
O Centro de Convenções da UFSM foi o palco da 10ª edição do Arquivo em Cartaz, festival de audiovisual realizado pelo Arquivo Nacional, realizado na noite de segunda-feira (19). Esta é a primeira vez que o evento com produções nacionais e internacionais é realizado em Santa Maria. O tema desta edição do festival foi “Memórias da terra em filmes de arquivo”, com o objetivo de promover o diálogo sobre as relações do ser humano com o meio ambiente a partir dos impactos causados pelas mudanças climáticas e de um modo de viver sustentável e resiliente a partir dos exemplos dos povos indígenas e comunidades quilombolas.
A diretora do Arquivo Nacional, Monica Lima, destacou que a escolha de trazer o evento para Santa Maria pela primeira vez se deu pela relevância nacional e internacional do trabalho de restauração documental conduzido pelo Departamento de Arquivo Geral (DAG) da UFSM. “O trabalho realizado aqui é exemplar e pioneiro. Santa Maria é um exemplo de resistência, criatividade e de como a universidade transforma situações desafiadoras em conhecimento que é compartilhado com toda a sociedade”, disse. A diretora também lembra que a Universidade tem um dos cursos de Arquivologia mais antigos do país.
Outro motivo que trouxe o circuito até então inédito para Santa Maria, complementou Monica, foi o fato de a cidade ser um retrato da proposta do festival. A cidade foi fortemente atingida pela emergência climática, mas também se destacou pela resiliência de sua comunidade e seu interesse em um futuro mais sustentável. Além disso, Santa Maria possui em seu território comunidades quilombolas e povos indígenas, os detentores das memórias da terra.
Mas o que é o Arquivo Nacional? O Arquivo Nacional é responsável por preservar e divulgar documentos oficiais sobre a história do país. Registros escritos que datam desde a chegada dos portugueses são o começo de uma quantidade de registros que equivaleria a uma estrada de 50 km, de acordo com a diretora do órgão criado em 1838, durante o Período Imperial. Mapas, fotografias, arquivos sonoros e audiovisuais também fazem parte do acervo da instituição. Outra função do Arquivo Nacional é regulamentar e orientar sobre a gestão de documentos em todo o território nacional.
Trabalho intenso mas recompensador

O nome de Débora Flores, diretora do Departamento de Arquivo Geral da UFSM, foi o mais citado durante as homenagens. Foi ela quem liderou o trabalho de resgate das mais de 10 mil caixas danificadas pela água, que chegou a atingir dois metros de altura no subsolo do prédio da Reitoria, nas instalações do arquivo geral da UFSM. Apesar disso, nenhum arquivo da UFSM foi perdido. As caixas foram conservadas com técnicas de congelamento e agora começam a ser descongeladas para dar início à recuperação dos arquivos guardados no Espaço Multiuso.
A UFSM também trabalha na recuperação de arquivos de instituições externas, como IBGE, INMETRO, Banco Central, Ministério do Trabalho, Ministério da Saúde, Anvisa e outros localizados em Porto Alegre, onde ficam as unidades regionais dos ministérios federais. Equipes da UFSM trabalham na capital gaúcha em parceria com a UFRGS e IFRS na triagem e restauração de arquivos. Os documentos mais afetados são trazidos para serem restaurados no Campus Sede.
O trabalho de recuperação de documentos na UFSM se tornou referência nacional e internacional na área de arquivologia pela aplicação dos procedimentos de restauração em larga escala. “São poucos casos de perdas de documentos por alagamento como esse que ocorreu no Rio Grande do Sul, tanto que a UFSM hoje é um dos maiores casos mundiais de congelamento de documentos”, conta Débora.
Ela também explica que, além da conservação em larga escala, o laboratório no Espaço Multiuso utiliza técnicas inovadoras para recuperação de arquivos em larga escala. Os projetos de pesquisa do laboratório já arrecadaram mais de R$ 11 milhões em investimentos.
