Uma cena inusitada chamou a atenção de quem passou pelo hall do Centro de Tecnologia (CT) da UFSM nesta terça-feira (10): um carro estacionado no meio do hall do prédio 07, personalizado com adesivos verdes e marcas de empresas e agências financiadoras de pesquisa. Trata-se de um veículo de combustão a hidrogênio – o primeiro do Brasil a utilizar essa nova tecnologia – convertido no Laboratório de Motores do GPMOT, na UFSM, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica.

A conversão para propulsão a hidrogênio faz parte do trabalho de conclusão do estudante Augusto Graziadei Folletto, do curso de Engenharia Mecânica, intitulado “Adaptação e calibração de um veículo à combustão interna, usando hidrogênio como combustível”. Augusto faz parte do Grupo de Pesquisa em Motores Combustíveis e Emissões da UFSM (GPMOT) e foi orientado pelo professor Mario Martins, e coorientado pelo professor Thompson Lanzanova, ambos do Departamento de Engenharia Mecânica.
O veículo (modelo Fiat Siena) mantém todas as características de fábrica, mas sua fonte de energia é o hidrogênio, uma alternativa possível aos combustíveis convencionais. O veículo movido à hidrogênio adaptado na UFSM mostra que é possível alcançar um powertrain com emissões de poluentes virtualmente zero, cujo único subproduto é água ou vapor d’água no escapamento.
A pesquisa se insere no âmbito do Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística, parte da estratégia elaborada pelo Governo Federal para desenvolvimento do setor automotivo no país. O veículo convertido é resultado de vários projetos do GPMOT e teve financiamento de diversas instituições de pesquisa – CNPq, Finep, Fapergs -, em especial o projeto “Desenvolvimento de Motor Automotivo Movido a Biohidrogênio para o Mercado Brasileiro”, financiado pela Chamada Pública nº 3/2021 do Programa Rota 2030 da FUNDEP, em parceria com as empresas Marelli e TCA-HORIBA, coordenado pela professora Nina Paula Gonçalves Salau, do Departamento de Engenharia Química.
Como o projeto está na vanguarda do setor de transportes, também contou com patrocínio de diversas empresas do setor automotivo, como Marelli e TCA-Horiba. Por meio de um acordo de cooperação técnica, a empresa Fueltech também apoiou de forma muito importante, dando suporte técnico e fornecendo o sistema de controle do motor.
O professor Mario Martins destaca que o hidrogênio, quando produzido de origem renovável (como o hidrogênio verde), é uma excelente alternativa em substituição aos combustíveis fósseis como gasolina, diesel e gás natural. Embora tecnicamente viável, tanto em células a combustível quanto em motores de combustão interna para hidrogênio, a presença no mercado de veículos movidos a hidrogênio ainda é limitada por fatores econômicos e estruturais. “A adoção em larga escala depende principalmente da expansão da produção, do armazenamento e da rede de distribuição do hidrogênio”, afirma Mario.
Veículos a hidrogênio tendem a se tornar mais comuns
O professor acredita, entretanto, que veículos a hidrogênio poderão se tornar mais comuns entre 2030 e 2040, acompanhando a maturação tecnológica e o crescimento da oferta de hidrogênio renovável: “Nos próximos anos, espera-se uma forte expansão da chamada ‘economia do hidrogênio’, impulsionada pela descarbonização industrial e pelo uso crescente desse combustível em setores como siderurgia, transporte pesado e geração de energia. À medida que a infraestrutura se consolida e os custos de produção de hidrogênio verde diminuem, a tendência é que ele também avance no transporte leve e chegue a aplicações domésticas, como fogões e sistemas de aquecimento de água.”
Após a conversão, segundo o professor Mário, há etapas subsequentes no desenvolvimento do veículo. O projeto já demonstrou que é possível a conversão de um modelo de veículo mais antigo (retrofitting), e o objetivo futuro é passar para a conversão de um veículo mais moderno.
A pesquisa desenvolvida no GPMOT é mais uma de diversas iniciativas do Centro de Tecnologia da UFSM que buscam contribuir para o desenvolvimento de alternativas aos combustíveis fósseis. O CT possui uma equipe de competição de protótipos movidos a hidrogênio (Bombaja H2), projetos de geração de energia elétrica em células a combustível, movidas a hidrogênio, entre outras pesquisas premiadas e publicações na área.
Em estreita colaboração com a indústria automotiva nacional, as pesquisas do GPMOT impulsionam o setor automotivo e de mobilidade ao criar soluções veiculares mais eficientes e sustentáveis – como motores avançados, combustão limpa, hidrogênio e biocombustíveis – ao mesmo tempo em que oferecem à indústria dados técnicos, inovação aplicada e profissionais altamente qualificados. Essa integração entre ciência, experimentação e desenvolvimento tecnológico contribui diretamente para acelerar a transição para uma mobilidade limpa, de baixo impacto ambiental e competitiva para o transporte, a logística e setores estratégicos da economia.
Texto e foto: Subdivisão de Comunicação do CT/UFSM, com informações do GPMOT