Em celebração aos 65 anos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), comemorados em 14 de dezembro de 2025, a Agência de Notícias e a TV Campus, vinculadas à Coordenadoria de Comunicação Social, lançaram a série “Direto do Gabinete”, um conjunto de entrevistas com as ex-reitorias da instituição. Publicadas em formato multimídia, as produções buscam valorizar a memória da Universidade e salientar os principais avanços na trajetória de cada gestão.
O segundo entrevistado da série é o professor Odilon Antônio Marcuzzo do Canto, que foi o sétimo reitor da UFSM, entre 1993 e 1997. Formado em Engenharia Civil pela instituição, sua gestão buscou garantir a continuidade e qualidade das atividades acadêmicas, ao priorizar a produção científica, a expansão do acesso à Universidade e a permanência estudantil.
Em conversa com a Agência de Notícias, Odilon comentou sobre a sua trajetória na UFSM e os destaques de sua gestão. Confira a entrevista completa abaixo:
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS: Como foi sua trajetória na UFSM até se tornar reitor?
ODILON ANTÔNIO MARCUZZO DO CANTO: Nunca havia me passado pela cabeça sequer ser professor. Eu queria ser engenheiro e gostava de estradas e coisas. Então, a minha primeira atividade como profissional foi na construção civil, construção de estradas. No ano de 1970, eu assumi como docente na Universidade Federal de Santa Maria, no Departamento de Física. Eu era engenheiro civil, mas fui para o Departamento de Física e comecei a dar aula desde setembro de 1971 em diante. Acabei sendo eleito chefe do Departamento de Física e, em seguida, fui eleito diretor do Centro de Ciências Naturais e Exatas. Em 1992, na campanha eleitoral, o grupo do qual eu fazia parte resolveu que eu deveria ser o candidato. Aí me candidatei e ganhei a disputa, sendo eleito reitor e assumindo em dezembro de 1993 a reitoria.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS: Em seu tempo como reitor, houve a criação da 1ª Jornada de Pesquisa, Extensão e Ensino da UFSM, que hoje conhecemos como a Jornada Acadêmica Integrada. Quais foram os reflexos dessa iniciativa?
ODILON: O grupo que eu fazia parte e que foi vitorioso na campanha sempre usava uma frase que dizia assim: “a universidade ensina porque pesquisa e pesquisa para ensinar”. Então, em cima disso, a gente sempre percebeu que o envolvimento dos estudantes nas equipes de pesquisa é algo fundamental para o desenvolvimento de uma universidade e para que ela cumpra de forma correta o seu papel. Baseado nisso, é que se criou esse tipo de interação com os jovens, buscando fazer com que o ambiente universitário fosse propício não só para formar um profissional em determinada área, mas principalmente para fazer com que o estudante perceba a ciência como um motor do desenvolvimento e do bem-estar da sociedade.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS: Durante sua gestão, foi criado o Programa Experimental de Ingresso ao Ensino Superior (PEIES), que representou uma nova forma de acesso à Universidade. Como surgiu essa proposta e qual era o seu objetivo principal?
ODILON: A questão do PEIES surgiu a partir de uma reflexão dentro da Andifes, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, da qual eu fazia parte. Na época, discutia-se muito a igualdade no vestibular, mas eu sempre questionava: como é que podemos falar em igualdade quando um aluno do interior, que viaja com dificuldade até Santa Maria e fica hospedado em condições precárias, compete com outro que chega de carro, bem alimentado e com toda a estrutura familiar? Essa diferença era gritante. Com base nisso, começamos a pensar em alternativas e surgiu a ideia do sistema seriado, no qual a Universidade iria até as escolas, trabalhando com os professores e estudantes no próprio ambiente deles. O PEIES nasceu desse desejo de aproximar a UFSM das comunidades e de tornar o acesso mais justo. Fico muito satisfeito em ver que, há alguns anos, essa proposta voltou a ser discutida, porque acredito que a interação da universidade com o ensino médio é fundamental.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS: Outro destaque foi a ampliação da Casa do Estudante. Como o senhor avalia a relevância para a comunidade?
ODILON: Hoje eu vi que o nosso sistema de casa de estudante talvez seja o maior da América Latina. Eu não sei se bate de fato, mas é um sistema forte e que atende à comunidade. Também aí está a questão da desigualdade. Eu acho que a universidade tem que tomar todas as atitudes possíveis para que o nível da desigualdade seja diminuído. Essa estrutura da Casa do Estudante é uma dessas possibilidades, é um meio de diminuir a desigualdade existente no Brasil.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS: Deixe seu depoimento para os 65 anos da UFSM.
ODILON: Eu acho que nós andamos 65 anos graças a um conjunto enorme de pessoas. Não estou falando apenas dos reitores, mas das pessoas que realmente fazem a universidade: os funcionários, os técnico- administrativos, os professores e os alunos. Esses 65 anos levaram a universidade aonde ela está hoje. Hoje, ela é reconhecida internacionalmente como uma instituição com áreas de pesquisa extremamente fortes. E eu acho que tem que continuar assim. Os 65 anos passados devem servir de base para os próximos 65, nessa direção de um ente público fundamentalmente estabelecido para criar o bem-estar, a harmonia e o progresso do processo civilizatório no Brasil e no mundo.
Confira a entrevista em formato de vídeo no canal do Youtube da TV Campus ou clicando no player abaixo:
Direto do Gabinete é um projeto produzido pela Agência de Notícias com apoio técnico da TV Campus. A iniciativa consiste em um conjunto de entrevistas multimídia com ex-reitores da UFSM para valorizar a memória dos 65 anos da instituição.
Produção, direção, roteiro e texto: Pedro Moro (acadêmico de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias)
Captação de imagens: Bruno Filippi (cinegrafista), Gilvan Peters (cinegrafista) e Matheus Lanzarin (acadêmico de Jornalismo, bolsista da TV Campus)
Edição de imagens: Jeferson Carvalho (editor audiovisual), Rafael Salles (jornalista) e Thomás Townsend (técnico em audiovisual)
Arte e animação dos 65 anos UFSM: Vinicius Gumisson (designer) e Lucas Garcia (acadêmico de Publicidade e Propaganda), respectivamente
Arte de capa: Daniel Michelon De Carli (designer)
Edição: Ricardo Bonfanti (jornalista)
Supervisão geral: João Ricardo Gazzaneo (jornalista), Maurício Dias (jornalista) e Mariana Henriques (jornalista e chefe da Agência de Notícias)