São José de Jaguari, os primeiros estudos sobre os impactos do herbicida. O Larp também atua desde então nessa área, com análises laboratoriais. “Chegou até nós muitas situações de agricultores que vinham perdendo colheita, e tendo alguns resultados que não eram muito positivos. Temos conhecimento que alguns produtores estão deixando de investir na atividade pelo risco.”, comenta o docente.

Agora, o projeto está buscando recursos para bolsistas, e também pessoas que atuem como voluntárias. “Essa é uma grande contribuição que as pessoas podem nos ajudar, divulgar a pesquisa e o nosso formulário, ajudar aqueles agricultores que muitas vezes não tem condição de responder sozinhos.”

Texto: Giulia Maffi, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista

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