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Produção de peixes é potencializada por pesquisas da UFSM na área de piscicultura

Projeto de extensão da UFSM pretende auxiliar produtores rurais na melhoria da qualidade e produtividade do pescado



A produção de peixes requer  atenção a diversos fatores, como a qualidade da água, o conforto térmico, a higienização de tanques e a nutrição adequada por meio do trato de ração. Esses cuidados têm sido destaques de pesquisas já realizadas pelo Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFSM e serão usados no Projeto de Extensão ProgeAqua – Programa de Geração de Renda e Qualidade do Pescado.

 

A iniciativa, contemplada no último edital do Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-Graduação (PROEXT-PG), parte de pesquisas já publicadas e validadas, servindo como embasamento técnico e científico para orientar produtores de peixe namelhoria no manejo e produção. Para Rafael Lazzari, coordenador do projeto, a intenção é oferecer conhecimentos que contribuam para a expansão da atividade, com o objetivo de aumentar a renda. “A produção de peixe que estamos falando tem um  objetivo comercial – seja para a venda na Semana Santa, seja para a produção de filé em outros momentos do ano -,  de forma que os produtores familiares da nossa região tenham uma fonte de renda extra, com mais rentabilidade, e possam melhorar suas condições de vida e seus sistemas de produção”, explica Rafael.

Para o pesquisador, a piscicultura desponta como uma atividade com grande potencial de crescimento, especialmente por oferecer uma fonte de proteína saudável. “Um dos focos do projeto não é apenas estimular a produção, mas também incentivar as pessoas a consumir peixe, porque o pescado é uma proteína de boa qualidade, de fácil digestão, rica em vitamina e ácidos graxos que são importantes para a saúde das pessoas”, destaca o coordenador do ProgeAqua. 

Ele também observa que,  no norte do Rio Grande do Sul, os sistemas produtivos de piscicultura já estão mais consolidados. “E agora também queremos fortalecer essa alternativa para os agricultores familiares aqui na região de Santa Maria”. Neste momento, o ProgeAqua está em fase de preparação dos materiais com orientações técnicas para capacitar  as e os produtores. O próximo passo deve acontecer nos próximos meses: o contato com estas famílias por meio de visitas técnicas. “Incorporar as ações de extensão é também cumprir o papel da universidade, que é levar o conhecimento das nossas pesquisas, já gerado na nossa área, para a sociedade”, aponta Rafael.

Segurança alimentar e aumento de produtividade

Dois eixos norteiam o ProgeAqua: a segurança alimentar e o aumento da produtividade. Rafael Lazzari explica que a produção de um pescado de qualidade exige cuidados tanto sanitários (ou seja, boas condições de higiene) quanto sensoriais (relacionados ao sabor do peixe). “Isso passa muito pelos processos de criação. Essas práticas serão abordadas nas capacitações que oferecemos. Isso vai incentivar que os produtores, no dia a dia de manejo, consigam produzir um peixe de qualidade”, ressalta.

Os aspectos produtivos ligados à qualidade do pescado têm impacto direto na segurança alimentar e no aumento da produtividade. O pesquisador reconhece que a segurança alimentar costuma ser um tema complexo, mas destaca que oferecer um peixe de qualidade, criado em condições sanitárias adequadas, contribui para o aumento do consumo por crianças, jovens, adultos e idosos. Além disso, a segurança alimentar envolve a possibilidade de acesso aos produtos. “Nem sempre um peixe ou outro produto alimentar é produzido a um custo acessível. Mas se você produzir de forma mais eficiente, ajuda a diminuir o custo de produção, e consequentemente, vai chegar em uma condição melhor para os consumidores”, evidencia Rafael.

Já o aumento da produtividade está relacionado ao fortalecimento da piscicultura comercial e à possibilidade da expansão da renda de famílias da agricultura familiar. Rafael explica: “O que tratamos no projeto é como fazer piscicultura em condições técnicas de manejo adequadas, de cuidados intensivos”. Entre os temas abordados nas orientações estão desde a construção e manutenção de açudes, passando pelo monitoramento da qualidade da água, até estratégias adequadas de alimentação dos peixes. 

