Ir para o conteúdo UFSM Ir para o menu UFSM Ir para a busca no portal Ir para o rodapé UFSM
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Como usar inteligências artificiais para criar histórias infantis?

Disciplina da UFSM promove reflexão sobre uso ético de inteligências artificiais generativas para criar narrativas infantis



Ilustração colorida e horizontal. No centro, aparece uma tela de bate-papo simulada entre um usuário e uma Inteligência Artificial. À esquerda, há uma coluna preta com botões ovalados turquesa e brancos. Na parte superior, em fundo azul, está escrito o endereço fictício da página com setas brancas apontando para os lados. Na área principal da tela, à direita, dentro de um balão branco, o texto do usuário diz: Chat, escreva uma história infantil. Logo abaixo, em um retângulo turquesa, a resposta da I.A. aparece em letras brancas: Claro, aqui está a história infantil que você pediu: Era uma vez …. Um cursor em formato de seta aponta para esse texto. Mais abaixo, há um campo de digitação branco, ao lado, o botão Enviar.

O Pequeno Príncipe, As Aventuras de Pinóquio e o Patinho Feio são exemplos clássicos da literatura infantil. De maneira geral, esses livros tratam de amizade, sonhos e autodescoberta. Assim, esses elementos tornaram as obras marcantes na vida de inúmeras pessoas. 

“As narrativas infantis têm papel central na formação de valores e visões de mundo. Pensando nisso, quanto mais pluralidade e diversidade houver nessas histórias, maiores são as chances de se construir uma sociedade mais justa e respeitosa”, pensa Camila Peixoto Farias, psicanalista e professora do curso de psicologia da Universidade Federal de Pelotas.

Ao pensar na concepção dessas narrativas, com o tempo, as formas de criação de histórias sofreram mudanças. Antes da popularização do uso do computador, o uso de lápis ou canetas, papel e outras ferramentas manuais eram indispensáveis. Hoje, com o rápido avanço tecnológico, um novo mecanismo de produção se destaca: a inteligência artificial (IA) gerativa.

Esse crescimento se apresenta em dados publicados pela Google e Ipsos revelam que o Brasil é um dos países que mais utilizaram IAs generativas em 2024. Em números expressivos, em média 54% dos brasileiros usaram essas ferramentas, enquanto a média global ficou em 48%. O estudo, que entrevistou cerca de 21 mil pessoas em 21 países, destacou ainda que os brasileiros optam pelas IAs, principalmente, como assistente de escrita e tradutor.

Disciplina aborda o uso de IAs na criação de narrativas infantis

Discussões sobre esse novo modelo de criação já são feitas nas salas de aula da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Um exemplo disso acontece na disciplina complementar de graduação (DCG) de Inteligência Artificial Generativa e Narrativas Para a Infância, ministrada pela primeira vez em 2025 pela professora Cristina Marques Gomes, do Departamento de Comunicação da UFSM.

Capacitar estudantes de comunicação para compreender, aplicar e supervisionar ferramentas de IAs generativas na criação, análise e adaptação de livros e narrativas infantis, além de promover o pensamento crítico e ético sobre as implicações legais, estéticas, sociais e culturais dessas ferramentas na infância estão entre os objetivos da cadeira.

Segundo a professora Cristina, a DCG surgiu a partir da experiência com a disciplina intitulada Inteligência Artificial Aplicada à Pesquisa Científica, ofertada em 2023 e 2024. A docente conta que a primeira versão contou com estudantes de diversas áreas, como Turismo, Sistemas de Informação, Administração e Ciências Sociais. Já na segunda oferta, em 2024, a turma passou a ser composta apenas por alunos de Comunicação, o que motivou a criação de uma disciplina mais especializada.

Ao considerar os objetivos da disciplina, Cristina revela que os estudantes utilizarão diferentes recursos de inteligência artificial, como ferramentas de revisão de literatura científica, design gráfico e produção visual. “A disciplina é extremamente relevante, porque aborda os impactos que as ferramentas de inteligência artificial generativa vêm exercendo nos processos criativos, de publicação e circulação de livros infantis”, destaca.

Esse impacto citado por Cristina também estimulou a estudante de Relações Públicas Myrela da Silva Porciúncula Pinta a se inscrever na disciplina. “Eu sinto que a gente ainda não tem tanto conhecimento aprofundado sobre inteligência artificial, principalmente com um tema relacionado à infância”, pontua. Myrela considera importante a inserção de debates sobre IAs na formação de profissionais de comunicação e opina que “se usarmos de forma moderada e com cuidado, não haverá tantos problemas”.

Uso ético e responsável das IAs

A professora Cristina informa que o debate acadêmico é marcado por duas correntes: “alguns autores adotam uma visão apocalíptica, alertando para os riscos de vieses algorítmicos, perda de diversidade narrativa e questões éticas graves. Outros defendem a integração criativa da IA como ferramenta democratizadora, que pode ampliar o acesso e a produção literária, especialmente para autores independentes”.

Ao pensar na questão ética mencionada pela professora, a psicóloga Camila Peixoto alerta que a IA não cria de forma autônoma, apenas replica padrões existentes nos dados que recebe. Por isso, considera essencial a supervisão de adultos e profissionais da educação e psicologia no processo criativo com crianças, para garantir que as narrativas sejam éticas, seguras e adequadas ao desenvolvimento. “A inteligência artificial não é nem inteligente nem artificial. Ela é um banco de dados alimentado por seres humanos. Então precisa de supervisão, especialmente quando falamos em criança, porque ela vai reproduzir tanto o que temos de bom na sociedade quanto as violências e preconceitos”, enfatiza.

Além de professora de psicologia, Camila é autora do livro infantil Enraive-ser para construir o próprio caminho, lançado em julho deste ano. Na obra, que surgiu da sua vivência como mãe e pesquisadora, a docente percebeu a falta de narrativas infantis que abordassem a raiva de forma construtiva e com personagens femininas. A proposta do livro é ajudar a criança a reconhecer e direcionar esse sentimento de forma saudável, rompendo com estereótipos de gênero e oferecendo alternativas que não sejam violentas.

Nesse sentido, a autora contempla o valor de obras que estimulam a criatividade e a pluralidade. “Se a gente sonha em construir um mundo melhor, a gente tem que cuidar das narrativas que está transmitindo para as nossas crianças. Quanto mais a gente puder pluralizar, diversificar, trazer diferentes perspectivas, é mais provável da gente ter um mundo mais igualitário, mais respeitoso, menos desigual”, afirma.

Universidades devem incentivar o debate ético sobre IAs

Diante do atual contexto de avanços das IAs, tanto Cristina quanto Camila defendem o papel vital das universidades nessa discussão. Para Cristina, “as instituições de pesquisa e os professores devem assumir um papel ativo no estudo aprofundado e contínuo da inteligência artificial, promovendo a compreensão crítica das potencialidades e riscos das tecnologias, integrando a IA aos currículos, incentivando o debate ético, social e cultural sobre o impacto da IA nas atividades acadêmicas, culturais e profissionais”.

Em consonância com o pensamento de Cristina, a psicóloga acrescenta: “o nosso papel é trazer para cena essa complexidade dos debates. Não deixar que uma perspectiva capitalista, mercadológica, individualista, fique como dominante. Ao falar de inteligência artificial ou de eletrônicos, temos que falar também de vínculo, da forma como os adultos trabalham, do tempo livre, de como a sociedade se relaciona com as crianças”.

Inteligência artificial é tema motivador da 40ª JAI

Como reforçado pelas pesquisadoras, o debate sobre as IAs no mundo acadêmico é emergente e necessário. Com isso, neste ano, o tema motivador da 40ª edição da Jornada Acadêmica Integrada (JAI) aborda os desafios e oportunidades diante do avanço das inteligências artificiais (Não há obrigatoriedade dos trabalhos submetidos abordarem IAs).

As inscrições estão abertas até as 17h desta sexta-feira (29), exclusivamente pelo site da JAI. 

A submissão é gratuita e aberta a estudantes da UFSM e de outras instituições, no caso da JAI Externos. A jornada acontece entre os dias 3 e 7 de novembro de 2025, integrando atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação. 

Essa reportagem integra a série “Inteligência Artificial em Pauta”, uma iniciativa da Agência de Notícias que busca refletir sobre os desafios, oportunidades e consequências das IAs em diferentes contextos.

Texto: Pedro Moro e Jessica Mocellin, estudantes de Jornalismo e bolsistas na Agência de Notícias;

Artes: Pedro Moro (Conversa do chat sobre narrativa) e Unicom (campanha JAI)

Edição: Maurício Dias, jornalista

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-1-70309

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes