
Na manhã desta segunda-feira (10), mais um semestre letivo iniciou nos campi da UFSM. Para abrir o período de aulas, a Universidade promoveu uma palestra no Campus Sede com egressos para conversar com os novos acadêmicos sobre trajetórias e tirar dúvidas. Entre os convidados deste ano está o jornalista Marcelo Canellas, que dedicou 33 anos de sua vida à produção de reportagens especiais para diversos programas da Rede Globo e hoje mora novamente em Santa Maria.
Canellas foi aluno na década de 1980, justamente na época em que o Brasil vivia uma fase de redemocratização após mais de 20 anos de Ditadura Militar. Como o próprio profissional relata, as instituições de ensino superior públicas tinham seu funcionamento afetado de forma constante com cortes de verbas em tempos de hiperinflação. Por outro lado, o movimento estudantil, do qual fez parte, lutava a favor da educação constantemente.
Depois de ganhar mais de 50 prêmios e medalhas por conta de seu trabalho ver com os próprios olhos a evolução do mundo e do jornalismo, o profissional retornou a Santa Maria e hoje atua de forma independente. Na visão dele, os desafios para os estudantes acerca da promoção de fake news são muitos, mas há como combatê-las. Confira abaixo a conversa completa de Marcelo Canellas com a Agência de Notícias.
Agência de Notícias: Como você vê o impacto da sua passagem pela Universidade na construção da sua trajetória?
Marcelo Canellas: Eu fui estudante da UFSM justamente no período da redemocratização do Brasil, em meados dos anos 80, abrangendo o fim do governo Figueiredo, já nos estertores da ditadura. Vivi a inesquecível experiência da campanha das Diretas Já, a frustração da derrota dessa proposta no Congresso Nacional e o começo frustrante do governo Sarney.
Agência de Notícias: Em 33 anos de atuação como repórter especial somados às outras experiências que você teve, quais foram os desafios mais marcantes que você enfrentou ao longo da carreira?
Marcelo Canellas: Eu fui testemunha ocular de uma verdadeira revolução tecnológica que foi da máquina de escrever ao advento da internet. Eu vi, por dentro e ao longo de três décadas e meia, o auge da televisão como meio hegemônico de produção de informação e também o seu declínio com o surgimento das Big Techs. Meu grande desafio, em qualquer desses contextos, sempre foi o de arranjar espaço para contar histórias que falassem sobre as contradições do Brasil.
Agência de Notícias: Quais lembranças guarda da época de estudante da UFSM?
Marcelo Canellas: Quando saí da Globo, depois de 33 anos de empresa, resolvi voltar para Santa Maria. Hoje moro na cidade e trabalho, de forma independente, com projetos de documentário para plataformas de streaming. Continuo viajando em períodos de gravação, mas minha casa agora é em Santa Maria. Nas horas vagas me divirto produzindo vídeos curtos, que chamo de micronarrativas, para postar no Instagram.
Agência de Notícias: Na sua visão, por que eventos de recepção aos calouros como o desse ano, que promovem o contato dos novos estudantes com egressos da Universidade que atingiram o reconhecimento mundo afora, são importantes?
Marcelo Canellas: A recepção aos calouros é importante por sua enorme carga simbólica. Quando um estudante entra numa universidade pública ele tem de saber que se torna fiador da esperança do povo brasileiro que, afinal de contas, é quem vai pagar pelos seus estudos. O contato com os egressos ajuda a entender o compromisso que todos temos de usar nosso trabalho para tornar esse país menos injusto e a vida do povo menos sofrida.
Agência de Notícias: De diferentes formas e por diferentes razões, o jornalismo mudou muito nas últimas décadas. Como você enxerga o futuro da profissão?
Marcelo Canellas: O grande desafio do jornalismo hoje é o de ter de lidar com a mentira como instrumento da política. A produção de fake news é um método de manipulação muito eficiente. O futuro do ofício de jornalista depende de nossa capacidade de desmascarar os mentirosos e de exercer a tarefa cidadã de reconectar as pessoas com a realidade objetiva.
Agência de Notícias: Que conselho você daria para os estudantes que estão começando agora o curso de Jornalismo?
Marcelo Canellas: Deixe o celular descansando sempre que possível. Leia livros. De tudo. Sempre. E prepare-se com as ferramentas do conhecimento para desmascarar os negacionistas e os manipuladores. Por fim, abandone as teses à priori, tenha independência intelectual e se deixe surpreender pela vida.
Entrevista: Pedro Pereira, jornalista
Fotos: Daniel Michelon de Carli