O 3º Seminário de Ações Afirmativas na Pós-Graduação teve como destaque a participação da professora Daiana Anunciação, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde das Populações Negras e Indígenas da UFRB apresentou, nesta terça (30), no auditório do prédio 67, o painel “Reflexões e experiências em ações afirmativas e inclusão na Pós-Graduação: o Caso UFRB”
A atividade reuniu pouco mais de cem pessoas presencialmente, além dos que acompanharam a transmissão em tempo real, entre docentes, técnicos e estudantes.O objetivo do seminário é ampliar o debate sobre políticas de inclusão e equidade na pós-graduação A organização é das Pró-Reitorias de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP) e de Assuntos Estudantis (Prae), Coordenadoria de Apoio ao Estudante (Caed), Observatório de Direitos Humanos (ODH), Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas(NEABI) Associação de Pós-graduandas e Pós-Graduandos da UFSM (APG).
Antes do painel com a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde da População Negra e Indígena (PPGSPNI), o reitor Luciano Schuch fez a abertura do seminário. O professor lembrou do pioneirismo da UFSM na adoção de ações afirmativas e o modelo adotado em seleções públicas. No entanto, Schuch enfatizou que existem pontos que precisam melhorar, especialmente na pós. O reitor lembrou que na carreira docente existe a concentração de homens brancos, e, quanto maior a progressão, menos se nota a presença da mulher negra.
“Nossa intenção é ter direito de estar neste lugar”
A professora Daiana Assunção apresentou como a UFRB colocou as ações afirmativas como uma questão central desde o surgimento da instituição há 20 anos. A coordenadora do PPGSPNI lembra que a Universidade Federal da Bahia (UFBA), instituição que inicialmente era responsável pelo campus da UFRB, não tinha um percentual significativo de pretos e pardos mesmo localizada no estado com maior contingente de negros. Segundo dados do Censo 2022, aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 80,8% dos baianos são pretos ou pardos.
No entendimento de Daiana, a implementação das ações afirmativas passa por uma reflexão que deve contemplar a ampliação do olhar sobre o modo de vida, adoecimento e morte das populações negras, e o entendimento da agudização das desigualdades sociais e etnico-raciais, estruturadas historicamente pela exploração e pela exclusão. A professora citou que é preciso lembrar do genocídio das populações indígenas e da diaspora das populações africanas.
“As ações afirmativas precisam estar na constituição ideológica e reparar o que foi feito conosco.Não queremos ser maioria. Nossa intenção é ter direito de estar neste lugar”, defendeu a pesquisadora.
Em sua apresentação, a professora Daiana evidenciou que a busca da equidade no ensino superior precisa levar em consideração as interrelações entre Raça, Classe e Gênero. Para a docente, somente o aspecto socioeconômico não basta. As desigualdades costumam também carregar o racismo estrutural e a sociedade patriarcal, e podem ser percebidas em casos de violência polícial, mortalidade entre jovens, dificuldade de acesso à saúde pública, desemprego e miséria. Além disso, ela citou que existem outros grupos e situações que precisam ser previstas, como pessoas com deficiência, migrantes, refugiados e ciganos.
Um aspecto reforçado pela convidada, inclusive nos exemplos, foi que as ações afirmativas vão muito além do ingresso. É preciso que elas prevaleçam ao longo de toda a trajetória acadêmica. Com a implantação do Programa de Permanência Qualitativa da Pós-Graduação, em 2020, a IES conseguiu reduzir a evasão, qualificação da pesquisa e democratizar o ensino superior ao dar mais atenção aos estudantes com vulnerabilidade. Tal preocupação está em consonância com o novo ciclo avaliação da CAPES, que considerará o acompanhamento longitudinal do estudante, ou seja, ingresso, evasão, tempo de titulação e desempenho.
Texto: Maurício Dias
Foto: Daniel Michelon De Carli