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Pesquisadora da UFSM é finalista em prêmio com teste rápido para diagnóstico de Tuberculose

A ferramenta foi indicado na categoria Produtos e Inovação em Saúde do 17º Prêmio Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS



Tosse constante, febre e cansaço estão entre os sintomas da tuberculose, doença transmitida pelo ar e que afeta, principalmente, os pulmões. Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, essa infecção se enquadra como uma das mais contagiosas. A cargo de exemplo, em 2022, durante a pandemia de Covid-19, a tuberculose foi a segunda maior causadora de mortes por agentes infecciosos no país, segundo dados do Ministério da Saúde, disponíveis clicando aqui.

Além disso, as estimativas de combate à doença também não são favoráveis. Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz Bahia ressaltou que as atuais políticas públicas para reduzir a incidência da doença ainda são insuficientes. A pesquisa ainda exemplificou em números: em 2023, foram registrados, no Brasil, 39,8 casos por 100 mil indivíduos, taxa acima da meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, que é de 6,7 casos por 100 mil pessoas. 

De maneira mais expressiva, esses números não evidenciam apenas uma doença que se espalha, mas também um problema social e estrutural. Ainda conforme dados do Ministério da Saúde, em média 48% das famílias afetadas pela tuberculose no Brasil gastam mais de 20% da renda familiar para tratar a doença. Além disso, apontou-se que dos casos recorrentes da doença no país, 63,3% acometem pessoas pretas. 

Apesar do tratamento para tuberculose ser ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a lentidão no diagnóstico é um empecilho. Em média, o tempo total de início de sintomas até o tratamento da doença é de 11 semanas, isso é causado por dois fatores, o atraso do paciente em reconhecer os sintomas e o atraso do próprio sistema de diagnósticos e consultas. Essas estimativas foram publicadas em um levantamento realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Johns Hopkins University. Confira a pesquisa completa clicando aqui.

Tendo esse contexto em mente, uma iniciativa do Laboratório de Micobacteriologia da UFSM, coordenado pela professora Marli Matiko Anraku de Campos, desenvolveu o Teste Molecular Rápido para Tuberculose, uma ferramenta capaz de otimizar o diagnóstico da doença. 

A potencialidade dessa ferramenta foi reconhecida. O teste esteve entre os finalistas da categoria Produtos e Inovação em Saúde no 17º Prêmio Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS. A premiação reconhece o mérito de pesquisadores, professores e profissionais de todas as áreas do conhecimento, os quais seus trabalhos tenham contribuído de forma relevante para o SUS.

Até o momento, não há data definida para a cerimônia de entrega do prêmio. Porém, sabe-se que o evento será realizado presencialmente em Brasília, conforme divulgado em edital, que pode ser acessado clicando aqui.

Como o teste funciona?

Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas e do Mestrado Profissional em Ciências da Saúde da UFSM, Marli explica, de maneira didática, o funcionamento do teste: inicialmente, uma amostra de escarro, a secreção produzida nas vias respiratórias, é coletada do paciente. Na sequência, certos reagentes são adicionados à amostra em tubos de ensaio que serão aquecidos em um termobloco, ou conhecido como banho seco, um equipamento que aquece pequenos recipientes. Após cerca de uma hora, segundo Marli, será possível identificar se a amostra está contaminada com a bactéria da tuberculose.

A pesquisadora conta que essa identificação ocorre por meio de cores. “Essa reação que acontece é a chamada Colorimétrica, ou seja, quando há o aquecimento das amostras e não há o bacilo da tuberculose, a substância vai ficar rosa. Se ela estiver contaminada, o resultado fica amarelo ou alaranjado”, descreve.

Amostras após o aquecimento

Marli ainda esclarece que “o resultado é dado pela multiplicação, causado pelo aquecimento, de cópias do DNA das bactérias”, ou seja, se quanto mais cópias houver, mais amarelada será a cor da amostra ao fim do teste.