Além dos aspectos relacionados com o ambiente, o projeto também trata de questões gerenciais, que envolvem custo de produção, de manejo e de monitoramento de indicadores de qualidade da água e do próprio peixe. “A piscicultura comercial e intensiva envolve conhecimento técnico-científico para que se garanta índices de produção satisfatórios e o produtor obtenha boa rentabilidade”, frisa Rafael.

Manejo na produção de peixes

As capacitações do ProgeAqua são voltadas para o manejo dos peixes no período de inverno, uma vez que a diminuição da temperatura da água afeta o gasto energético e diminui a alimentação dos animais, o que interfere no ganho de peso. Atividades de manejo e monitoramento são necessárias para minimizar os efeitos decorrentes do frio. São exemplos o conforto térmico dos animais e temperatura da água, qualidade de água (valores de oxigênio e ph) e questões comportamentais dos peixes. 

Algumas das pesquisas que vão embasar os cursos que serão ofertados aos produtores pelo ProgeAqua estão registradas no e-book ‘Manejo de inverno para a piscicultura no sul do Brasil’, que pode ser acessado por meio deste link. Destacamos alguns elementos importantes:

Conforto térmico e temperatura da água: quando a água está com temperaturas muito elevadas ou muito baixas, o peixe tende a se movimentar menos para gastar menos energia, o que leva à diminuição da alimentação e do crescimento e ganho de peso do animal. Em extremos, pode ocorrer mortalidade. As faixas de conforto térmico variam conforme a espécie, o que deve ser considerado na criação. Carpas e tilápias, por exemplo, tem faixas de conforto térmico diferentes. Enquanto a carpa consegue se alimentar em temperaturas de água abaixo dos 15 graus, as tilápias têm mais dificuldades – por serem animais tropicais, com faixas de conforto térmico mais altas, entre 24 e 28 graus.

Infraestrutura e manejo da água: quedas bruscas de temperatura são comuns no território gaúcho – e isso pode provocar a queda da temperatura da água e afetar o conforto térmico dos peixes. Esse fator exige a preparação dos produtores para a chegada do inverno e de frentes frias, e envolve uma boa alimentação dos peixes antes da estação, a fim de melhorar sua imunidade para o estresse do frio e evitar possíveis doenças. Qualidade nutricional e da água são fundamentais para a saúde e sobrevivência dos animais.

Tamanho e posição dos tanques: popularmente chamados de açudes, os tanques de produção de peixes não podem ser muito pequenos, uma vez que volumes de água menores resfriam mais rápido. Também não podem ser muito profundos, para evitar a estratificação térmica da água. Esse é um fenômeno em que a água se divide em pelo menos duas camadas com diferentes temperaturas: no fundo do tanque, a água tende a ser mais fria porque os raios solares não chegam, o que provoca diferentes densidades que não se misturam. De acordo com Rafael, esse fenômeno é comum na época do inverno, mas, no caso de fortes chuvas, quando há estratificação térmica, a água e os materiais que estão no fundo do açude sobem para a superfície, o que traz matérias orgânicas tóxicas que promovem quedas drásticas no nível do oxigênio. O resultado pode ser uma mortalidade grande dos peixes. Esse fenômeno é chamado de inversão térmica.

O tamanho ideal dos tanques pode variar de acordo com a região. Para o Rio Grande do Sul, as recomendações são de açudes maiores do que 1000m² e com profundidade entre um a um metro e meio. A posição dos tanques também é essencial: não podem estar em locais próximos a áreas de morros e árvores – que podem provocar sombras e prejudicar a exposição ao sol – nem em áreas de baixadas – suscetíveis a geadas.

Uso de aeradores: ferramentas que podem ser usadas para homogeneizar a temperatura e densidade da água, o que pode evitar a estratificação e inversão térmicas. Podem ser chafarizes ou ter a forma de pás que se movimentam, e são movidos a energia elétrica, em sua maioria. Tem a função de compensar a diminuição do oxigênio da água em semanas com muito frio e pouco sol.

