No fechamento do Mês da Consciência Negra, a Coordenadoria de Ações Educacionais e o Núcleo de Ações Afirmativas Sociais, Étnico-Raciais e Indígenas da UFSM realizou a Roda de Conversa “Mulheres Negras: Lutas e Resistência”. A conversa contou com a presença das debatedoras Giovanna de Carli Lopes, Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad e Maria Rita Py Dutra, com a mediação feita por Rosane Brum Mello e Ticiane Lúcia dos Santos.
Leonice Mourad iniciou abriu uma discussão sobre os efeitos da modernidade na transformação das diferenças em desigualdade. Segundo ela, um determinado grupo social, no caso a burguesia europeia, foi responsável por se colocar como o referencial, estabelecendo uma relação de hierarquia entre os grupos sociais. “A diferença é um processo, ou um fenômeno que pode ser socialmente e culturalmente construída, ou pode ser naturalmente dada. O problema é quando essa diferença é transformada em desigualdade, que é um fenômeno sociológico, histórico”, comenta.
Logo depois, Giovanna Cali de Lopes, professora na UFBA, deu início a sua fala com um poema da autoria de Conceição Evaristo, chamado ‘Da conjuração dos versos — nossos poemas conjuram e gritam.’ Em seguida, abordou a escravidão e a forma extrema de silenciamento das mulheres por um instrumento de tortura, a máscara facial. Colocada na boca das mulheres negras escravizadas, impediam a fala e alimentação. Ela reforçou que é preciso lembrar que a história do povo negro começou muito antes das Américas: “Precisamos resgatar essa força, nossa história pré-colonização, pré-tráfico escravista. Esse esforço tem sido feito pelos filósofos e filósofas negras dessa nova geração, e isso é muito importante para relembrar nossas dores, alegrias, amores.” afirmou. A professora relembrou o dado de que a população brasileira é composta 54% de negros, o que mostra a importância de lutar e ter resistência no movimento contra o racismo.
Já a professora Maria Rita Py Dutra apresentou Mãe Stella de Oxóssi, representando o protagonismo de mulher negra, resistência e representação. Considerada uma das mais importantes defensoras da cultura negra no Brasil, Mãe Stella é a matriarca de uma das mais reconhecidas casas de religiosidade de matriz africana do país, o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Além disso, ela desmistifica o candomblé, é autora de oito livros e inúmeros artigos, fala sobre ancestralidade e sobre a valorização e humanização social. “O que eu mais me encantei é que ela se mantém fiel à tradição da sua religiosidade. Contribuindo para que os leigos, seguidores, seus filhos de santo, tenham mais conhecimento. Pra fechar o nosso mês da consciência negra, eu trouxe a imagem da Mãe Stella, e eu espero que ela inspire nós mulheres”.
O encontro proporcionou trocas de experiências, destacando a importância dos locais de fala, atenção à falta de representação feminina na política, entre outros temas. Ao final da conversa, Giovanna afirmou a importância de questionar as pessoas brancas sobre o que elas têm feito para contribuir para uma sociedade mais justa, sem o racismo e intolerância. A Roda de Conversa encerrou a Programação do Mês da Consciência Negra UFSM 2020, que teve início dia 10 de novembro.
Texto: Vitória Parise, bolsista de Jornalismo da Agência de Notícias da UFSM
Edição: Davi Pereira