Além de otimizar o tempo de diagnóstico, Marli reforça outra característica positiva do teste: o baixo custo. Conforme ela, o SUS utiliza, atualmente, testes baseados em reação de cadeia da polimerase (PCR), modalidade que busca amplificar o DNA ou RNA de bactérias ou vírus, criando muitas cópias de uma sequência específica com o uso de reagentes importados. “Os  cartuchos dessa reação possuem alto custo de importação, principalmente dos Estados Unidos. Esse Teste que desenvolvi, foi criado inteiramente com tecnologia e reativos brasileiros. É mais acessível financeiramente e não exige um laboratório específico. Pode ser feito por pessoas capacitadas para fazer a reação”, elucida.

O desenvolvimento do Teste Rápido iniciou em 2023, após Marli ter sido contemplada com uma verba do Programa Pesquisa Para SUS, iniciativa de fomento à pesquisa em saúde nas Unidades Federativas. “Depois daquela época, nós patenteamos o nosso Teste pois ele é diferente de alguns que estão no mercado. O nosso foi elaborado inteiramente com recursos já existentes no Brasil. Desde então estamos lutando para avançar cada vez mais nessa autonomia”, frisa a docente.

Termobloco utilizado para aquecer as amostras

Marli ainda destaca que a principal estratégia para o combate da doença é o início precoce do tratamento e, para ela, o Teste tem grande potencial nesse processo. “Hoje em dia, quando se suspeita de tuberculose, o protocolo é pedir um raio-x e a cultura do escarro. Esse segundo procedimento consiste em pegar essa amostra e aplicar em um ambiente propício para o crescimento do bacilo, caso haja bactéria. Porém, esse crescimento demora em torno de 20 a 60 dias, o que é incompatível com as necessidades do paciente. O Teste surge como uma alternativa a esses métodos tradicionais”, explica. 

Esse contexto evidencia ainda mais a importância de ferramentas mais rápidas, como o Teste desenvolvido por Marli. “Essa é a ideia, fazer um diagnóstico rápido porque o tratamento já é demorado. Em média, para a tuberculose, são 6 meses de cuidados e os medicamentos podem ser tóxicos se ingeridos em grande escala. Então, quanto antes descobrir, melhor é o resultado”, alerta.

Ademais, caso o projeto seja contemplado com a verba do prêmio, Marli revela que o Laboratório irá tentar simplificar o sistema do Teste a fim de expandir o seu alcance. “Queremos deixar mais fácil de manusear e fazer com que essa ferramenta chegue em lugares mais distantes, até mesmo além de Unidades Básicas de Saúde. Tentaremos deixar esse produto qualificável para ser replicado a nível de indústria”, prevê a pesquisadora.

Prevenção, sintomas e tratamento

Enquanto essa tecnologia não se torna pública, a prevenção é um dos caminhos para evitar a disseminação da doença em solo nacional. A vacina BCG, que é oferecida gratuitamente pelo SUS, é uma das principais formas de profilaxia da tuberculose e deve ser administrada em crianças ao nascer. Entre as medidas mais cotidianas, estão: cobrir a boca ao tossir ou espirrar, evitar aglomerações, ainda mais durante as estações de baixa temperatura, além de manter os ambientes ventilados. 

Pessoas com sistema imunológico fragilizado, seja por doenças como HIV ou Diabetes, ou que estão em tratamento com imunossupressores, devem ter atenção redobrada, tendo em vista o aumento do risco de contágio e possível agravamento dos sintomas. 

Dentre os principais sinais de início da infecção, estão: tosse persistente por mais de três semanas, febre vespertina, sudorese noturna e perda de peso. Em casos mais graves, dor no peito e sangue ao tossir podem estar entre os sintomas. 

No local, a equipe médica irá aplicar os primeiros protocolos de atendimentos, buscar o diagnóstico e confirmação do quadro e, caso seja necessário, seguir para o tratamento. Conforme o SUS, o tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses e são utilizados medicamentos antibióticos principais como: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. Assim, ao suspeitar dos sintomas mencionados, procure a unidade de saúde mais próxima. 

Texto e arte gráfica: Pedro Moro, estudante de Jornalismo e bolsista na Agência de Notícias
Fotos: arquivo pessoal
Edição: Ricardo Bonfanti

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