Captura de tela quadrada e colorida com quatro fotografias de aeradores em formato de chafariz. Elas estão organizadas em dua fileiras com duas fotos cada. As fotos 1, 2 e 3 mostram o aerador em movimento, com o chafariz que joga água para cima, no meio de um açude. Na foto 4, a estrutura do aerador chafariz, que é azul, e tem uma forma circular na base, que se estreita em um formato de cilindro com aberturas laterais. Abaixo das fotos, a legenda: "Figura 4. Aeradores chafariz em funcionamento e imagem de referência para este modelo de aerador. Fonte: (A, B e C) João A. Sampaio (arquivo pessoal), (D) Primato Cooperativa Agroindustrial ([2023])". O fundo é branco.
Aeradores em formato de chafariz. Fonte: Rotta et al, 2023.
Captura de tela de aeradores em formato de pá. São quatro fotografias organizadas em duas fileiras com duas fotos cada. Na parte superior, a primeira fotografia mostra três pontos de água esguichando. Na segunda, um aerador em formato de pá, com corpo azul e pás amarelas. A pá é formada por uma estrutura circular com várias lâminas. Na foto 2, as pás giram e jogam água para cima. Na foto 3, detalhe da água em movimento, para cima. Na foto 4, o aerador em pá parado. Abaixo das fotografias, a legenda: "Figura 3. Aeradores de pás em funcionamento e imagem de referência para este modelo de aerador. Fonte: (A e C) Trevisan Equipamentos Agroindustriais ([2023]), (B e D) Agricotec ([2023])". O fundo é branco.
Aeradores em formato de pá. Fonte: Rotta et al, 2023.

Experiências anteriores

Em 2015, uma primeira edição das capacitações do ProgeAqua foi aplicada na região noroeste do estado. Thamara Schneider é zootecnista e participou desta edição do projeto quando era estudante na UFSM em Palmeira das Missões. Ela conta que o projeto permitiu uma aproximação com a realidade das e dos produtores e favoreceu o diálogo entre o campo e a academia. “O ProgeAqua foi uma oportunidade de ampliar horizontes, conhecer diferentes realidades e dialogar com produtores de distintos perfis, enriquecendo minha formação profissional e pessoal”, relata Thamara.

Além das capacitações técnicas, também foram coletadas amostras de água, para avaliar em laboratório a qualidade físico-química. Os resultados das análises eram levados aos produtores junto com orientações técnicas de melhoria. Os cursos foram ministrados em 40 municípios, com enfoque em Palmeira das Missões, Sarandi, São Pedro das Missões, Jaboticaba, Novo Barreiro, Ronda Alta, Constantina, Sagrada Família, Frederico Westphalen, Seberi, Taquaruçu do Sul, Vicente Dutra, Iraí, Planalto, Nonoai e Trindade do Sul. Foram treinados mais de 800 produtores, que também receberam materiais de divulgação e orientações técnicas. O contato do projeto com os produtores foi feito por intermédio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).

Fotografia quadrada e colorida de um açude amplo em ambiente aberto, com gramas nas margens. Ao fundo, é possível ver algumas árvores de pinheiros, e o céu azul com nuvens arroxeadas.
Um dos açudes monitorados pelo ProgeAqua na edição de 2015.
Peixe tilápia em fase de crescimento. Ele é prateado com um leve tom de cobre. O peixe está na mão de alguém. O fundo é o chão com gramas esparsas.
Peixe tilápia em fase de crescimento.
Fotografia quadrada e colorida de cinco pessoas em pé ao lado de um açude. São três homens, uma mulher e uma criança. Elas estão em meio à uma grama fina mais alta. Ao fundo do terreno, algumas árvores. A grama se estende até o fundo da imagem. Na parte superior, o céu azul com algumas nuvens espalhadas.
Integrante do ProgeAqua e uma família de produtores ao lado do açude.

Reportagem: Samara Wobeto, jornalista

Edição: Luciane Treulieb, jornalista

Design: Evandro Bertol, designer

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