Embora a emergência climática tenha se tornado uma preocupação recorrente na sociedade, especialmente em períodos de grande mobilização social, nem todos os seus aspectos ganham destaque nos noticiários ou no debate público. Quase sempre direcionados aos eventos extremos que afetam a vida humana, os debates coletivos frequentemente negligenciam outras formas de vida à beira do desaparecimento. Esse é o caso da perereca-rústica, um pequeno anfíbio descoberto em 2008 na Mata Atlântica do Sul do Brasil e hoje ameaçado de extinção.

É nesse contexto que surge o projeto “Perereca-rústica: ações de divulgação científica e conservação de um anfíbio ameaçado de extinção da Mata Atlântica”, vinculado ao Campus da UFSM em Palmeira das Missões e coordenado pela professora Elaine Lucas Gonsales – pesquisadora responsável pela descoberta da espécie. A ação atua em locais em que a espécie é registrada e conta com parcerias externas, como o Parques das Aves (em Foz do Iguaçu), o Zoológico de São Paulo e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“O nosso objetivo é promover ações direcionadas à conservação da perereca-rústica e dos campos de altitude da Mata Atlântica do Sul do Brasil. Atuamos com divulgação científica sobre a espécie e seu habitat, proposição de políticas públicas de conservação e atividades educativas em escolas e órgãos de meio ambiente”, comenta Elaine. A professora também destaca que, por meio das parcerias externas, o projeto desenvolve ações de reprodução ex situ da perereca-rústica – quando a prática de preservação acontece fora dos locais naturais de sua ocorrência.
Em 2024, o projeto foi contemplado com recursos do Fundo de Incentivo à Extensão (Fiex) para o desenvolvimento de suas atividades. No período, foram elaborados materiais informativos sobre a espécie e os locais onde é encontrada. Além disso, os integrantes participaram de oficinas de planejamento de ações de preservação junto à sociedade. “No ano passado, encaminhamos ao órgão estadual de meio ambiente [do Rio Grande do Sul] a proposição para a criação de uma unidade de conservação que proteja o habitat da espécie alvo e os recursos naturais, pois os banhados em que a espécie ocorre são importantes reservatórios de água, utilizada inclusive na produção de alimentos”, lembra a professora.
O projeto desempenha um papel essencial ao conscientizar a sociedade sobre os impactos das mudanças climáticas – não apenas na saúde humana, mas também na vida das espécies e em seus ambientes. Além disso, ao promover espaços para o compartilhamento de experiências e saberes, a ação ainda estimula a reflexão sobre maneiras de mitigar os efeitos dessas mudanças no cotidiano.
Elaine destaca que os estudantes que participam da ação podem ver na prática a aplicação do conhecimento produzido no ambiente universitário, ampliando suas formações acadêmicas e sociais. “Os estudantes conhecem a importância da produção e difusão do conhecimento científico na sociedade. A partir da tradução dessa linguagem científica, são desafiados a comunicar essas informações, que podem ser aplicadas na prática por diferentes atores sociais em suas atribuições”, ressalta.
Como exemplo dessa atividade de popularização do conhecimento científico, Elaine cita o trabalho desenvolvido junto aos setores que realizam os licenciamentos ambientais nas regiões de ocorrência da perereca-rústica. “Organizamos documentos sobre a espécie e seu ambiente e entregamos aos setores de meio ambiente responsáveis. Assim, medidas mitigadoras e compensatórias ligadas à implantação de empreendimentos podem ser planejadas com maior eficiência, reduzindo a pressão sobre espécies ameaçadas”, finaliza.
Texto: Subdivisão de Divulgação e Editoração da Pró-Reitoria de Extensão
Foto: Parque das Aves