O novo Centro de Triagens de Animais Silvestres (Cetas), localizado na Universidade Federal de Santa Maria, em convênio com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foi inaugurado na manhã desta terça-feira (16). O espaço fica localizado atrás do Hospital Veterinário Universitário (HVU), no Campus Sede, e além de realizar o resgate e tratamento de animais silvestres, pretende oportunizar estágios, iniciativas e projetos relacionados à fauna silvestre para a comunidade acadêmica.

A cerimônia de inauguração se iniciou no Salão Imembuí, na Reitoria, e foi finalizada com uma visita ao local. Contou com a presença do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho; da superintendente do Ibama/RS, Diara Sartori; do reitor da UFSM, Luciano Schuch; da vice-reitora, Martha Adaime; do secretário municipal do Meio Ambiente, Diego Rigon de Oliveira; de Renata de Baco Hartmann, da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam); Maristela Lovato, representando o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul; Diego Vilibaldo Beckmann, gerente do HVU, além de representantes da Brigada Militar e diretores e pró-reitores da Universidade. A inauguração foi alusiva ao Dia do Bioma Pampa (17 de dezembro).
Parceria com a UFSM
A criação de um Cetas em Santa Maria, junto à UFSM, é um projeto que estava em planejamento desde 2010. O compromisso foi consolidado em maio de 2025, com a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica nº 25/2025, confirmando a gestão compartilhada da unidade pelas duas instituições. “A ideia da parceria com a Universidade é justamente isso, entendemos que o Cetas é um espaço educativo, de formação, de capacitação, e aqui os alunos da Universidade poderão se beneficiar com isso, podendo aprender como manejar um animal silvestre, como lidar com eles”, comentou o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.
“O Cetas irá resgatar o olhar para o Bioma Pampa, com certeza fará toda a diferença. Não só para os animais, mas também para os nossos estudantes, para a produção de pesquisas. Vamos ter, além da assistência necessária para os animais, também espaço para a formação na nossa Universidade. Essa rede de apoio é fundamenta”, destacou o reitor, Luciano Schuch, em sua fala durante a inauguração da unidade.
Além da realização do resgate e tratamento da fauna silvestre, a parceria com a Universidade visa ao oferecimento de oportunidades de estudos, formação acadêmica e projetos voltados à conservação da fauna no espaço, possibilitando o desenvolvimento de diversas iniciativas nas áreas da Biologia, Medicina Veterinária e Zootecnia com a comunidade acadêmica. “É uma parceria há muito tempo esperada. Estamos muito felizes, fiz questão de vir pessoalmente de Brasília para cá, para prestigiar esse momento”, compartilhou o presidente do Ibama.

Cetas auxiliam na preservação da fauna silvestre
Atualmente, com o novo centro em Santa Maria, o Ibama conta com 26 Cetas no país. Os espaços têm como objetivo realizar o resgate, a reabilitação e a conservação da fauna silvestre, responsável pelo recebimento de animais resgatados ou apreendidos pela população, e executar a identificação, marcação, triagem, avaliação, tratamento, recuperação e reabilitação desses animais, visando devolvê-los à natureza. Entre 2020 e 2025, os Cetas do Ibama receberam mais de 370 mil animais silvestres no país, dos quais 61% voltaram para a natureza após tratamento e/ou reabilitação.
A capacidade inicial do centro inaugurado na UFSM é de alojar cerca de 100 animais, mas a previsão é a ampliação da estrutura ao longo dos próximos anos. Segundo Rodrigo, está sendo criado um acordo, também com o governo estadual, para a cooperação técnica no fornecimento de alimentos, medicações, na destinação dos animais, para a redução de atropelamentos e para o combate ao tráfico. “Muitos animais são atropelados nas rodovias da região. Também recebemos no Cetas de Porto Alegre animais que acabam sendo traficados e trazidos para essa região, e que agora vão ter o Cetas aqui, como é o caso do cardeal amarelo e dos caboclinhos. Queremos poder trabalhar melhor a conservação dessas espécies aqui”, ressaltou Agostinho.
Localização estratégica
A criação de um Cetas em Santa Maria responde a uma demanda de vulnerabilidade ao tráfico internacional de animais silvestres, devido à proximidade com as fronteiras com a Argentina e o Uruguai. Além disso, a localização do município na região central do estado permite uma maior rapidez no atendimento, transporte e destinação dos animais, que ocorrerá por meio da rodoviária e do aeroporto da cidade.
Além de atropelamentos e do tráfico, um dos impactos observados em espécies silvestres são incidentes envolvendo redes elétricas. Em 2025, foi registrada a morte de 25 bugios-ruivos e 15 mutilações na região de Porto Alegre e Viamão. Em Santa Maria, um bugio causou a interrupção do fornecimento de energia elétrica ao entrar na rede da Subestação Santa Maria 3, no Distrito Industrial, no dia 14 de novembro, e acabou morrendo no dia 18. Situações como esta demonstram a necessidade de reforço desta atuação na região central.
O Cetas na UFSM é uma unidade estratégica, pensada para ser um local de estadia temporária – e não permanente – dos animais, objetivando sua reabilitação e retorno para a natureza. Ainda, visa preservar a fauna do Pampa, que é um bioma ameaçado. “Os animais chegarão, serão triados, passarão por quarentena, serão reabilitados, e, quando possível, voltarão para a natureza. Hoje, no Brasil inteiro, no Cetas do Ibama chegam 60 mil animais por ano e 40 mil já conseguem voltar para a natureza”, relata o presidente.
Texto: Giulia Maffi, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Fotos: Paulo Baraúna, estudante de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti