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Criação musical, experimentação e pesquisa artística

CRIAÇÃO MUSICAL, EXPERIMENTAÇÃO E PESQUISA ARTÍSTICA (CM.ÊPA!)

Ver no Diretório de Grupos da CNPq Pesquisa Em Atividade

Contato:

paulo.r.filho@ufsm.br

Resumos

NOVAS TRÍADES 2022

RESUMOS DOS TRABALHOS APRESENTADOS

NAS SESSÕES DOS PAINÉIS DE CRIAÇÃO E PESQUISA

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Esta página apresenta os resumos em suas versões enviadas para avaliação. Seu intento é servir como suporte para a plateia, durante as comunicações apresentadas nos Painéis.

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As versões finais devem ser enviadas, com as correções sugeridas pelos pareceristas, até o dia 10/10/2022, para serem publicadas no caderno de resumos do evento (data de publicação a confirmar).

 


 

DIA 23/09/22

SESSÃO A

Arthur Reckelberg Borges da Silva: Relato do processo de composição de Pleroo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um relato do processo de criação (em andamento) da peça Pleroo para Piano, Vibrafone, Oboé, Corne Inglês, Clarineta, Flauta Doce Alto, Violoncelo, Guitarra Elétrica, Baixo Elétrico, Percussão Múltipla e Live Electronics. Parte de um ciclo de vinte e uma composições, Pleroo é a terceira do grupo “Lídios” que explora a sonoridade do modo Lídio da Escala Maior. Também parte dos estudos do compositor na disciplina de Composição Complementar II, no Bacharelado em Música e Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria, a peça é influenciada pelos estudos sobre Serialismo, Minimalismo, Ritmos Aditivos, Pandiatonicismo, Tonnetz, Processamento de Áudio em tempo real. Apesar de inserida em um contexto mais abrangente, a peça apresenta seu próprio universo de questões, desafios e questionamentos como: “Depois de duas peças (as duas do grupo “lídios”) e alguns meses explorando o modo, como me afastar dessa sonoridade sem descaracterizar a música enquanto parte do grupo, mas apresentando novos materiais como séries e acordes/progressões formados a partir da lógica de tonnetz (Euler, 1739)?”, “Como realizar a notação para Live Electronics. Será a partir da relação entre som, parâmetros e imagem ou sugerindo, através de gestos desenhados, movimentos possíveis no processador de áudio?”, “Como me aproximar da estética minimalista ao me apropriar da repetição e das mudanças de estado como reguladoras da percepção temporal e ao mesmo tempo inserir uma linguagem de improvisação dirigida com suporte notacional, sem que percam suas características mais latentes?” Através da documentação do trajeto de criação, com fotos, vídeos , áudios, versões da partitura com anotações e desenhos, o trabalho se propõe a discutir as questões levantadas, identificar um rastro do processo através desses documentos, levantar novas questões para futuras reflexões e apontar o caminho das próximas composições do ciclo.

Palavras-Chave: composição, pesquisa artística, processo de criação

REFERÊNCIAS

EULER, Leonhard. Tentamen novae theoriae musicae ex certissimis harmoniae principiis dilucide expositae. Ex typographia Academiae scientiarum, 1739

Thiago Perdigão: Marsias contra Apolo: mito e composição contemporânea
O presente trabalho tem por objetivo expor a conclusão do artigo publicado sobre a composição Marsias contra Apolo (cuja citação e referência não faremos aqui a fim de manter o sigilo do nome do autor, que é também o compositor), que foi composta e estreada na cidade de Pelotas. Na introdução, analisaremos o contexto mitológico da composição musical Marsias contra Apolo, para flauta solo, em sua relação com as técnicas e elementos musicais utilizados em sua composição. Assim, de forma geral, procuraremos expor primeiramente o mito grego que envolve o cerne da composição, depois a relação deste mito com os elementos musicais mais essenciais, e, por fim, como tais elementos foram então desenvolvidos. Após a introdução, analisaremos o processo composicional da peça, que envolve, entre outras coisas, o conceito existente de leitmotiv, embora em sentido modificado ou expandido (conceito relativo inicialmente à obra de Richard Wagner, mas aqui reinterpretado). Os “leitmotivs” em questão “simbolizam”, cada um a seu modo e seguidamente, algo da vida do sátiro Marsias, o qual, em meio sua batalha contra Apolo, toca em sua flauta semelhantes “motivos condutores” e suas expansões, advindos como expressões de suas próprias “cenas de vida”. Tudo isso será explicado pormenorizadamente neste trecho da exposição. A terceira e última parte da exposição diz respeito à forma musical, que será então analisada, devido sua grande importância dentro da composição. Nesta parte, faremos uma análise dos vários elementos internos à composição musical – sempre que possível fazendo referência ao contexto extramusical relativo ao mito anteriormente exposto –, os quais justamente ajudam a estabelecer os limites das partes da forma, demonstrando assim as correlações entre os vários elementos: técnicas expandidas na flauta, dinâmicas, andamentos, texturas e suas relações com a criação da forma total.

Palavras-Chave: Composição musical, Mitologia grega, Análise musical

REFERÊNCIAS

LACERDA, Marcos. Resenha das contribuições de Schenker e Schoenberg para a análise musical. In: Revista eletrônica de Musicologia. UFPR. Vol. 2.1. Outubro, 1997.Link:http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv2.1/vol2.1/BreveResenha/BreveResenha.html

SMITH, William. A Dictionary of Greek and Roman biography and mythology. In: John Murray: printed by Spottiswoode and Co., New-Street Square and Parliament Street, London. 1873. Link: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus:text:1999.04.0104:entry=marsyas-bio-1

WAGNER, Richard. Ópera y Drama. Trad. Angel Fernando Mayo. Madrid: Ediciones Akal, 2013.

Ana Clara Nieves Lamonaca: grito: reciprocidade radical entre compositora e instrumentista
O presente texto discorre sobre meu processo composicional no intuito de descrevê-lo. Este processo está sendo desenvolvido para a escrita de meu trabalho de conclusão de curso em bacharelado em Violoncelo da xxxx, sob orientação de xxxx e xxxx. Meu trabalho surge como uma continuidade da investigação que venho desenvolvendo, sob orientação de xxxx, no grupo de pesquisa xxxx (xxxx/xxxx), que tem como foco realizar pesquisa em composição musical sob a ótica e os preceitos da Pesquisa Artística. Trata-se de investigar a reciprocidade radical e os jogos composicionais no plano de experimentação (RIOS FILHO et al., 2022) que ocorrem quando, como compositora e violoncelista, escrevo uma peça que eu mesma irei tocar. Parte da documentação para a composição da peça será apresentada, visto se tratar de um trabalho em andamento. Onde está a intersecção, ou a ponte, entre meu corpo-compositora e meu corpo-violoncelista? Ao atravessar essa ponte, o que escuto de cada lado? Como me posiciono perante minha dividualidade (ASSIS, 2014) e como meus saberes de compositora e intérprete dialogam entre si? A execução propriamente dita se dará sob dois pilares, o composicional e o “violoncelístico”. De um lado da ponte, meu corpo-compositora: documentação, rascunhos, desenhos, a simplicidade da linha (FERRAZ, 2007). Do outro, meu corpo-violoncelista: definição de técnicas estendidas, experimentação gravada em vídeo, diários de estudo. A congruência desses dois processos e desses dois saberes engendrará a peça grito, para violoncelo solo, que, referendando os preceitos ligados à Pesquisa Artística, será resultado e evidência do processo composicional.

Palavras-Chave: composição musical; violoncelo; pesquisa artística.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Paulo de. Con Luigi Nono: Unfolding Waves. Journal for Artistic Research, v. 6, 2014. Disponível em: https://www.researchcatalogue.net/view/51263/66815. Acesso em: 28 jun 2022.

COESSENS, Kathleen et al. The Artistic Turn: a manifesto. Leuven: Leuven University Press, 2009.

FERRAZ, Silvio. Notas do caderno amarelo: a paixão do rascunho. Tese de Concurso para Livre-Docente (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Universidade de Campinas, Campinas, 2007.

Matheus Borowski da Silva: Concentro – Um Relato de Performance
O trabalho a ser proposto é um relato de um processo de composição e performance musical, em uma situação em que os dois processos acontecem simultaneamente, com o uso de instrumentos musicais e o computador, aonde a composição acontece com improvisação dentro da performance. Dentro do computador é processada ideias musicais gravadas previamente, assim como podem ser registradas no momento da performance para que subsequentemente sejam submetidas à efeitos no programa de edição de áudio Ableton Live. O conteúdo das ideias registradas no computador para o uso nas apresentações provém principalmente de músicas compostas pelo proponente do trabalho, assim como samples 1 de instrumentos musicais encontrados em bibliotecas sonoras na internet. Esses elementos são então combinados e processados através de efeitos como reverberação, modulação, entre outros. A partir desse desenvolvimento, novas sonoridades podem surgir pela reutilização de artefatos musicais. A maneira que as performances se desenvolvem é influenciada por uma técnica que Frank Zappa 2 chamou de “Xenocronia”, que consiste em vários conteúdos musicais gravados que não tem relação direta um com o outro, mas que são sincronizados de forma aleatória pelo compositor para gerar uma ideia musical nova. (MICHIE, 2003. pg. 1).

Palavras – Chave: Improvisação, sample, computador.

REFERÊNCIAS:

PRIBERAM. Sample. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 2008-2022. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/sample. Acesso em: 29 de julho de 2019.

MICHIE, C. We Are The Mothers… And This is What We Sound Like! 2003. Disponível em: https://wiki.killuglyradio.com/wiki/WE_ARE_The_Mothers…_AND_THIS_IS_WHAT_WE_S OUND_LIKE!. Acesso em: 29 de julho de 2022.

SHAAR MURRAY, C. Frank Zappa. 1998-2021. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Frank-Zappa. Acesso em: 29 de julho de 2022.

Bruno Felipe Duarte: Elaboração de arranjo inédito da obra Romance del Diablo, de Astor Piazzolla: um estudo de técnicas de arranjo para violão solo
Uma prática muito comum aos violonistas é a criação de arranjos de obras não originais para o instrumento. Entretanto, durante a realização desse processo, os músicos podem encontrar dificuldades devido à grande complexidade em condensar todo o material original nas seis cordas do violão. De acordo com Vincens (2009, p.79) […] o principal desafio é escrever um arranjo que faça as pessoas duvidarem que a música fora originalmente escrita para outro instrumento que não o violão. Para Assad, em entrevista à Classical Guitar Magazine (2018) “Arranjar é pegar a canção ou música de alguém e torná-la sua – como se você pudesse inserir uma introdução diferente”. O presente trabalho buscou identificar técnicas de arranjo utilizadas por violonistas/arranjadores renomados. Durante a pesquisa foram analisados arranjos de obras de Astor Piazzolla realizados por Sergio Assad, Baltazar Benítez, Agustín Carlevaro e Cacho Tirao. A análise se deu de forma comparativa buscando entender como cada arranjador solucionou passagens iguais e, dessa forma compilando cinco técnicas de arranjo que foram encontradas: Omissão de Notas, Mudança de Oitavas, Criação e Alteração de Contracantos, Ornamentações Rítmicas e Melódicas e Outros Tipos de Mudanças. Após essa análise e compilação de técnicas, o autor as utilizou para a realização de um arranjo inédito para violão solo da obra Romance del Diablo de Astor Piazzolla. Durante a elaboração do arranjo, foram utilizadas as técnicas mencionadas anteriormente e contextualizadas durante o processo de escrita, de modo que os leitores pudessem entender e criar ferramentas que permitirão arranjar outras obras com as mesmas técnicas. Além disso, os métodos abordados podem ser aplicados em outros repertórios que não somente o tango, uma vez que essas soluções são viáveis em diferentes obras.

Palavras-chave: Arranjo para violão solo, Astor Piazzolla, Técnicas de arranjo.

REFERÊNCIAS

JACKSON, Blair; TEICHOLZ, Marc. Sergio Assad on Piazzolla, the Beatles, Ginastera, transcriptions, and more. Classical Guitar Magazine. 12 de março de 2018. Disponível em: <https://classicalguitarmagazine.com/sergio-assad-on-piazzolla-the-beatles- ginastera-transcriptions-and-more/> Acesso em 24 de julho de 2020.

PIAZZOLLA, Astor. Astor Piazzolla Y Su Quinteto Nuevo Tango – Concierto de Tango em el Philharmonic Hall de Nueva York. Buenos Aires: Polydor, 1965 (disco sonoro)

VINCENS, Guilherme. The Arrangements of Roland Dyens and Sérgio Assad: Innovations in Adapting Jazz Standards and Jazz-influenced Popular Works to the Solo Classical Guitar. (Tese- Doutorado em música). The University of Arizona, 2009.

WOLFF, Daniel. Transcribing for guitar: a comprehensive method. 1998. 346 f. (Tese – Doutorado em Música). The Manhattan School of Music, 1998.

David Pierri Ardigo Maria; Bernardete Castelán Póvoas: O músico ergonômico: possíveis contribuições interdisciplinares para a práxis pianística
Sob uma ótica de viés pragmático, o papel do intérprete, no âmbito de música de concerto, é tornar audível uma ideia musical, contexto em que, para a construção de uma interpretação musical é necessário haver treinamento instrumental. No caminho entre a concepção de um material musical e o resultado sonoro de uma performance, o intérprete emprega estratégias para a organização do trabalho, o qual, devido a multidimensionalidade da práxis instrumental, revela-se de carácter interdisciplinar. No âmbito da prática pianística especificamente, observa-se o desenvolvimento de pesquisas de caráter interdisciplinar desde o final do século XIX (FINK, 1992; KAPLAN, 1987; KOCHEVITSKY, 1995; PÓVOAS, 1999; RICHERME, 1996). Essas pesquisas buscam ideias e conceitos que possam contribuir para a performance musical, seja por aprofundar o entendimento acerca dos fenômenos envolvidos ou por promover estratégias que otimizem a processo de construção da performance. A disciplina científica da ergonomia estuda a relação e interação do homem com trabalho “com o objetivo de melhorar o bem- estar humano e o desempenho global do sistema” (DUL; WEERDMEESTER, 2012, p. 13). A ergonomia pode ser dividida em três domínios, sendo ergonomia física, cognitiva e organizacional (IEA, 2000) e aspectos de cada um destes domínios podem ser relacionados ao trabalho do intérprete, buscando-se aplicações de conceitos que podem potencialmente otimizar a práxis musical. Um exemplo de possível aplicação é o trabalho desenvolvido por Póvoas (1999, 2006; 2010), no qual, levando em conta aspectos da ergonomia física, propõe o emprego das estratégias técnico pianísticas SMRD e Ciclo de movimentos como ferramentas de organização e otimização da prática instrumental. O objetivo desta pesquisa é examinar processos da práxis pianística sob o viés da ergonomia, a fim de apontar conceitos e estratégias que possam otimizar a preparação da performance mantendo o bem-estar humano do intérprete.

Palavras-Chave: ergonomia, práxis musicais, interdisciplinaridade.

REFERÊNCIAS

DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. Tradução: Itiro Iida. 3 a ed. São Paulo: Edgard Blütcher Ltda, 2012.

FINK, S. Mastering piano technique: A guide for students, teachers, and performers. [s.l.] Hal Leonard Corporation, 1992.

 

 

SESSÃO B

Rodrigo da Silva: O que e como se ensina quando se ensina Rap: uma análise da prática pedagógica de um rapper em Bagé-RS
Este trabalho apresenta uma pesquisa em andamento sobre processos de ensino e aprendizagem musicais do gênero Rap realizados no município de Bagé-RS. O objetivo principal desta pesquisa é analisar as formas e metodologias de ensino e aprendizado musicais no contexto do Rap e compreender as diversas possibilidades de transmissão de conhecimentos desenvolvidos por diferentes vias e que estão interligadas às questões sociais e culturais. Para tanto, esta proposta tem por finalidade conhecer o rapper “Dingo” e os processos de transmissão de conhecimento intrínsecos ao seu contexto musical. Para descrever esses processos, utilizarei de metodologias da pesquisa etnográfica. Como relata Prass (1998), “a pesquisa etnográfica, através da descrição densa de lugares, situações e falas dos atores, tenta reconstruir seus atos a partir de seus próprios pontos de vista, de sua própria lógica de compreensão do mundo” (PRASS, 1998, p. 6). Por ser um cenário em que os conhecimentos são passados por meio da oralidade, pretendo, através de encontros, colocar-me como um aluno, podendo assim, analisar as particularidades desse processo de ensino e aprendizado. Desta forma, este estudo irá basear-se em uma pesquisa qualitativa, que estará amparada por perguntas previamente elaboradas a partir de um roteiro geral, mas também flexível a desdobramentos que possam surgir ao longo das entrevistas. Os encontros com o colaborador ocorrerão de forma presencial ou virtual (por meio da plataforma “Google meet”). Acredito que é necessário, como pesquisadoras/es, pensar essas práticas de aprendizagens para que seja possível promover e desenvolver diferentes saberes musicais. Neste sentido, espero que o desenvolvimento desta pesquisa possa trazer contribuições para a área e um conhecimento mais amplo sobre o tema, possibilitando compreender as múltiplas formas de ensino e aprendizado de música intrínseca a seu contexto cultural.

Palavras-Chave: Prática musicais não escolares; etnopedagogia; Rap

REFERÊNCIAS

PRASS, Luciana. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba uma etnografia entre os “Bambas da Orgia”. Porto Alegre, 1998

Luciane Cuervo; Milena Pereira Nascente; Bruna Rodrigues de Vargas: Mural Interativo Sonoro-Cênico-Visual: relato de experiência PIBID/UFRGS
O Mural Interativo Sonoro-Cênico-Visual foi desenvolvido através da parceria entre o Núcleo 2 do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e o Projeto de Extensão CriatividARTE de artes, ambos coordenados pela professora Luciane Cuervo. Consiste em uma proposta colaborativa de instalação artística congregando os cursos de Artes Visuais, Música e Teatro do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Duas escolas públicas estaduais de Porto Alegre participaram acolhendo a construção de um painel multimodal interativo que congrega objetos visuais, sonoros e cênicos a serem manipulados (e inclusive futuramente modificados, construídos ou mantidos) pelos(as) estudantes daquelas comunidades escolares. Aproveitando-se de recursos em desuso, como sobras de reformas, de materiais escolares e de escritório, bem como recicláveis em geral, integra-se ao contexto de sustentabilidade e inclusão, permitindo ainda que estas experiências piloto venham a ser reproduzidas e transformadas em contextos e públicos diversos. Teve como principais objetivos a promoção de recursos criativos, expressivos e interativos em artes na comunidade escolar a partir de reaproveitamento de materiais e o fomento de experiências sensoriais e exploratórias, promovendo a criação, manipulação e transformação do Mural Interativo PIBID-ARTES nos contextos de cada instalação artística e as especificidades de cada público. Como escopo teórico, fundamentou suas ações da Pedagogia Crítica freireana (1996), articulando os conceitos de educação e paisagem sonora, de Schafer (1997), de objeto infoestético de Manovich (2008) e de gambiarra e desobediência tecnológica de Oroza (2012). Neste processo finalizado em fevereiro de 2022, foi evitada a interação com os(as) estudantes nas etapas de pesquisa, construção dos objetos e instalação do mural, considerando as férias escolares e distanciamento social. Assim, o grupo de graduandos dos cursos de Artes deixou como legado cultural o painel interativo, abrindo infinitas possibilidades de interação e transformação da proposta.

Palavras-Chave: musicalidade; objetos sonoros; gambiarra

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MANOVICH, Lev. Introduction to Info-Aesthetics. Data da publicação no site autoral, 2008. Disponível em: http://manovich.net/content/04-projects/060-introduction-to-info-aesthetics/57-article-2008.pdf. Acesso em 01/07/2022.

OROZA, E. Desobediência Tecnológica: da revolução ao evólico. Data da publicação no site autoral, 2012. Disponível em: https://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-de-la-revolucion-al-revolico/ Acesso em: 20/07/2022.

SCHAFER, M. A afinação do mundo. São Paulo: Unesp, 1997. 1ª. Ed. 1977.

João Alberto B. S. Clipes Composição: Relato de experiência
Este trabalho apresenta um relato de experiência da criação da peça “Preto no branco” para quatro violões, desenvolvida no componente curricular Composição e Arranjo para a educação Musical I da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Esse componente curricular, ministrado pelo professor Dr. João Côrrea, tem como finalidade a criação de peças de caráter pedagógico ou de caráter artístico. Neste caso, escolhi uma peça de caráter pedagógico direcionada para quatro discentes de nível técnico intermediário. Uma das primeiras ações durante o processo de tomada de decisões foi a busca por uma tonalidade adequada. Devido ao idioma do instrumento, escolhi a tonalidade de Mi menor, pois possibilita o uso de cordas soltas e contempla um amplo registro. Após esta etapa, busquei inspiração na obra de alguns violonistas (intérpretes e compositores) como Álvaro Pierri, Julian Bream, Leo Brouwer, entre outros, para me aproximar da sonoridade e das possibilidades do violão, já que trata-se de um instrumento que tenho pouco contato. Ao longo do processo criativo, criei uma harmonia “base” para, a partir dela, realizar a criação das demais ações da peça (linhas de cada instrumento: baixos, melodias, contracantos, etc.) A partir destas ações, estruturei um série de pressupostos composicionais como: a exploração de ritmos particulares para cada linha instrumental, o uso de politonalidade e intervalos específicos como o trítono. No decorrer do processo, elaborei e organizei cada linha instrumental (baixo, melodias, contracantos) seguindo estes pressupostos. Acredito que o resultado deste processo foi de grande importância para a minha formação, pois os desafios encontrados durante o processo criativo da obra, fizeram-me refletir sobre diversos aspectos e a buscar diferentes alternativas para solucionar as demandas composicionais. Tais desafios foram importantes para que eu conseguisse ampliar meu conhecimento sobre composição e violão. Creio também, que o desenvolvimento desta peça irá contribuir com o meu trabalho como docente, pois pretendo usá-la para ensinar os meus alunos.
Jordiel Casali Biniek: Relato de Processo Composicional – A Primeira Obra
O presente resumo tem como objetivo apresentar a composição ‘Ventos de Agosto’, trabalho realizado à disciplina de Composição Complementar, no curso de bacharelado em Música e Tecnologia – UFSM/RS, no segundo semestre letivo de 2021, a qual é orquestrada para um trio de flauta, violino e piano. O primeiro planejamento da obra foi feito com base em uma proposta diatônica para 54 compassos. Entretanto, o planejamento foi alterado e, mantendo-se ainda a proposta original, a obra apresenta aspectos harmônicos que transitam entre o tonal e o modal, misturando essas duas tendências, agregadas à combinação dos elementos e texturas geradas pelos instrumentos, ao longo da peça. A apresentação da harmonia inicial é dada no campo tonal de Dó Maior através de arpejos ao piano entre a tônica e uma pré-dominante, com exploração de extensões nos acordes. O primeiro motivo da obra, o qual inicia a melodia, é concebido utilizando o modo lídio em Dó, a fim de acompanhar o campo tonal anteriormente escolhido, porém com o aspecto modal proposto pela composição. A peça conta portanto com uma certa insinuação polimodal, somando inclusive o mixolídio à melodia – que já esboçava um choque cromático entre o Fá e o Fá# (Dó Jônio e Lídio). Para que a harmonia pudesse acompanhar a mudança, a obra caminha para uma parte B através de modulação cromática para uma tonalidade menor, seguindo o padrão harmônico I – IV – I. Com uma modulação sutil, a composição conclui-se com a retomada do motivo inicial. Ao compositor, os desafios da obra foram os modos de conciliar as características de uma música modal sem abrir mão da prática tonal, a qual tinha-se como proposta inicial à peça. Contudo, a experiência adquirida com a experimentação dos elementos, bem como as estratégias composicionais empregadas, foram satisfatórias para uma primeira composição, sob perspectiva do compositor.

Palavras-Chave: polimodalismo, diatonismo, composição.

Sandra Gali Berticelli; Luciane Cuervo: Processos criativos na formação docente: experiências em música no PIBID/UFRGS
Este trabalho está contextualizado ao Núcleo 2 de Artes do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de formação de professores, fazendo um recorte sobre os aspectos criativos fomentados nos estudos, discussões e práticas. Esta edição finalizada em março de 2022 do PIBID reuniu os cursos de Artes Visuais, Música e Teatro do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os estudos do núcleo se concentraram na Pedagogia Crítica de Paulo Freire (1996), no sentido de promover a autonomia, a criatividade e a criticidade dos estudantes graduandos e na construção da sua identidade docente. Embora de natureza interdisciplinar, os projetos contemplaram as especificidades de cada uma das áreas envolvidas, por isso este trabalho se concentra na discussão sobre ações de música. A discussão partiu do conceito de Objeto Infoestético para implantação nas turmas atendidas nas escolas-campo. Segundo Manovich (2008), o termo infoestético é uma manifestação de ideias e expressividades a partir de uma produção. Dadas as limitações do distanciamento social da pandemia de Covid-19, as atividades ocorreram no ambiente virtual e considerando os espaços familiares. Um dos projetos desenvolvidos foi o “Música de Tudo”, no qual fomentou-se a exploração sonora de objetos do cotidiano ou mesmo da natureza, como louças, potes, conchas, pedras, mesmo objetos descartados no lixo seco. A partir desse mapeamento de possíveis objetos sonoros, o qual se baseou em Schafer (1997), incentivamos a exploração sonora intencional, criativa e livre, com sentido de início-meio e fim. Os estudantes gravaram vídeos com estas experiências e enviaram através do Google Sala de Aula. Entre outras experiências e impressões, constatamos que a ideia de resistência à obsolescência programada, bem como a possiblidade de inclusão digital através da música sendo feita com objetos acessíveis do cotidiano em gravações com dispositivos móveis, reforçam as ideias de gambiarra e desobediência tecnológica de Oroza (2012).

Palavras-Chave: improvisação; objetos sonoros; paisagem sonora.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MANOVICH, Lev. Introduction to Info-Aesthetics. Data da publicação no site autoral, 2008. Disponível em: http://manovich.net/content/04-projects/060-introduction-to-info-aesthetics/57-article-2008.pdf. Acesso em 01/07/2022.

OROZA, E. Desobediência Tecnológica: da revolução ao evólico. Data da publicação no site autoral, 2012. Disponível em: https://www.ernestooroza.com/desobediencia-tecnologica-de-la-revolucion-al-revolico/ Acesso em: 20/07/2022.

SCHAFER, M. A afinação do mundo. São Paulo: Unesp, 1997. 1ª. Ed. 1977.

 


 

DIA 24/09/22

SESSÃO C

Davi Raubach Tuchtenhagen: Processo Criativo de Peça para Ensemble e Eletrônicos
Este trabalho relata o processo criativo de “As Vozes das Páginas”, para conjunto (ensemble) e eletrônicos. O autor foi um dos compositores selecionados para compor para o conjunto do Festival [nome do festival], em [local do festival]. A peça foi estreada em 30 de julho de 2022. Três interesses estão no núcleo deste processo criativo: (1) a utilização da leitura textual como articuladora da temporalidade; (2) o desenvolvimento de uma poética líquida em que os elementos da textura musical são pensados sobre o paradigma de constituição-dissolução; e (3) a formalização de processos de alternância de materiais a partir de uma biblioteca em python desenvolvida pelo autor. O primeiro interesse se refere ao uso de um sistema de notação baseado em texto. Neste sistema, gestos instrumentais estão associados às sílabas de um texto e devem ser executados pensando em como este texto seria (ou é) lido (o autor, 2018). Assim, frases, ritmos, acentos, pausas, entre outros aspectos musicais, podem derivar da leitura que o/a intérprete é livre para fazer. O segundo interesse decorre da pesquisa de mestrado (o autor, 2018) e se refere a processos de constituição, dissolução e interação de fluxos sonoros na textura musical (SMALLEY, 1997, WISHART, 1996; BREGMAN, 2008), especialmente quando envolve o uso de recursos eletroacústicos. O terceiro aspecto central para esta composição se refere ao desenvolvimento de uma biblioteca em python para a formalização de processos de alternância de materiais. Períodos de tempo (timespans) são definidos para cada material de acordo com uma lógica de crescimento, liquidação ou estabilidade. No trabalho com a duração destes períodos que marcam a presença de cada material, acontece a transição da composição para áreas sonoro-morfológicas distintas.

Palavras-Chave: composição musical, processo criativo, música eletroacústica mista

REFERÊNCIAS

[nome do autor]; DALDEGAN, Valentina. “Colaboração e estabilidade morfológica no processo criativo de Chão de Outono”. Anais do XXVIII Congresso da ANPPOM . Simpósio Composição e performance: um trabalho cooperativo na criação musical contemporânea. Manaus- AM, 2018. Disponível em: <http://anppom.com.br/congressos/index.php/28anppom/manaus2018/paper/view/5428/1965>. Acesso em: 15 Jan. 2019.

[nome do autor]. “Interação na Música Eletroacústica Mista”, Dissertação (mestrado) – Programa dePós-Graduação em Música, Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná, p. 184, 2018. Disponível em: <https://hdl.handle.net/1884/59931>. Acesso em: 05 Ago. 2022.

BREGMAN, Albert .S. Auditory scene analysis. In Squire, L.R. (Editor-in-Chief.). Encyclopedia of Neuroscience. Oxford, UK: Academic Press. 2008. Disponível em: <http://webpages.mcgill.ca/staff/Group2/abregm1/web/pdf/2008-New-Encyclopedia- Neuroscience.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2019.

SMALLEY, Dennis. “Spectromorphology: explaining sound-shapes,” Organised Sound , v. 2, n. 2, p. 107-126, 1997.

WISHART, Trevor. On Sonic Art (new revised edition, Emmerson, Simon, ed.). Contemporary Music Studies. New York: Routledge, 1996.

Thiago Perdigão: Sobre o conceito de Forma motívica e a fusão entre a micro e a macro análise
O presente trabalho a ser apresentado consiste na exposição comentada do último capítulo de meu trabalho de conclusão do curso de composição musical na universidade federal de Pelotas (o nome do trabalho irei omitir a fim de manter o sigilo do nome), e que diz respeito ao conceito que desenvolvi de “Forma motívica”, o qual consiste, em termos gerais, no meio através do qual é possível se criar a forma musical total a partir de um ou mais motivos, bem como motivos a partir da forma musical total já pronta, tudo de forma analítica e, em certa medida, matemática. Naturalmente, tal conceito termina por fazer a ponte entre a micro e a macro análise, já que se a primeira está vinculada à análise, muitas vezes, dos motivos fundamentais e demais elementos que podem ser vistos segundo uma lupa mais “estreita”, a segunda se vincula, muitas vezes, aos elementos mais gerais e à forma musical total. Portanto, tal “ponte” entre a micro e a macro análise também será abordada na exposição. Serão apresentados ainda, de forma resumida, os 10 pontos presentes no trabalho de conclusão, e que remetem aos princípios que podem ser deduzidos da forma motívica enquanto técnica composicional. Assim, a ordem da apresentação será, em primeiro lugar, a exposição da técnica de dedução da forma a partir de um motivo determinado e vice-versa; e, em segundo lugar, a apresentação da lista de princípios que podem daí ser deduzidos, e que podem ter consequências na poética composicional e na estética musical.

Palavras-Chave: composição musical, análise musical, técnicas composicionais

REFERÊNCIAS

CHAVES, Celso Loureiro. Por uma Pedagogia da Composição Musical. In: FREIRE, Vanda Bellard (org.). Horizontes da Pesquisa em Música. Rio de Janeiro, 7Letras, p.84-95, 2010.

COOK, N. A Guide to Musical Analysis. London: Oxford University Press, 1967.

HEINE, Heinrich. Os deuses no exílio. São Paulo: Iluminuras, 2009. SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. 3. Ed. São Paulo: EDUSP, 2008.

João Vitor Azevedo da Silva: Estratégias para o desenvolvimento de música eletrônica dançante
A presente comunicação apresenta o resultado parcial da peça para música eletrônica dançante ID016, onde através do processo de análise de uma obra musical de referência (usada como modelo composicional, em seus padrões e parâmetros dentro de um gênero, como: arranjo; mixagem; timbres) em estágio de pré-composição e, durante o processo, discussão com amigos, pode-se desenvolver um processo de composição que vai além da obra em si, que me guiou para as três ideias principais dessa comunicação, um esforço de categorização do processo (RIOS FILHO, 2015): a) imersão no subgênero musical da música eletrônica dançante, a fim de atingir sonoridades que dialoguem com o estilo pretendido durante uma apresentação; b) criação de timbres dos instrumentos, assim como o desenvolvimento do arranjo; c) colher pareceres de amigos e mentores. A performance da música normalmente acontece nos palcos, em festivais ou festas onde o DJ performa um DJ Set, então, torna-se necessário atender a padrões do subgênero para que a música se relacione com a anterior e a próxima. O material da música é desenvolvido ao longo da análise da obra musical de referência, onde faço a escolha dos timbres por semelhança aos dessa em um primeiro momento, e num segundo momento, elaboro um design mais detalhado e modificado a partir daquela “extração” de timbres, dinâmicas, linhas melódicas, arranjo ou até harmonia. A música se transforma ao longo do processo palpado por pareceres de amigos e mentores dentro do universo cultural de música eletrônica dançante em que me insiro, com foco na cidade de Santa Maria – Rio Grande do Sul. Por fim, conclui-se que o primeiro e segundo estágios respondem questões subjetivas do processo, como motivo das escolhas da música de referência e timbres, e o terceiro estágio fala sobre questões objetivas, como detalhes técnicos de mixagem.

Palavras-Chave: composição, música eletrônica dançante, análise.

REFERÊNCIAS

RIOS FILHO, Paulo. Um compor-emaranhado: composição, teoria e análise ao longo de linhas. 2015. 311 f. :il. Tese (Doutorado em Música) – Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2015.

FREIRE, Vanda Bellard. Horizontes da pesquisa em música. 7 Letras, 2010.

Rafael Mattos Petrucci da Silva: Miralejos: Interpretações poético-musicais acerca da escrita contra-hegemônica de Marília Kosby
O presente trabalho objetiva investigar a construção da voz poética, as temáticas e o território de mistura linguística trazidos na poesia de Marília Kosby, mais especificamente, no poema “miralejos”, por mim cancionado. A poeta, nascida em Arroio Grande, município situado no extremo sul do Rio Grande do Sul, vem desenvolvendo uma escrita decolonial, antagônica a algumas representações identitárias do tradicionalismo gaúcho e aos seus referenciais simbólicos estanques. A pesquisadora Clarissa Ferreira aponta que “um passado de glórias não é emblema das fêmeas por esses pagos” […] “O fim para elas, as personagens que representam a nós, é a fome da terra que engole” (FERREIRA, 2021, p. 111). A não designação de gênero do eu lírico, a desconstrução de verdades hipotéticas preestabelecidas e o hibridismo cultural são marcas de uma escrita que, em diálogo com o processo analítico, atua em direção à reversão de um cânone poético majoritariamente branco e masculino. Nesse processo, os títulos e os versos do poema e da canção – escritos com iniciais em minúsculas –, a interseção com o ritmo tradicional argentino conhecido como chacarera, a presença do elemento recitado e a coexistência bilíngue do português e do espanhol são alguns dos traços que forjaram um resultado poético-musical hibridizado – característico da pós-modernidade eminente no texto de Marília, que reverberou em meu processo cancional. A poeta, ademais, é fortemente influenciada pelas letras de músicas tradicionais argentinas. Segundo o teórico da canção Luiz Tatit, “Compor é buscar uma dicção convincente. É eliminar a fronteira entre o falar e o cantar” (TATIT, 2012, p.11). Por meio da canção de mesmo título, pretendo analisar como se deu a transposição dos afetos contidos no poema à canção que dele é presente, desvelando minha projeção e gestualidade, enquanto cancionista, e fazendo dessa interlocução um único projeto de sentido.

Palavras-Chave: poesia contra-hegemônica, canção popular, hibridismo cultural.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Clarissa. Gauchismo Líquido. Editora: Coragem. Porto Alegre, 2021.

TATIT, Luiz. O Cancionista: Composição de Canções no Brasil. 2ª ed. 1ª reimpressão. Editora: Edusp. São Paulo, 2012.

Amanda Carpenedo: O uso de recursos percussivos na escrita de arranjos para violão solo
O presente trabalho visa apresentar e discutir os processos de criação de arranjos para violão solo utilizando recursos percussivos. Para exemplificar como o processo criativo ocorre, será apresentada uma análise detalhada da elaboração do arranjo de “São Jorge” de Hermeto Pascoal. Apesar da crescente popularidade do uso de recursos percussivos por arranjadores e compositores, foi percebida a escassez de estudos focados na sistematização da escrita e abordagens estratégicas para sua inserção em composições. Ademais, Arthur Kampela, compositor de Percussion Studies, levanta um ponto importante de discussão: o compositor afirma que a ideia de incorporação dos sons percussivos e efeitos ruidosos idiomáticos são ideias que normalmente incomodam os puristas, que consideram esta inserção inaceitável, pois explora radicalmente os limites do que é considerado, via de regra, uma maneira de tocar aceita e compatível com o instrumento em questão e sua própria construção (KAMPELA citado em MURRAY, 2013, p.24). Diante desta fala, é percebido que, enquanto que no ambiente acadêmico tais técnicas ainda são vistas como algo que foge dos padrões pré-estabelecidos, atualmente, entretanto, há uma expansão no uso destes recursos em repertórios populares e no violão fingerstyle. É a partir destas manifestações que surge o interesse em pesquisar a criação musical baseada neste tema. A metodologia utilizada caracteriza-se como pesquisa-artística (LÓPEZ-CANO, 2015, p 71) uma vez que a escrita do arranjo ocorreu em simultâneo com a própria prática. Os tópicos a serem discutidos são: as possibilidades percussivas do violão, mapeamento dos sons e sua notação, estratégias de inserção dos recursos na escrita de um arranjo para violão solo e a utilização de referências intertextuais. Espera-se que a discussão dos processos criativos sirva como ferramenta de inovação composicional, além de subsídios para futuros arranjadores/compositores que tenham interesse em utilizar estes recursos em seus trabalhos.

Palavras-Chave: arranjo, criação musical, recursos percussivos

REFERÊNCIAS

CANO, Rubén López. Pesquisa artística, conhecimento musical e a crise da contemporaneidade. Art Research Journal, [S. l.], v. 2, n. 1, p. 69-94, 30 jun. 2015. DOI: 10.36025/arj.v2i1.7127. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/7127. Acesso em: 26 jul. 2022.

MURRAY, Daniel Santana de Vasconcellos. Técnicas estendidas para violão: Hibridização e parametrização de maneiras de tocar. 2013. Tese (Doutorado em Música) – Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2013.

 

 

SESSÃO D

Arthur Reckelberg Borges da Silva: The Artistic Turn: uma revisão
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão do livro “The Artistic Turn: a manifesto” de autoria de Kathleen Coessens, Darla Crispin e Anne Douglas (2009). O livro propõe provocações sobre e discute o lugar e a natureza do fenômeno “Pesquisa Artística” (P.A.) enquanto alternativa à Pesquisa Científica (P.C.) nas áreas ligadas à arte. Questões centrais do livro se apresentam nos questionamentos que dão nome aos primeiros dois capítulos: “Por Que Arte Importa?” “Pesquisa Artística e Método Científico: Duas Culturas?”. O texto segue propondo posturas e analogias que contribuam para a construção do manifesto nos capítulos três e quatro: “Desterritorialize o Ambiente de Pesquisa” e “O Navio em Alto Mar”; e ainda uma provocação no capítulo cinco aponta para “Dúvidas e Vulnerabilidades” que o processo artístico expõe e gera os/nos artistas para finalmente no capítulo seis responder a pergunta chave do texto: “Por Que Pesquisa Artística Importa?”. Apesar de objetivos que podem ser, em alguns casos, semelhantes, a P.C e a P.A. são fenômenos com naturezas distintas; o ambiente de investigação na academia ainda se estabelece de forma muito territorializada, com fronteiras impedindo o trânsito de pesquisadores entre áreas do conhecimento humano; diferente da P.C. que propõe mapas, reproduzíveis, que apontam localizações precisas, a P.A. se assemelha muito mais com uma carta marinha, que revela as possibilidades de navegação, no imprevisível e incontrolável oceano. Considerando a relação entre o investigador e o investigado, próxima demais para poder distinguir um do outro, as autoras levantam as fragilidades do artista, enquanto artista e enquanto pesquisador da sua arte e então propõe a P.A. como um caminho possível de investigação que leve em consideração todos esses aspectos, da arte, do artista, da pesquisa e do pesquisador.

Palavras-Chave: Artistic Turn, pesquisa artística, revisão.

REFERÊNCIAS

COESSENS, Kathleen; CRISPIN, Darla; DOUGLAS, Anne. The Artistic Turn: A Manifesto. Leuven, Bélgica: Leuven University Press, 2010, 192 páginas.

Abigail Somavilla: A Suíte Folclórica na 1 de Frederico Richter e a música gaúcha no contexto do Nacionalismo proposto por Mário de Andrade
A proposta do artigo é contextualizar uma das obras do compositor gaúcho Frederico Richter frente ao movimento nacionalista brasileiro proposto nos livros sobre musicologia de Mário de Andrade. Para isso, dois textos base foram usados: O Ensaio sobre a Música Brasileira e Evolução Social da Música no Brasil, ambos de Mário de Andrade. É possível averiguar várias influências do movimento na obra de Frederico Richter, e mesmo este, em variadas ocasiões, afirmou ser um compositor ligado ao ideal de fazer música brasileira. Na peça escolhida, 3 dos movimentos são baseados em músicas do folclore gaúcho, o que mostra a preocupação do compositor de que a cultura do Rio Grande do Sul seja valorizada e considerada no contexto do nacionalismo, considerando que muitas vezes a cultura do sul do país é desconsiderada nesse cenário, dada a influência cultural dos países vizinhos, permitindo que se busque compreender como a proposta de música brasileira foi recebida por compositores gaúchos e que tipo de tratamento musical foi dado à música brasileira gaúcha dentro deste contexto.

Palavras-chave: Frederico Richter. Nacionalismo. Mário de Andrade.

REFERÊNCIAS

AMATO, Rita de Cássia Fucci. Momento Brasileiro: Reflexões sobre o Nacionalismo, a Educação Musical e o Canto Orfeônico em Villa Lobos. Revista Electrónica Complutense de Investigación en Educación Musical , Universidad Complutense, Madrid, 2008.

ANDRADE, Mário de, Evolução Social da música no Brasil. In: Aspectos da música Brasileira, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

__________. Ensaio sobre a Música Brasileira. São Paulo: Chiarato & Cia, 1928.

__________. Ensaio sobre a Música Brasileira. São Paulo: Livraria Martins Editora , Brasilia, Instituto Nacional do Livro do Ministério da Educação e Cultura (MEC/Brasilia), 1972.

BATISTA, Carla Domingues. A relação entre texto e música nas canções de Frederico Richter. Dissertação (Pós Graduação em Música) – UDESC, Florianópolis, 2010.

DUARTE, Joseane Reis. Assim surge a música gaúcha…, Tide Lima- Livraria e Sebo Santiago, disponível em http://tidelimajr.blogspot.com/2012/08/assim-surge-musica- gaucha.html, acessado em 13 de setembro de 2021.

KIEFER, Luciana. A relação entre música e poesia nas canções para voz aguda e piano de Bruno Kiefer. Dissertação de mestrado. UNESP, 2007.

MACEDO, Christiane Garcia ; GOELLNER, Silvana Viladre. A Dança e o Movimento Tradicionalista Gaúcho: entrevista com Paixão Côrtes. Motrivivência-UFSC, Florianópolis, Setembro 2017.

ORNAGUI, Mário André. A apropriação do folclore musical pela música erudita brasileira e argentina no século XX. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2011, São Paulo. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História […]. São Paulo: ANPUH, 2011.

PICCHI, Achille. Mario de Andrade e a invenção do nacional na música do Brasil. Mimesis, Bauru, 2009

RICHTER, Frederico. Palestra Série Trajetórias. ABM. Bahia, Julho 2000.

SANTOS, Paulo Sério Malheiro dos; SOARES, Leandro Garcia. Mario de Andrade e o Nacionalismo Musical Brasileiro. Modus- UEMG, Minas Gerais, Outubro 2008.

Luiza de Albuquerque Leite Vieira: Música Erudita Contemporânea em Salvador: ousadia para além da baianidade
A música da Bahia possui uma considerável representatividade na construção da ideia de baianidade. Este trabalho, realizado como a monografia de meu bacharelado no ano de 2013, objetivou entender como a produção de música erudita contemporânea – que carrega a reputação de ser universal – em Salvador, relaciona-se com este conceito de baianidade. Utilizando-se da perspectiva da teoria Ator-rede desenvolvida por Latour (2012), seguiu-se as ações dos atores envolvidos no processo de preparação e realização de um evento de música contemporânea em homenagem ao escritor Jorge Amado, figura tão cara à construção do imaginário da cultura baiana. A partir disso, puderam ser situadas as principais controvérsias deste ambiente, que se referem à autoridade sobre a criação musical e a noção de vanguarda vigente entre os atores, a qual parece ser um dos principais elementos diferenciadores para a definição de um grupo pertencente a Escola Baiana de Composição, existente desde meados da década de sessenta. Quanto a relação deste grupo com o conceito da baianidade, descobriu-se que estes atores não estão interessados na apropriação desse conceito, ainda que sejam encontrados diversos elementos que remetem ao esteriótipo do jeito de ser baiano.

Palavras-Chave: música contemporânea; baianidade; vanguarda.

REFERÊNCIAS

LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do Ator-Rede. Salvador: EDUFBA, 2012, 400p

Gustavo Henrique Soares da Silva: Os conceitos de transporte e peregrinação de Tim Ingold e o processo de composição musical
A pesquisa em composição musical baseia-se fortemente na análise musicológica, que privilegia a compreensão “neutra” da linguagem musical e que se dá quase exclusivamente sobre o suporte da partitura da obra analisada. Segundo Ferraz (2014, p. 190), a análise tradicional: “[…] verifica se o compositor empregou a boa solução […] [limitando-se] a aplicar uma ferramenta e testar seus limites. Ou seja, o objeto não é mais a música, mas a própria análise.” Percebendo a obra musical como resultado de processos e técnicas composicionais, surgem alguns questionamentos: Na pesquisa em composição, métodos analíticos tradicionais dariam conta de analisar o processo criativo? Não deveríamos, ao invés disso, nos voltar mais ao próprio processo? A obra é apenas uma consequência de seu processo de criação? É possível separar a obra do processo? Para responder essas questões, trazemos Ingold (2015), em sua discussão sobre transporte e peregrinação. O transporte resume-se a chegar a destinos, como “um passageiro em […] seu navio […]. Enquanto em trânsito, ele continua a estar situado dentro de seu navio, [..] assumindo um curso predeterminado.” (INGOLD, 2011, pp. 221-222). Ingold compara este conceito a uma rede, onde as linhas (caminhos) servem apenas para ligar nós (destinações). A peregrinação é “viver o caminho”: não há destinos, mas sim uma malha, onde as linhas se entrelaçam. Partindo desses conceitos, podemos repensar a análise do processo composicional. Comparando a obra com o transporte, ignoramos o processo e privilegiamos o produto. Já na perspectiva da peregrinação, toda a sua construção é um só corpo. O processo é a própria obra, devemos visualizar a composição musical “como composta por linhas e, ela própria, como um bolo de fios que tecem, em conjunto, a malha emaranhada do mundo, […] recuperar o sentido de ‘composição’ enquanto ‘processo criativo’ e ‘obra musical’, os dois uma só trajetória […] e não etapas diferentes da atividade criativa” (RIOS FILHO, 2015, p. 139).

PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa em composição musical, composição, processo criativo.

REFERÊNCIAS

COESSENS, Kathleen; CRISPIN, Darla; DOUGLAS, Anne. The artistic turn: a manifesto. Leuven University Press, 2009.

FERRAZ, Silvio. Para uma arte que se inventa a todo tempo cabe uma ferramenta de análise que se invente junto com esta arte. Encontro Nacional de Composição Musical de Londrina. Londrina, p. 190-197, 2014.

INGOLD, Tim. Estar vivo: Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Rio de Janeiro: Vozes LTDA, 2015.

NELSON, Robin. Practice as research in the arts: Principles, protocols, pedagogies, resistances. Springer, 2013.

RIOS FILHO, Paulo. UM COMPOR-EMARANHADO: COMPOSIÇÃO, TEORIA E ANÁLISE AO LONGO DE LINHAS. Tese (Doutorado em Música) – Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, Escola de Música, Universidade Federal da Bahia. 2015.

Felipe Merker Castellani; Danilo Salvade Marostega; Estevão de Souza Santana; Gabriel Rodrigues Soares; Milena Eleusina Fagundes de Assunção; Gabriel Rodrigues Soares; Levina Sun; Ricardo Ferreira da Silva: G.I.L – Enfrentamento estético e pluriversalidade
Tomando como ponto de partida a ação de ensino, intitulada G.I.L – Grupo de estudos em improvisação livre, experimentalismo e concepções musicais contra- coloniais, desenvolvida no Centro de Artes da Universidade XXX, o presente trabalho objetiva debater a maneira pela qual o racismo epistêmico se faz presente nas práticas e projetos pedagógicos de cursos superiores de música brasileiros, bem como apontar possibilidades de enfrentamento às opressões ocasionadas por este fenômeno. O racismo epistêmico se refere a uma série de práticas intelectuais que almejam subalternizar conhecimentos produzidos fora de uma perspectiva ocidental. No campo dos estudos musicais, a face mais concreta do racismo epistêmico é foco absoluto nas gramáticas e concepções musicais de matriz europeia, as quais são universalizadas e passam a servir de base para todas as demais culturas musicais do mundo. Provocando assim, distorções e entendimentos enviesados das musicalidades afrodaspóricas, dos povos originários brasileiros, dentre outras. Partindo dos ensinamentos de Nilma Lino Gomes, apresentado em seu livro intitulado O Movimento Negro Educador (2019), visamos identificar como atuam as “pedagogias das ausências”, as quais partem de uma lógica monocultural, determinando quais conhecimentos são rejeitados e tornados invisíveis. Além disso, pretendemos vislumbrar possibilidades de abordagens baseadas em “pedagogias das emergências”, que almejam as construções de outros mundos possíveis,substituindo “o vazio do futuro segundo o tempo linear por um futuro de possibilidades plurais, concretas, simultaneamente utópicas e realistas, que vão se construindo no presente mediante atividades de cuidado” (GOMES, 2019, p. 37). Neste contexto, o GIL, se apresenta como um horizonte possível, no qual teoria e prática se entrelaçam na construção de um espaço coletivo de exercício político, ético e artístico. Lançando mão de cosmopercepções afrodiaspóricas e de práticas artísticas experimentais, o grupo estabelece enquanto seus vetores de atuação, o enfrentamento estético e a defesa da pluriversalidade nos espaços acadêmicos.

PALAVRAS-CHAVE: Improvisação livre; estudos decoloniais; pedagogias da emergência; racismo epistêmico; musicalidades afrodiaspóricas