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Enlaces conversa com Wagner Virago 

Militar e paratleta iniciou no paradesporto neste ano e é vice-campeão brasileiro



Foto colorida horizontal de Wagner, homem jovem. Ele está sentando do lado esquerdo. Atrás dele, a pista olímpica do CEFD, que tem um piso cor de telha com marcações em branco.
Wagner Virago treina na pista olímpica do CEFD e sonha com as Paraolimpíadas de Los Angeles

Militar há 16 anos, Wagner Virago recentemente iniciou sua carreira como atleta profissional. Desde criança, convive com familiares policiais militares e desejava ser como eles. Quando cresceu, prestou o serviço militar obrigatório e decidiu que era lá que queria continuar. Hoje, Wagner atua na Brigada Militar de Santa Maria. 

Na infância, praticou diversos esportes, como futebol e judô. Na vida adulta, participou de corridas e lutas. Até que um acidente de moto aos 22 anos o fez perder o movimento do pé esquerdo. Inicialmente, Wagner teve dificuldade para lidar com a situação. Contudo, o esporte o ajudou a recuperar a motivação e, neste ano, ingressou no atletismo paralímpico como velocista de 100 e 200 metros na categoria T44. 

Nossa entrevista foi realizada na pista olímpica do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), no campus sede da UFSM. Debaixo de forte sol, o atleta nos contou sua história de superação. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como você ingressou na carreira militar?

WAGNER VIRAGO – Eu venho de uma família de militares. Meu pai e meus primos são todos policiais militares. E eu sempre fui motivado a ingressar nesse meio por parte do meu pai. 

Em 2006, quando prestei o serviço obrigatório, tive uma proposta de emprego. Era entrar nesse emprego ou servir no exército. Eu conversei com meu pai e ele falou: “vai para o exército. Tem que passar por essa experiência. Eu passei, tu tem que passar. Vai ser bom para ti”. E eu entrei no exército e gostei daquele ambiente. Na época, não me via fazendo outra coisa. Eu gosto de farda e coturno. Desde então, queria seguir carreira na unidade. Fiquei três anos no 4° BLog [Batalhão Logístico em Santa Maria]

Na época, comecei a estudar para a ESA [Escola de Sargentos e Armas], para me efetivar na carreira. Estudei durante dois anos e reprovei na redação. Como já estava bem afiado nos estudos, fiz o concurso da brigada. Passei bem classificado e consegui ficar aqui na região. Desde 2009, sou policial militar aqui na cidade. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – A carreira militar já exige exercícios físicos, como que o esporte entrou na sua vida? 

WAGNER – A carreira militar exige muita disciplina e resiliência. Você tem que estar bem preparado fisicamente. Sempre levei isso muito a sério. 

No final do meu curso, quando entrei na Brigada Militar, sofri um acidente de moto. Esse acidente foi bem feio, quase amputei a perna abaixo do joelho. Fiquei com uma lesão, uma deficiência permanente na perna. No meu pé, eu não tenho os movimentos de tornozelo, de reversão e inversão. 

Após o acidente, engordei mais de 30 quilos. Fiquei um tempo depressivo, porque era muito novo, não sabia lidar com aquela situação. Eu tinha muita ansiedade, comia muito, não conseguia gastar energia e engordei. O esporte começou a entrar nessa fase da minha vida, como reabilitação, porque passei por cirurgias na perna. Eu comecei a correr, fazer musculação e estudar nutrição. Dei a volta por cima, emagreci 30 quilos, comecei a treinar e percebi que o esporte mudou minha vida de um jeito. Eu voltei a ser aquele cara motivado e empenhado. 

Na época eu participei de algumas competições mesmo com a deficiência, como corridas de rua e rústica. E eu ia bem classificado, ponteava e, em algumas, era campeão. O esporte me traz bem-estar e vontade de seguir.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Quais foram os desafios que você enfrentou para se tornar atleta paralímpico? 

WAGNER – Eu sou muito novo no atletismo, mas já participei de outras modalidades do esporte antes. Lutas, corridas de rua e corridas com obstáculos. Nesse universo de paratleta, sempre fui um atleta amador. Agora estou me profissionalizando no atletismo. Entrei em março e estou aprendendo muito com meus professores, com a universidade, com todo o apoio que eu tenho da minha associação, o RS Paradesporto, que represento. Essa associação tem parceria com a Universidade.

No início, tudo é muito difícil. Às vezes tu não sabes se estás no caminho certo. Eu agradeço a Deus, porque tenho uma equipe muito forte e uma estrutura no meu entorno que me direciona na Universidade, na minha família e na minha associação. Graças a eles eu estou me direcionando ao esporte.

Estou conquistando meu espaço. Eu participei só de três competições oficiais. Então tenho muito para aprender. Apesar das dificuldades, eu, como bom militar, sigo firme, com resiliência. Toda rotina como militar, como atleta, não é fácil. Sou pai também. Então envolve muita coisa. Mas tu tem que fazer o melhor.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Você sempre gostou mais do atletismo ou pensou em outros esportes também? 

WAGNER – Eu comento que sou um cara multiesportista. Eu já pratiquei várias modalidades. Quando eu era pequeno, jogava futebol e fui atacante do Santos. Eu fui pro judô. Tenho uma história na luta de braço. Fui campeão gaúcho da luta de braço. Depois, fui pra rústica e corridas de rua. Também participei de provas de OCR, que são com obstáculos. Fiquei em quarto lugar no Sul Americano de OCR no ano passado. Agora, vou focar nessa carreira, que é o mundo das velocidades. Pista, atletismo, 100 metros e 200 metros. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS- Como você chegou até a Universidade? 

WAGNER –  Eu sou acadêmico de Educação Física. No final do ano passado, estava estudando uma disciplina que falava sobre educação física inclusiva e tinha a história das Paralimpíadas, que surgiram na Segunda Guerra Mundial como forma de reabilitação. No final, essa disciplina fazia referência ao Comitê Paralímpico Brasileiro, o CPB. No domingo à noite, eu já acessei o site do comitê e tinha ali: “quero ser um paratleta”. Ali havia as cidades que trabalhavam com a iniciação do esporte adaptado. Não tinha Santa Maria, mas tinha em Porto Alegre. Então, eu mandei uma mensagem no Whatsapp para a RS Paradesporto. Expliquei que eu tinha uma deficiência e praticava o esporte, mas não sabia se essa deficiência me habilitava a participar como um atleta profissional. E ela foi receptiva, me passou para o técnico deles e marcou um treinamento em Porto Alegre. Eu fui lá, fiz um teste, ele gostou muito. Daí começou a minha história no para-atletismo. 

Só que eu tinha uma questão: eu não tinha onde treinar. Porque a pista olímpica mais próxima era em Porto Alegre, o que ficava inviável. Daí, a própria presidente me falou sobre a UFSM: “lá tem uma pista muito boa”. Então, ela fez um ofício para a Universidade para solicitar que fizesse meus treinamentos aqui na pista. E aí começou a parceria da RS Paradesporto com o NAEEFA [Núcleo de Apoio e Estudos da Educação Física Adaptada]. Estou treinando hoje com o apoio deles.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Como é a sua rotina de treino?

WAGNER – É uma rotina que começou muito bagunçada e está um pouco melhor agora. Eu ainda não estou treinando como gostaria, por ter a rotina de militar, de pai, marido e atleta. Tudo muito corrido, mas eu tento me adaptar conforme as demandas vão chegando. Eu não consigo me organizar muito, pois trabalho no batalhão de choque, que tem muita demanda. Às vezes não consigo encaixar com os treinos.

Minha atividade principal é a militar e o paradesporto está entrando agora. O NAEEFA é bem flexível. Eu espero me organizar melhor ano ano que vem e encaixar melhor os treinos. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS- Qual foi a sua conquista mais significativa, para você, no esporte? 

WAGNER – Eu tive três competições oficiais. A minha primeira competição foi em março. Agora realmente sou paratleta, sou federado e rankeado. 

A competição mais importante foi a última em que participei do meeting paralímpico. Depois da primeira fase do nacional, a segunda foi bem marcante para mim. Eu fui vice-campeão brasileiro. Eu não esperava, porque estava na correria do dia-a-dia, não vinha treinando fielmente. Essa foi muito marcante para mim, para a minha associação e para a Universidade também. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS- O que mais te motiva hoje? 

WAGNER – A minha família, minha filha e Deus. Eu tenho uma filha com síndrome de Down, a Selena. Ela tem dois aninhos e vejo o esforço dela desde muito novinha. Ela sempre tem questões de fonoaudiologia e fisioterapia. Ela me motiva muito. A minha família é a minha base e o meu apoio. O que eu faço, os meus esforços, é pensando neles. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS – Quais são os seus próximos objetivos? 

WAGNER – Quero seguir na minha carreira militar, visando a evolução. Eu me orgulho muito de ser militar.

No esporte, quero me tornar um campeão e estou me preparando para o Campeonato Brasileiro, que será daqui a três semanas. É o campeonato mais importante para mim. Lá vão estar os melhores atletas do Brasil. É uma competição que vale bolsa atleta para quem ficar entre os três primeiros. É bem acirrada e um nível muito alto. 

Eu quero ser campeão e quero executar uma corrida melhor que na última. Eu sempre converso com o pessoal do NAEEFA aqui e com a minha associação: o ano que vem promete muita coisa, muitas competições. Em 2027, tem os Mundiais de Atletismo e o Parapan. Ano que vem quero treinar bem para, em 2027, eu representar Santa Maria nessas competições internacionais. 

Quem sabe, em 2028, o sonho de todo atleta que são as Paralimpíadas, que serão em Los Angeles. É o meu sonho: representar Santa Maria e Rio Grande do Sul nas Paralimpíadas de Los Angeles. 

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS- O que o atletismo é para você? 

WAGNER – O atletismo é a minha vida. O esporte é sinônimo de superação, resiliência, foco e determinação. A minha mãe me contava que quando eu era moleque, com 5 ou 6  anos, meu pai tinha uma pensão de militares. Ele alojava mais de 30 militares e eu fui criado no meio desses milicos. Nós tínhamos uma casinha lá e eu ficava nas pensões brincando. 

A minha mãe me contava que os milicos saiam para fazer atividade física. Fazer barra, flexão, correr e alongamento ali no pátio mesmo. Eu ficava no meio deles fazendo as mesmas coisas. Eu corria, fazia flexão. Os milicos suavam bastante e eu, por ser pequeno, não suava. Eu chegava no tanque, me molhava e falava: “estou todo suado”. Eu sempre estive nesse meio. E o esporte é isso, ele me traz uma versão melhor a cada dia.

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS- Para finalizar, a gente sempre deixa os entrevistados escolherem o lugar para a nossa conversa. Por que você escolheu a pista do CEFD?

WAGNER – Porque aqui é onde eu estou transformando minha vida no esporte. Eu tenho que ser grato a Deus por me apresentar às pessoas certas. Se eu estou aqui é porque tem alguém por trás disso fazendo acontecer. À professora Luciana, que é a coordenadora que me colocou aqui dentro, à minha associação que fez contato com a Universidade e fechou parceria para eu treinar. Então, nada melhor que essa pista para fazer essa entrevista. É o lugar onde eu sofro bastante com esse sol, mas é onde me supero todos os dias. E é através dessa pista que eu vou conquistar bons resultados lá fora.

A Série Enlaces entrevista pessoas ligadas à UFSM. É um especial dos 65 anos da instituição produzido pela Agência de Notícias para o site e para o Instagram.

Entrevista e texto: Jessica Mocellin, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias 
Fotos e vídeo: Paulo Baraúna, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias 
Edição: Maurício Dias, jornalista da Agência de Notícias

Supervisão geral: Mariana Henriques, jornalista e chefe da Agência de Notícias

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