Com recorde de inscrições, a UFSM realiza a sexta edição do Modelo de Simulação das Nações Unidas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSMUN). Neste ano, a atividade, aberta na manhã desta sexta-feira (10) e que segue até domingo (12), reúne 105 estudantes do ensino médio e da graduação em um exercício de diplomacia, história e relações internacionais, desenvolvido em comitês temáticos pré-definidos.
O coordenador da UFSMUN, Thomaz Santos, professor do curso de Relações Internacionais (RI), salientou que o principal objetivo da simulação é proporcionar aos estudantes uma experiência que os aproxime das negociações políticas, econômicas e sociais que acontecem no mundo real. “Colocamos os estudantes como protagonistas e responsáveis no debate, mesmo que seja fictício. É uma tentativa de aproximar a vida deles com a política internacional”, explicou.
Temas da simulação são inspirados na realidade
Em 2025, o evento, sediado nos prédios 74B e 74C do Centro de Ciências Sociais e Humanas do campus sede da UFSM, divide-se em cinco eixos temáticos: o Gabinete de Guerra aborda a Guerra da Cisplatina; o Conselho de Segurança da ONU, a Guerra do Congo; o Conselho de Direitos Humanos, a preservação da cultura diaspórica no Oriente Médio; a Organização Internacional do Trabalho, a uberização do trabalho; e o Comitê Histórico, a transferência da soberania de Hong Kong.
Os temas de cada simulação são decididos pelos estudantes vinculados ao projeto. Segundo Thomaz, os alunos elaboram guias de estudo para cada assunto abordado nos comitês, além de orientar quem participa da atividade prática. “Os eventos da vida real influenciam nos temas dos debates. Mas, não podemos imitar diretamente a vida real pois, por exemplo, existem países que não participam diretamente das discussões na ONU, ou seja, os estudantes que representassem essas delegações não iriam falar também”, exemplificou.
De estudantes a delegados e jornalistas
A estudante do quarto semestre de RI na UFSM Eduarda Trevisan de Araujo compôs a Diretoria Acadêmica, responsável pela organização dos guias de estudo para cada comitê. A aluna irá mediar o Conselho de Direitos Humanos, que debate a preservação da cultura diaspórica no Oriente Médio. “Eu sinto que o UFSMUN é o meio para estudar conteúdos que, às vezes, não vemos com tanta profundidade na graduação. Participar da criação dos guias ajuda a ter mais independência nos estudos”, afirmou.
Natural de São Paulo, Eduarda participou de simulações da ONU durante o ensino médio. “Em 2023, no meu terceiro ano, eu participei da FAMUN, a simulação da Faculdade de Campinas, e depois que entrei na UFSM, fiquei muito empolgada para continuar essa trajetória dentro desses debates”, revelou a estudante.
Do Colégio Militar de Santa Maria (CMSM), Guilherme Rech, de 16 anos, participa da simulação como representante da Uganda no Conselho de Segurança. O aluno já realizou atividades parecidas com o Grupo de Relações Internacionais do CMSM e agora busca aprofundar os conhecimentos no UFSMUN. “Entrei nesse mundo de simulações a pouco tempo. Mas, quando soube do evento na UFSM, pensei que poderia ser legal debater com pessoas da graduação e sair da zona de conforto”, disse.
Empolgado para atuar no Conselho de Segurança, Guilherme buscou aprofundar seus conhecimentos para os debates. “Eu estudei o guia que recebemos, escrevi alguns textos para me preparar. Estou nervoso por ter que debater com pessoas mais experientes, mas, acima de tudo, quero aproveitar esse tempo e me divertir”, comentou.
Além de simular os debates, a atividade também conta com uma agência de comunicação responsável por noticiar as tratativas de cada comitê. A graduanda do quarto semestre de Jornalismo na UFSM, Emilly Wacht, será representante do El País e fará a cobertura do Conselho de Segurança da ONU. Para ela, a atividade tem potencial enriquecedor por abordar a prática do Jornalismo Internacional. “Muitas vezes esquecemos o papel da imprensa em conflitos. Ter essa experiência ajuda a entender o valor das perguntas que devemos fazer e o que iremos publicar”, apontou.
Do mundo para a UFSM: seis anos de UFSMUN
Conforme o coordenador Thomaz, a prática de simulações estudantis baseadas no Modelo das Nações Unidas surgiu ainda nas décadas de 1950, após a criação da ONU. Com o passar do tempo, essas atividades se popularizaram nos Estados Unidos e, hoje, a Harvard Model United Nations está entre as simulações mais conhecidas do mundo. “Esses eventos se tornaram itinerantes, muito graças à iniciativa da Universidade de Harvard. Eu mesmo, há mais de 20 anos, participei de uma simulação que foi organizada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e pela Universidade de Harvard”, lembrou.
Ainda antes da experiência de Thomaz, a primeira grande simulação da ONU no Brasil e na América Latina aconteceu em 1998, há 27 anos. Nomeada Americas Model United Nations, a iniciativa é um projeto de extensão do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB).
Ao longo dos anos, diversas universidades do país, incluindo a UFSM, aderiram ao modelo de simulações. “Quando eu cheguei na UFSM, sempre quis fazer um projeto que congregasse estudantes não só de Relações Internacionais mas também de áreas correlatas e com interesse na temática dos debates da ONU. E, hoje, chegamos a sexta edição desse evento que acontece desde 2019 e eu considero muito bem sucedido na Universidade”, apontou.
Thomaz também ressaltou a importância da simulação na integração entre estudantes da UFSM e de outras instituições. Segundo ele, nesta edição foi necessário buscar mais salas da Universidade para receber o número recorde de inscritos. “Da UFSM, há participantes de 12 cursos, o maior número que já registramos, entre eles Direito, Relações Internacionais, Comunicação Social, Enfermagem e Medicina”, destacou.
O evento também acolhe estudantes de diferentes níveis e instituições de ensino, incluindo o Colégio Militar de Santa Maria, o Colégio Tiradentes da Brigada Militar, o Colégio Politécnico da UFSM, o Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, Institutos Federais, o Colégio Estadual Coronel Pilar, além de cursos de graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul, Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Como participar da organização e simulação do UFSMUN?
As inscrições se dividem em dois núcleos: o de organização e o de participação na simulação. As vagas para os comitês organizadores são destinadas a acadêmicos da UFSM e costumam ser abertas em março. Já a participação na simulação é voltada a estudantes do ensino básico, de escolas públicas e privadas, e a universitários, tanto da UFSM quanto de outras instituições, com inscrições geralmente em setembro.
Vale ressaltar que, neste ano, as inscrições tiveram o taxa de R$ 60,00 no ingresso comum e R$ 50,00 para estudantes com Benefício Socioeconômico (BSE) e de escolas civis estaduais. De acordo com a organização, os valores arrecadados são destinados exclusivamente aos custos da simulação, sem fins lucrativos. “Nossa ideia é direcionar todo o recurso para cobrir as despesas do UFSMUN, desde a confecção de crachás, ecobags e outros elementos importantes para a realização da atividade”, acrescentou Thomaz.
Acompanhe as informações sobre o evento e as futuras inscrições pelo Instagram do UFSMUN.
Texto: Pedro Moro, estudante de Jornalismo e bolsista na Agência de Notícias
Fotos: Felippe Richardt
Edição: Maurício Dias