
A 7º edição da Jornada Acadêmica Integrada Jovem, evento da JAI voltado para estudantes e escolas do ensino médio, foi realizada na sexta-feira (31). As apresentações ocorreram no Centro de Convenções, pela tarde.
Segundo o coordenador de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PRPGP), Leandro Souza da Silva, a edição deste ano contou com 39 escolas inscritas e 239 trabalhos apresentados. A última edição da JAI Jovem, em 2023, registrou 22 escolas participantes e apenas 38 trabalhos apresentados.
A JAI Jovem foi retomada neste ano após a edição de 2024 ser cancelada por conta das enchentes que atingiram o estado em abril e maio. Leandro destaca o interesse das escolas em participar, que levou a organização a realizar a JAI Jovem uma semana antes da JAI, já que antes as duas ocorriam simultaneamente. “Foi um planejamento pensado em valorizar ainda mais a participação dos estudantes de ensino médio das escolas da região, que visitam a Universidade, conhecem o nosso espaço, interagem aqui, e que eles possam pensar na UFSM como um lugar para eles virem fazer um curso de graduação, posteriormente”, disse.
Alunos realizam pesquisas a partir das aulas de Educação Financeira

Maria Joana Cardoso, 15 anos, e Valentina Braz, de 16 anos, são alunas da Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa, de Santa Maria, e apresentaram sobre o projeto “REfa$”, que tem como objetivo solucionar problemas ambientais e o consumismo por meio do upcycling, processo que utiliza materiais para “reformar” algum produto que seria descartado – no caso do projeto, roupas.
“É pegar uma peça que não teria mais uso por qualquer motivo (como uma mancha), que deixamos no nosso guarda-roupa, e transformar em outra peça. Por exemplo, o meu grupo pegou três calças jeans que nós já não usávamos mais, e transformamos em uma saia”, disse Maria Joana. “Outras turmas também fizeram, pegaram uma camiseta que não tinha mais utilidade e acabou transformada em uma camisola, com poucos recursos, como cadarços e renda. E pudemos trazer a moda também para os meninos, que geralmente vemos mais as meninas nesse tema. Teve um grupo de meninos que produziu até roupas infantis”, complementou Valentina.
Alunos de turmas do 1º ano do ensino médio da escola participaram da atividade. As meninas contam que, além de moda, o projeto também inclui temas como felicidade e dinheiro, e se inspiraram no filme “Sra. Harris Vai a Paris”, de 2022, no qual a personagem Ada Harris, uma empregada doméstica, tem o sonho de comprar um vestido da marca Dior, considerada uma marca de elite. Os próximos passos do projetos é que os colegas visitem brechós, conversem com os donos e montem um catálogo.

Os estudantes do 2º ano do ensino médio da Escola Básica Estadual Dr. Paulo Devanier Lauda, de Santa Maria, Luiza Ramos e Murilo Maciel, de 17 anos, expuseram outro trabalho que surgiu nas aulas de Educação Financeira: uma pesquisa sobre inflação na região. “Nós queríamos mostrar como isso impacta na vida do pessoal de baixa renda. O nosso objetivo era investigar a relação da inflação com os produtos da cesta básica. E temos a metodologia, que consiste em uma pesquisa qualitativa, que se baseia no levantamento de dados numéricos”, explica Murilo.
Assim, Murilo e Luiza criaram dois gráficos, contendo dados do período de 2021 a 2025: um sobre a evolução salarial no Rio Grande do Sul, comparando as profissões de pedreiro e engenheiro, e um segundo sobre a cesta básica no estado. Os alunos compartilham que a pesquisa também foi importante para seu próprio conhecimento sobre finanças. “Nós não teríamos conhecimento sobre as coisas, e questões de taxa composta, taxa simples… E agora conseguimos fazer um cálculo, saber escolher melhor os investimentos, os lugares que comprar, se vai ser parcelado, à vista. Com certeza contribuiu bastante”, conta Luiza.
“Concluímos nossa pesquisa afirmando que seria legal que outras escolas oferecessem a Matemática Financeira. Porque é algo para vida também. E também para o pessoal que já está formado, tanto que citamos para membros da comunidade escolar, porque é importante todo mundo ter esse conhecimento”, comenta Murilo.
Trabalhos apresentam soluções de acessibilidade nas escolas