Noite de homenagens, audiovisual e discussões
A programação foi dividida em três partes. Na primeira, foram realizadas homenagens aos envolvidos no resgate e recuperação dos documentos da Universidade danificados na enchente ocorrida em maio do ano passado. Após, houve exibição dos filmes “A grande enchente de 2024 e a reconstrução da justiça” e “Que sobra de tudo que falta”, com produção, direção, roteiro, edição e captação de imagem de Kamila Flores Ruas, egressa da UFSM, orientação de Cássio dos Santos Tomaim, professor de Jornalismo da UFSM, e coorientação de Marilice Daronco.

Na sequência, foi realizado um debate intitulado “Diálogos sobre a importância da produção audiovisual”, que contou com a participação de Gilvan Odival Veiga Dockhorn, Marilice Daronco e Paulo Tavares. A mediação foi realizada pela coordenadora-geral de Relações Institucionais do Arquivo Nacional e egressa da UFSM Franciele Rocha de Oliveira.
O circuito também teve a exposição fotográfica “Retratos de Resiliência: UFSM na recuperação de seu acervo”, no hall do Centro de Convenções. Nela foram exibidas fotografias produzidas entre 30 de abril e 31 de julho de 2024. A exposição foi elaborada pelo DAG da UFSM, em parceria com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep).
Lista de Homenageados
Medalha Professor Mariano da Rocha Visitante Ilustre:
- Arquivo Nacional, representado pela diretora-geral Monica Lima.
Medalha Professor Mariano da Rocha Filho Ouro (Dada a pessoas que em momentos atípicos usaram de seus cargos para auxiliar a UFSM em momentos extremos):
- Comandante da 3ª Divisão de Exército, General de Divisão Paulo Roberto Rodrigues Pimentel;
- Comandante da 6ª Brigada, General de Brigada Marcus Augusto Bastos Neuvald.
Medalha Professor Mariano da Rocha Filho Prata (Dada a missões realizadas no Campus Sede da UFSM):
- Coronel de Cavalaria Marcio Gonçalves da Rosa.
Medalha Professor Mariano da Rocha Filho Bronze (Dada a grupos de trabalho que realizam ações na Universidade):
- Exército Brasileiro, representado pelo subtenente Luiz Arthur Caetano.
Após a concessão das medalhas, o DAG realizou a entrega de certificados a unidades da UFSM que colaboraram de alguma forma na missão de recuperação dos arquivos. A Casa de Comunicação, que abriga a Agência de Notícias, TV Campus e as rádios UniFM 107.9 e Universidade 800 AM, foi uma das premiadas. O certificado foi recebido pela diretora da Agência de Notícias, Mariana Henriques.
Exposição Fotográfica
Durante o evento, no hall de Centro de Convenções, foi inaugurada a exposição “Retratos de Resiliência: UFSM na recuperação de seu acervo”. Ela segue em exibição no hall da reitoria até o dia 03 de junho.
A exposição é fruto de uma parceria entre o Departamento de Arquivo Geral (DAG/UFSM) e a Oficina de Fotografia do Programa Movimenta, promovido pela Coordenadoria de Qualidade de Vida da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP).
As fotografias expostas foram produzidas entre os dias 30 de abril e 31 de julho de 2024 por servidoras e servidores integrantes da Oficina de Fotografia: Ana Vanessa Leguizamo Leon, Débora Dimussio, Lessandra Merladet de Barros, Andréssia Jociara Dias, Caroline Ariete Marquesini Rambo, Cristina Strohschoen, Daiane Regina Segabinazzi Pradebon, Debora Flores, Flávia Simone Botega Jappe e Rafael Happke.
O recorte temático da mostra foca nas pessoas envolvidas na Operação Recupera Acervo UFSM, destacando o esforço humano e coletivo empenhado na recuperação dos arquivos atingidos pela enchente. As imagens buscam sensibilizar e valorizar o trabalho realizado por tantas mãos que, com dedicação e resiliência, atuaram no resgate do patrimônio documental da universidade.
A curadoria é assinada por Beto Fidler e Cristina Strohschoen.
Texto: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Gabriel Barros, estudante de Jornalismo, voluntário da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista