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Semana 8M: no dia das mulheres, professoras da UFSM relembram a importância da presença feminina na área de tecnologia

Docentes ressaltam avanços, mas pedem mais incentivo à participação feminina nos cursos de tecnologia



Nesta quarta (8), é celebrado o dia internacional das mulheres, data criada para valorizar e lutar por maior igualdade de gênero na sociedade. Uma das áreas que mais clamam por isso é a da tecnologia. Por isso, a Agência de Notícias da UFSM conversou com três professoras do Centro de Tecnologia (CT) da Universidade para que dividissem suas perspectivas e incentivassem mais mulheres a se juntarem à elas. 

Retrospecto: o que mudou? 

Alzenira no Operador Nacional de Sistema – ONS no Rio de Janeiro. (Foto: Arquivo pessoal)

Alzenira da Rosa Abaide é professora titular do Departamento de Eletromecânica e Sistemas de Potência da UFSM, onde é pesquisadora PQ – Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro do IEEE Power & Energy Society e IEEE WiE Women in Engineering. O Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) é uma organização norte-americana sem fins lucrativos,  considerada a maior organização profissional do mundo dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade. 

Para ela, nos últimos anos houve avanços na participação das mulheres na ciência, bem como uma maior consciência e reconhecimento da importância da diversidade de gênero. No entanto, avalia que as mulheres ainda são sub-representadas em muitos campos da ciência, como matemática, física, engenharia e ciência da computação. Algumas das razões para essa sub-representação incluem fatores culturais e sociais, como estereótipos e preconceitos de gênero, falta de referências e expectativas da sociedade, avalia Alzenira. “Apesar dos avanços, a tecnologia ainda tende a ser vista como um campo masculino. O retrato da tecnologia na cultura popular é um campo dominado por homens, e a falta de representação feminina na mídia e publicidade causa impacto”, afirma. 

Luciane no Laboratório Nacional de Energia Renovável (Foto: Arquivo pessoal)

Sua colega, a professora Luciane Neves Canha, compartilha do pedido por uma crescente participação feminina nas cadeiras dos cursos tecnológicos. A docente também é membro do IEEE Power and Energy Society (PES) e IEEE Women in Engineering (WiE). Luciane foi incluída entre as 21 mulheres mais influentes da mobilidade no mundo pela Vulog, em 2021. Dentre outras conquistas, foi responsável pela instalação do primeiro eletroposto rápido para recargas de veículos elétricos do Rio Grande do Sul. 

Em sua análise, também entende que houve uma evolução significativa na participação feminina na área, mas acompanhada por uma insistente disparidade em relação aos homens. Nesse cenário, entende que as mulheres, com muito esforço, têm buscado conduzir suas pesquisas, arrematar recursos e montar laboratórios, em uma sociedade que “apesar do aumento de 78% da participação feminina em cargos executivos, diretorias e conselhos entre 2017 e 2022, ainda possui apenas cerca de 14% de mulheres em posições de comando das empresas de capital aberto”, relata, com base em  dados do TradeMap

Participação em tomadas de decisões

Andrea Charão em entrevista à TV Campus

Há mais visibilidade para o envolvimento das mulheres na ciência, mas também surgiram novos desafios, dentre eles um momento de crise da ciência, reflete outra docente do Centro de Tecnologia, desta vez do Departamento de Linguagens e Sistemas de Computação, Andrea Schwertner Charão. A professora foi coordenadora do Curso de Bacharelado em Ciência da Computação da UFSM, de 2013 a 2015, e tutora do grupo PET (Programa de Educação Tutorial) deste mesmo curso, de 2007 a 2010. 

“Gosto de acreditar que a participação feminina na área sempre existiu, de uma forma ou de outra, mesmo que limitada a papéis coadjuvantes em alguns tempos e espaços, ou ainda não reconhecida ou não contada”, entende a professora. Assim, relata que é preciso constantemente incentivar e valorizar a presença de mulheres em esferas de progresso e decisão. 

Luciane concorda e complementa ao explicar que a ciência se faz com parcerias e cooperação entre universidades e empresas, e o fato de ter poucas mulheres em cargos de direção é um elemento que contribui para haver, também, dificuldades no aporte financeiro à pesquisas conduzidas por mulheres. Ela traz a informação de que, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em apenas 34% das áreas do conhecimento as mulheres alcançam equidade ou são maioria entre docentes na pós-graduação. 

Ainda, em sua área, a engenharia elétrica, são apenas 11% de mulheres atuando nas pós-graduações. Dessa forma, “deve-se dar a devida divulgação às ações de mulheres que atuam na área tecnológica, engajar meninas nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) desde o ensino fundamental, levá-las palestras e mentorias de mulheres das áreas tecnológicas para, assim, termos um maior crescimento feminino nesse setor”, aponta Luciane.

A quebra de estereótipos

Como destacou anteriormente, Alzenira acredita que uma das razões que não contribuem para a participação feminina na área tecnológica é que esta tem sido tradicionalmente associada aos interesses e habilidades masculinas. Além disso, “a cultura da indústria da tecnologia pode ser hostil para as mulheres, com falta de iniciativas de diversidade e inclusão, preconceitos inconscientes e práticas discriminatórias”, reitera. 

No entanto, a docente salienta que esforços estão sendo feitos para resolver essas questões e criar uma indústria da tecnologia mais equitativa e inclusiva. Segundo Alzenira, muitas organizações de renome mundial estão trabalhando para aumentar a diversidade e a inclusão no campo, fornecer orientação e apoio para mulheres em tecnologia e desafiar esses estereótipos e preconceitos. “Com esses esforços, podemos esperar ver uma mudança em direção a uma indústria de tecnologia mais equilibrada e diversificada no futuro”, crê. 

Andrea percebe, na área da computação, ainda uma predominância masculina, apesar de vários esforços que têm conseguido transformar este cenário pontualmente. Esforços os quais, conforme a professora, têm motivos diversos e são até alvos de pesquisas. Tal qual sua colega de centro, Andrea acredita que, por trás de um aparente desinteresse de mulheres pela área, há uma construção social de estereótipos associados às profissões, que acabam afastando quem não se identifica com um suposto perfil. “Mudanças exigem tempo e ações e, nesse sentido, estamos em um momento propício de muita demanda na área, associada a uma maior consciência da importância da diversidade nas esferas que criam e desenvolvem tecnologias”, pondera. 

Preconceitos velados e explícitos

“Em minha trajetória, enfrentei vários obstáculos das mais variadas formas, porém resolvi ignorá-los e seguir adiante, como se nada tivesse acontecido, foi a forma que encontrei para conquistar meu espaço profissional”, compartilha Alzenira. Dentre os percalços, um ficou em sua memória para sempre: quando fez a primeira matrícula na UFSM, um colega a perguntou o que ela estava fazendo ali, na engenharia, ‘tirando o lugar de um homem’. Depois, ocorreram outras situações, igualmente doloridas. “Foram agressões à condição de ser mulher. Senti-me comparada a um objeto, sem  inteligência ou competência. Essas situações marcam para sempre”, relembra.  

Em outro momento, chegou a presenciar um preconceito com uma aluna, enquanto exercia o cargo de coordenadora do curso de Engenharia Elétrica. Na época, uma grande empresa pediu uma lista de formandos, para entrevistá-los para o regime de trainee. Entre os nomes enviados, estava o da futura engenheira eletricista. Logo em seguida a empresa fez contato e disse que a coordenadora cometeu um engano, porque mandou o nome de uma mulher. Após Alzenira cobrar enfaticamente alguma atitude, a empresa se retratou e ofereceu uma vaga para a engenheira. 

Por sua vez, Luciane também conviveu com o preconceito em sua trajetória, desde que ingressou no curso de Engenharia Elétrica em 1989, quando foi a primeira colocada de sua turma no antigo vestibular da UFSM. Ao longo da graduação, enfrentou dificuldades com colegas, além de ouvir discursos machistas, explícitos e subliminares: “sempre busquei me posicionar contra essas atitudes, contra falas ditas de brincadeira, mas que carregam um machismo estrutural que deve ser banido”. 

Luciane afirma que o preconceito existe até hoje, vem de homens e também de mulheres que não avançaram ou foram criadas dentro de uma sociedade machista que, muitas vezes, reprime as opiniões contundentes que venham delas. “Tenho a característica de ter opiniões fortes, posiciono-me sempre dentro dos temas que atuo e frequentemente isso é visto com desdém ou com a ideia errada de que as mulheres querem tomar os lugares dos homens. Mas não é isso, queremos discutir par a par com eles e sermos ouvidas com a mesma atenção que um homem é ouvido”, afirma a docente. 

Já Andrea não lembra de ter enfrentado obstáculos quando ingressou no curso. Hoje ela atribui isso a uma estrutura familiar favorável e a uma afinidade com ciências exatas e tecnológicas. No entanto, ao longo da carreira, surgiram  muitas situações que a fizeram refletir sobre estereótipos, diferenças e minorias: “o que mais me afeta não são exatamente questões enfrentadas por ser mulher, mas por ser alguém consciente do quanto ainda temos a evoluir como pessoas e como sociedade”, conta. 

Os avanços na UFSM 

No Centro de Tecnologia, dentre 300 servidores, 94 são mulheres, isto é, 31%. No recorte de docentes, elas representam 27% do total. Na área de Alzenira, a participação feminina é de absoluta minoria. Ela relata que, quando era estudante, havia apenas uma professora na engenharia elétrica, hoje há quatro, uma pequena evolução que levou 40 anos: “acredito que esse avanço é insignificante, entretanto a UFSM desenvolve ações para divulgar a atuação das mulheres, incentivando a participação feminina”. Ela acrescenta que o aumento da participação das mulheres na área tecnológica é um objetivo que deve ser constantemente buscado, usando como exemplo as ações internacionais. 

Para Luciane, o aumento na oferta de cursos ligados às áreas de engenharias, tecnologia da informação e comunicação, meio ambiente e energia auxiliou no crescimento do ingresso de mulheres na área. Ela justifica que, assim, são mais opções e, portanto, há mais mulheres na docência das áreas de tecnologia e mais mulheres atuando na pós-graduação, embora ainda poucas e minoria em relação aos homens. 

“Considero a UFSM uma Universidade muito inclusiva, deve-se louvar seu engajamento em várias ações que envolvem a maior participação das mulheres”, continua.  À exemplo, a professora cita a  vice-reitora, Martha Adaime, e a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Cristina Nogueira, que representam fortes avanços na gestão da Instituição. Luciane também lembra a trajetória de Nilza Zampieri, que foi diretora do CT há cerca de 25 anos e trabalhou pela implementação de todo o ecossistema de empreendedorismo que existe hoje na UFSM: “é um exemplo para todas nós”. 

Já no âmbito da Universidade, Andrea compreende que há um quadro diverso de docentes e técnicos, o qual considera muito positivo. Nesse cenário, “estudantes nas áreas tecnológicas convivem com professoras e professores com diferentes formações e vivências. Esse ambiente tem acolhido bem algumas iniciativas que visam aproximar mais mulheres dessas áreas”, frisa. Andrea lembra que ela mesma já coordenou ações extensionistas para meninas na educação básica, momento em que se aproximou de outras professoras que também exercem essas atividades. Em sua área, Andrea ressalta o grupo BitMarias, criado por e para alunas de Computação da UFSM, a fim de prestar apoio e  visibilidade à participação feminina no campo. “Essas ações se somam a muitas outras com objetivos semelhantes. Considero que são avanços importantes, mesmo que o impacto seja difícil de avaliar a curto prazo”, aponta. 

Incentivo às iniciantes 

Por fim, as professoras deixam uma mensagem de motivação àquelas que anseiam em seguir na área tecnológica. 

“Não desistam jamais se a área tecnológica é sua vocação. Assim, terão a satisfação de desenvolver um trabalho que compensa a dificuldade e os inegáveis preconceitos, proporcionando satisfação profissional e pessoal”, diz Alzenira. 

“O mais importante não é a chegada, mas o caminho. A vida é preciosa e nosso tempo é nossa maior riqueza. Portanto, temos de dedicar nossas vidas àquilo que efetivamente desejamos, mesmo que seja difícil ou que imponham barreiras aos nossos sonhos e objetivos. Somos muitas e todas temos a contribuir. Há mulheres, apesar de poucas, em diversos setores das áreas tecnológicas e a grande maioria é referência em suas atuações. Busquem esses exemplos, apoiem-se umas nas outras. As mulheres precisam criar redes de apoio para terem força e aumentarem sua presença nas tomadas de decisão e nas áreas onde hoje predominam os homens”, afirma Luciane. 

“A quem está iniciando ou deseja iniciar em Computação, gostaria primeiro de parabenizar pelo interesse em uma área que impulsiona todas as outras. Vocês vão deixar de apenas consumir tecnologias,  passando a entender como criá-las. As competências que irão adquirir não são triviais e levam algum tempo para desenvolverem-se, portanto procurem não desistir quando surgirem as dificuldades. Aproveitem a jornada de aprendizado para fortalecer as relações com pessoas da área e fora dela, pois, no fim das contas, tecnologias são criações de pessoas para pessoas”, finaliza Andrea.

Texto: Gabrielle Pillon, estudante de jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques, jornalista 

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