A morte de um familiar ou amigo sempre é um momento muito
difícil. Independente de ser “anunciada” – após a manifestação de uma doença
incurável – ou de ocorrer repentinamente, a ausência permanente daquele que
parte deixa vazio e dor. Contudo, ainda assim é nesse momento que algumas famílias
decidem transformar o luto em um ato de esperança. E foi justamente o que fizeram
os familiares de um jovem santa-mariense de 18 anos. O rapaz teve morte
encefálica, mas seus rins e fígado vão proporcionar vida nova para pessoas que
aguardam há anos, na fila de espera, por um transplante.
No último sábado (14), o Hospital Universitário de Santa
Maria (Husm) confirmou a morte encefálica do jovem. No dia seguinte, após os
exames clínicos para o diagnóstico e o consentimento da família, aconteceu a
retirada dos órgãos, que foram transportados para Porto Alegre no intuito de
salvar vidas.
Essa foi a primeira doação de órgãos ocorrida no Husm em
2017. No ano passado, foram realizadas três doações.
Desenvolvimento do
trabalho – Criada há 17 anos, a Comissão Intra-Hospitalar de Captação de
Órgãos e Tecidos (Cihcot) é formada por
um grupo de 11 profissionais – incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeuta e
psicóloga.
“A partir de 7 dias de vida, é possível realizar o
diagnóstico de morte encefálica. Esse tipo de diagnóstico é de notificação
compulsória, mesmo que o paciente não vá ser doador por contraindicações
clínicas”, explica a enfermeira Cíntia Lovato, membro do Cihcot.
Para diagnosticar a morte encefálica, é aberto um protocolo constituído
por dois testes clínicos, seguidos de um exame complementar de imagem, que pode
consistir em uma angiografia cerebral, angiotomografia, cintolografia cerebral
ou eletroencefalografia.
Se for confirmada a morte encefálica, a família é
entrevistada por um integrante da comissão, e decide se irá ou não autorizar a
doação. Por isso, ressalta-se a importância de a pessoa se manifestar em vida
se quer ou não ser doador, pois ajuda os familiares a tomarem a decisão.
Uma vez aceita a doação pela família, é preciso assinar o
termo de consentimento. A retirada dos órgãos é realizada no bloco cirúrgico em
um período estimado de 24 horas após o diagnóstico e a permissão dos
familiares. Os órgãos são retirados e transportados por uma equipe da Central
de Transplantes do Rio Grande do Sul, com sede
O profissional da Cihcot que estiver de plantão acompanha o
procedimento. No final, o corpo é entregue à família para o sepultamento.
“Os órgãos são acondicionados em bolsas térmicas com
gelo, para manter o órgão. Para dar agilidade ao processo, são transportados em
aviões fretados pela Central de Transplantes”, conta Cíntia.
Os órgãos que podem ser captados após confirmação da morte
encefálica são: coração, pulmões, rins, pâncreas, fígado, intestinos, ossos,
tendões, córneas e pele. Serão beneficiados os pacientes que necessitam de um
transplante e que estão aguardando em lista única – definida pela Central de
Transplante da Secretaria Estadual de Saúde. Nem o doador nem a família podem
escolher o receptor.
“Receberá o órgão quem está aguardando em primeiro lugar,
for compatível com o doador e apresentar as condições clínicas para recebê-lo naquele momento. Essa
avaliação é feita pelas equipes de transplante. Identificado o receptor, ele é
internado, passa por exames e fica aguardando a chegada do órgão, num
hospital”, explica a enfermeira.
Principais obstáculos
– Segundo a enfermeira, a falta de sensibilização dos profissionais da área
de saúde para a abertura do protocolo e a falta de informação da família sobre
a morte encefálica (que é irreversível) estão entre as principais causas para a
baixa doação de órgãos e tecidos.
“Nos primeiros anos após a criação da Cihcot, houve
crescimento das doações de órgãos. Chegamos a realizar seis doações em um ano.
Após 2011, houve um declínio. No ano passado, foram três doações, apesar de
termos aberto protocolo e confirmado 16 mortes encefálicas”, relata
Cíntia.
Com informações da
Unidade de Comunicação do Husm