Uma equipe de acadêmicos da UFSM registrou algo inédito na natureza:
uma tarântula comendo uma cobra. Os estudantes realizavam uma pesquisa,
intitulada “Diversidade de espécies e caracterização do habitat de aranhas
da família Theraphosidae na Serra do
Caverá, Rio Grande do Sul, Brasil”. Como de costume, eles estavam em uma
visita à Serra do Caverá, em Santana do Livramento, mas na tarde de 23 de outubro de 2015 não esperavam
pelo registro que imediatamente fizeram.
Naquele momento, uma cobra, de nome científico Erythrolamprus almadensis, de 38cm, estava em decomposição após ser
morta por uma tarântula, chamada cientificamente de Grammostola quirogai.
Uma matéria foi publicada em dezembro de 2016 no periódico Herpetology Notes para promover o
acontecimento inédito, que foi noticiado também pelo Live Science, importante revista científica de Nova York (EUA). Foi
a primeira vez que uma aranha caranguejeira foi flagrada na natureza (e não em
cativeiro) predando uma serpente. Além disso, esse foi o primeiro registro
dessa espécie de aranha no Brasil.
O estudante de Ciências Biológicas da UFSM e um dos integrantes do
grupo Leandro Borges, que registrou algumas das fotos, explica que as aranhas
têm um processo digestivo extracorpóreo e possuem o auxílio de enzimas
digestivas. Seus alimentos são transformados em um material mais líquido, sendo
ingerido através de um “estômago sugador”. Alguns materiais não são bem
digeridos por essas enzimas, por isso se vê, por exemplo, pequenos restos
quando aranhas predam insetos, que são as partes do exoesqueleto que não foram
digeridas.
A alimentação começa a partir do momento em que a presa não oferece
mais resistência, o que, em geral, começa com a morte da mesma. Além disso, o
encontro entre a tarântula e a cobra é incomum, uma vez que vertebrados não são
presas muito recorrentes às aranhas.
Leandro conta que a matéria foi noticiada em diversos sites e periódicos,
entre eles o National Geographic,
revista renomada que publica artigos científicos sobre geografia, biologia,
história e afins.
Ele explica que o ocorrido foi importante para que se tenha uma
melhor compreensão acerca da biologia dos animais encontrados, pois pouco se
estuda sobre eles, principalmente no pampa do Rio Grande do Sul. “Um registro
como este ajuda bastante neste ponto, uma vez que expõe parte da relação ecológica
dessas espécies com outros grupos animais”, aponta.
Além de Leandro, há outros três colaboradores na equipe que
desenvolvem os trabalhos: Gabriela Franzoi Dri e Conrado Mario da Rosa, alunos
do curso de Ciências Biológicas da UFSM, e Rogério Bertani, do Laboratório de
Ecologia e Evolução do Instituto Butantã.
Paixão que vem desde a infância
Desde criança, Leandro era apaixonado por aranhas. Divertia-se
procurando por esses animais nos muros das casas onde morava. Em suas
explorações, usava um potinho plástico. Com o passar dos anos, passou a
conhecer a diversidade de espécies do mundo animal, assim como os mais variados
hábitos comportamentais exercidos.
Leandro pretende agora terminar a pesquisa na área, o que deve
ocorrer ainda este ano, e, assim que for possível, publicar alguns trabalhos
referentes aos dados obtidos. Ele comenta sobre a repercussão da descoberta:
“Creio que a grande repercussão se deu, principalmente, devido ao fato de serem
grupos animais que causam grande temor à maior parte da população, porém, em
imensa maioria, não oferecem risco algum à nossa saúde”.
Texto: Bruno Steians, acadêmico de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti
Fotos: Divulgação

