No início da gestação, uma mãe santa-mariense foi surpreendida com a notícia de que o filho tinha uma malformação congênita: gastrosquise. O bebezinho tinha a parede abdominal aberta e, portanto, parte do intestino exposto. Graças ao trabalho de uma equipe com cerca de 15 profissionais do Hospital Universitário de Santa Maria – entre anestesista, obstetras, neonatologistas, pediatras, cirurgiões e enfermeiros –, o menino nasceu na manhã de quinta-feira (23) e foi operado ainda ligado ao cordão umbilical. A cesárea e a correção cirúrgica da mal formação do bebê – cirurgia inédita no HUSM – durou cerca de 1h. A mãe e filho passam bem. Ela teve alta hoje (27) à tarde e filho segue internado.
A mãe, uma mulher de 24 anos, estava grávida do quarto filho quando, na vigésima semana de gestação, ficou sabendo que o menino tinha gastrosquise – uma mal formação congênita que atinge 4,6 a cada 10 mil recém-nascidos. Desde então, passou a ser acompanhada pela equipe da Medicina Fetal do HUSM. A cesárea foi realizada com 34 semanas de gestação.
A técnica chamada Simile Exit foi desenvolvida pelo cirurgião pediatra argentino Javier Svetiliza, há cerca de 10 anos. A primeira cirurgia desse tipo no Brasil ocorreu em 2014, em Salvador (BA). No HUSM, foi a primeira vez que a técnica foi utilizada e, segundo os médicos – provamente – também no Estado..
“Esse cirurgião criou um índice de redutibilidade para saber qual a chance de fazer a cirurgia logo no momento do nascimento. Por meio de exames de ultrassom – nós realizávamos a cada 15 ou 20 dias – medíamos o tamanho do orifício herniário e a espessura da maior alça intestinal identificada. Se ultrapassasse 1,5 , poderia haver sofrimento de alça (necrose do intestino). Se não houvesse, o melhor momento para retirar o bebê seria a partir de 34 semanas. Foi o que fizemos”, explicou o médico obstetra Francisco Gallarreta.
“Quando a cirurgia é feita em crianças em trabalho de parto, elas chegam a fica dois ou três meses na UTI. Quando interrompemos a gestação, a criança fica, no máximo, 15 dias na UTI. O que diminui o risco de infecção”, disse a cirurgiã pediátrica Gabriela Zanolla.
A gestante internou um dia antes para realizar a cesárea. Por volta das 9h de quinta-feira, ela estava no Bloco Cirúrgico onde recebeu anestesia geral para o procedimento. O menino nasceu com cerca de 2,3 kg. Entre a cesárea e a cirurgia do bebê, foram 55 minutos de procedimento, 8 deles dedicados ao recém-nascido.
“Como a anestesia geral é transplacentária, aplicamos na mãe e o bebê foi beneficiado. Ele estava rosado, tinha estímulo, a frequência cardíaca normal, saturando bem. Não precisou nenhuma medida específica durante o procedimento”, contou a médica obstetra Vanessa Klein.
“A gente está muito feliz porque o procedimento foi um sucesso. O nenezinho está bem. Ele fica na UTI alguns dias, que é o tempo que ele vai precisar para ter trânsito intestinal, mamar e evacuar normalmente”, afirmou Gabriela.
Após o procedimento, o bebê foi colocado em berço aquecido e internado na UTI Neonatal.
A importância do cordão umbilical no procedimento – Ligado ao cordão umbilical, o bebê respira através da mãe.
“A circulação placentária mantém a criança viva, oxigenada pelo sangue do cordão. Ele está sendo oxigenado, por isso não precisamos entubá-lo”, explica Gabriela.
Quando o cordão é cortado, a criança enche o pulmão de ar para dar o primeiro choro. Esse ar também vai para o intestino, o que aumenta seu volume e dificultaria colocá-lo, por meio do orifício herniário, na cavidade abdominal.
Texto e foto: Assessoria de Comunicação do HUSM