No Colégio Estadual Professor Antônio Lemos Araújo, do município de Cacequi, estudantes desenvolveram o MathBlitz, um jogo de matemática digital que oferece acessibilidade para pessoas com deficiência crônica, auditiva, motora e visual. Desenvolvido pelos alunos Eduardo Savian, Gabryel Araujo e Davi Serpa, todos de 17 anos, o jogo é uma plataforma que pode ser acessado no celular ou no computador, com desafios matemáticos que contam com linguagem de sinais, sistema de voz (lê a questão e escuta o que o usuário falar), além de uma fonte alternativa para pessoas com dislexia.
Davi explica que já fez um curso de Java e HTML, que o ajudou a desenvolver a plataforma do jogo, junto com a plataforma GitHub. Sobre a experiência de aplicar o jogo em sala de aula, os alunos compartilham que puderam incluir todos colegas, principalmente os alunos PCD. “Temos uma colega com deficiência auditiva, ela conseguiu jogar tranquilamente e aprovou o jogo. Temos outros colegas, que são PCD, e eles conseguiram jogar também. Eles são mais reservados, e com o nosso jogo eles conseguiram desenvolver bem a matemática. Nosso jogo serviu para isso, incluir eles”, explica Eduardo. “Tanto que o jogo foi feito na base de ser para pessoas com deficiências, para incluir essas pessoas no nosso jogo. Temos vários colegas lá do colégio que são deficientes, e eles se sentiram incluídos com o nosso jogo”, comenta Gabryel.
“Foi gratificante ver o quanto o projeto amadureceu, porque na verdade a ideia surgiu nas aulas de Matemática, nós fizemos uma Feira de Matemática na escola. E eu incentivei eles a produzirem alguma coisa dentro da tecnologia, que são as áreas que eles tinham mais interesse e facilidade. Já faz uns cinco meses mais ou menos que nós viemos desenvolvendo, eles construíram um jogo e agora estamos aqui, na tão sonhada vinda na JAI Jovem”, comenta a professora de Matemática dos alunos, Roberta Soares.

As estudantes Maria Clara Borges e Anelise Rodrigues, de 17 anos, são alunas do 3º ano da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Rocha, de Santa Maria, e apresentaram sobre o PROTEA: Projeto do Transtorno do Espectro Autista. O projeto busca conscientizar os alunos da escola a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA), por meio de exposição oral e slides, exposição de entrevistas realizadas com alunos com TEA, rodas de conversa, espaço para produções escritas dos alunos, e distribuição de folders informativos, envolvendo os estudantes do 1º, 2º e 3º anos técnicos da escola.
O projeto também foi convidado para se apresentar em outras escolas, participou da Mostra Científica das Escolas Estaduais do Rio Grande do Sul, e irá participar da Mostra Pedagógica do CPERS, em Porto Alegre. “O objetivo do projeto é disseminar informação e conscientizar as pessoas sobre o autismo, e como elas podem lidar melhor com as pessoas que possuem a condição. E principalmente no meio educacional, que é onde particularmente passamos a vida”, comenta Anelise.
Tanto Maria Clara quanto Anelise têm o laudo de superdotação, ou altas habilidades, e compartilham que o projeto era um tema de interesse de ambas, além de ter sido um grande aprendizado. “Foi muito legal, porque no decorrer íamos aprendendo. Por exemplo, hipersensibilidade. Quando não entendemos do assunto, arrastamos uma cadeira, e não percebemos que o colega pode ter perceptividade auditiva, isso faz com que ele tenha gatilhos e tenha uma crise. Eu me lembro porque eu tinha um colega que ele tapava os ouvidos quando mudávamos as classes. Ter cuidado com o que você vai fazer para o próximo é muito importante”, conta Maria Clara.
“Desenvolvemos o projeto que é o interesse delas em fazer, como auto-habilidosas. E este ano, com a questão de abril ser o mês de conscientização do autismo, conversamos sobre isso, e tivemos essa ideia para combater o capacitismo na escola. Só que foi tomando uma proporção tão importante. Estamos bem felizes, porque estamos conseguindo até ampliar, divulgar para outras escolas, em outros espaços”, comenta a professora de Educação Especial da escola e orientadora do projeto, Tatiana Santanna Motta.
Alunos pesquisam estratégias didáticas na áreas da literatura e sustentabilidade

Na temática da Literatura, as alunas Maria Vitória Moreira, de 16 anos, e Isabelly Ribeiro, de 18 anos, do 2º ano do ensino médio do Colégio Militar de Santa Maria, decidiram entender porque os estudantes não gostam de ler livros clássicos. Elas desenvolveram um formulário, perguntando aos colegas o que eles achavam das leituras clássicas obrigatórias trabalhadas nas aulas de Literatura.
O resultado foi que cerca de 60% dos alunos que responderam disseram ter dificuldades para entender as obras, por conta do vocabulário. Além disso, relataram que o contexto histórico dificulta para os alunos se imaginarem na história, por serem distantes de suas realidades.
A partir de pesquisa, as alunas, junto da professora de Literatura da escola, Michele Mendes Rocha, desenvolveram estratégias didáticas para tornar o aprendizado mais lúdico como adaptações de teatro, elaboração de paródias musicais, e até um debate de deputados (no caso da obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto). “Fizemos um júri simulado com o livro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, que foi uma atividade muito legal. Era o julgamento da Capitu, para ver se ela tinha ou não traído Bentinho. Tinha alunos que representavam os personagens, uma pessoa era a Capitu, outra era o Bentinho, uns eram os advogados, testemunhas, cada um ocupava um papel. Nós víamos todo mundo com os livros sublinhando, procurando pistas, argumentos e é muito bom, porque além de tornar toda essa leitura mais dinâmica, também exercemos a oratória, o nosso senso crítico”, comenta Isabelly.
As alunas também comentam o próprio amor pelo mundo dos livros. “Eu amo ler desde pequenininha, eu sempre gostei muito desse mundo. Quando eu era pequenininha, minha avó me levava na Feira do Livro, sempre me incentivou a ler. Eu acho que a leitura abre portas, nos mostra o mundo de outra maneira, nos mostra realidades muito diferentes da nossa”, conta Isabelly. “Eu também sempre gostei muito de ler, desde que eu era pequenininha. Meus pais sempre incentivaram muito isso em mim. Mas no segundo ano esse amor aumentou, porque tivemos o contato com livros muito diferentes do que eu estava acostumada a ler, que são os livros clássicos nacionais, e poder conhecer esses autores diferentes foi muito legal”, compartilha Maria Vitória.

Já na área da sustentabilidade, a estudante Cassandra Neves, de 17 anos, da CIEP Escola de Estadual de Ensino Básico Francisco Brochado da Rocha, do município de São Sepé, apresentou o projeto Cooperativa CIEP: uma iniciativa que reúne alunos do Ensino Fundamental e Médio para desenvolver práticas sustentáveis, inspirada nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Nela, os alunos desenvolvem hortas, ecobags, sabão, flores, artesanato e reciclagem, envolvendo também os familiares e a comunidade local.
“É uma cooperativa escolar que pratica diariamente a sustentabilidade, a partir da produção de produtos sustentáveis e desenvolvimento de consciência. Ou seja, falamos muito em desenvolvimento da sustentabilidade, mas como colocar isso em prática? É praticando ações, realizando a transformação efetivamente. E nós fazemos isso produzindo os nossos produtos”, comenta Cassandra.
A cooperativa tem mais de 60 alunos associados, e a aluna compartilha que é um sonho de anos da escola. “O CIEP é uma escola periférica, e sofre preconceito pelo local onde está inserido há muito tempo. Eu sou uma pessoa completamente apaixonada por transformação, que acredita no conhecimento, na força da educação pública. Quando eu cheguei nessa escola incrível e que tem um grande potencial, eu pensei ‘Por que as pessoas veem dessa forma?’, e a cooperativa é uma forma de mudar essa visão, porque muitas pessoas já estão perguntando sobre o projeto, vendo a escola com outros olhos”, destaca Cassandra.
Texto e fotos: Giulia Maffi, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti