Estar em uma faculdade
vai além de apenas assistir às aulas. É necessário discutir e refletir a
respeito da carreira escolhida constantemente, pensando de que forma pode-se
atuar como profissional da forma mais útil à sociedade.
É nesse sentido que o
Encontro Regional de Engenharia e Desenvolvimento Social da Região Sul (Ereds
Sul) atua. Neste ano, Santa Maria recebeu estudantes de Engenharia de toda a
região Sul do Brasil para repensar o papel da profissão na sociedade atual, e
também criticar e pensar alternativas para uma Engenharia mais popular e
solidária.
O encontro aconteceu de
quinta-feira (19) até sábado (21), no anexo C do Centro de Tecnologia (CT).
Durante o evento, ocorreram diversas mesas a respeito dos mais variados
assuntos: feminismo, questões LGBT, protagonismo estudantil, o desastre de
Mariana (MG), entre outros. Além disso, o evento contou com apresentação artística
da Atemporânea Cia. de Dança, que fez um tributo à tragédia de Mariana, ocorrida
em novembro de 2015.
Com o objetivo de reunir
estudantes e professores, o 1º Encontro de Engenharia e Desenvolvimento Social
foi realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2004. Na
época, não se imaginavam as dimensões que tal encontro tomaria, mas alguns anos
depois, em 2011, começou a ganhar edições regionais e inclusive nacionais,
chegando à sua 12ª edição em 2015, realizada em Salvador (BA), com cerca de mil
participantes, maior público do evento até hoje.
Segundo a organização do
Ereds Sul deste ano, a importância do evento consiste em debater uma Engenharia
que contribua para o desenvolvimento social do país. “Nossa formação é muito
tecnicista, não há espaços dentro da academia que pautem uma Engenharia que
desenvolva tecnologia a partir da realidade e da necessidade da população
brasileira. Esse evento é essencial para debatermos uma formação completa, para
que todo engenheiro tenha consciência de que não existe tecnologia, Engenharia
nem posição profissional que são neutras e que inclusive a ‘neutralidade’ que
nos é ensinada tem lado”, comentam os organizadores Melissa Ragagnin, Yamil
Salomón e Felipe Arruda, todos alunos de Engenharia da UFSM.
Além desta criticidade, eles
destacam que o processo de formação de um aluno não se complementa apenas com
conteúdos academicistas vistos em sala de aula. Uma parte essencial da formação
é o debate promovido em encontros como o Ereds, questionando e criticando as
regras de um sistema pré-posto. É o que ressalta a integrante do Movimento
Estudantil, Mariana Sebastiany. “Muitas vezes a gente aprende mais nesse tipo
de debate longe da sala de aula do que propriamente na aula. Aprendemos a
criticar justamente coisas que vemos dentro de sala de aula”, comenta a estudante
de Serviço Social.
Para o professor José
Antonio Gomes Albuquerque Cesar, formado
pela UFPE, é preciso mostrar aos alunos, através deste tipo de debate, que é possível
entrar em contato com uma Engenharia popular e solidária. “Acredito que já
existem movimentos que pensam uma outra Engenharia possível. Uma Engenharia
solidária, não no sentido de prestar favor, mas de reconhecer o seu papel. O
engenheiro não só constrói prédios, ele vai mostrar por exemplo, em qual tipo
de sociedade a gente vive”, comenta José Antônio.
Além disso, o professor
chama atenção para que se pense uma Engenharia mais humana, começando pelo
próprio engenheiro, que além de questionar-se a pergunta crucial do evento,
“que engenharia estamos construindo?”, deve perguntar-se “que engenheiro eu
quero ser?”.
Segundo ele, “movimentos
como o Ereds chegaram para transformar, com pessoas que acreditam que existe a
possibilidade de uma Engenharia diferente, que não seja só louca pelo concreto
translúcido, mas que reconheça como construir com a sociedade”.
Texto e fotos: Taísa Medeiros, acadêmica de Jornalismo, bolsista da Agência de Notícias
Edição: Ricardo Bonfanti

